shades of 𝙧𝙚𝙙 • sun.ric

• 05 •

O sol nasceu novamente. Um olhar distante, entristecido.

Eric estava deitado de lado, à beira da cama. Seus ombros expostos apesar do frio. As cenas da noite anterior rodavam sem parar em sua mente. Desde a queda por cima do corpo alheio até o soar da voz doce através da porta.

ㅡ Merda ㅡ praguejou com sua voz chorosa, deitando de barriga pra cima.

Encarava o teto com uma expressão de dor. Seu antebraço por cima da testa. De fato algo doía. Os cenários testemunhados por si pareciam passar diantes dos seus olhos, como se aquele teto acima de si fosse uma espécie de slide que reproduzia tudo centenas de vezes. As lágrimas escorriam lentamente, chegando aos seus ouvidos. Ah, como ele queria ser diferente.

De uma forma ou de outra, ele teria que encarar os próximos capítulos. Aquilo pesava, mas ele continuou se encorajando durante o resto da manhã. Mesmo enquanto engolia o choro quando sua vizinha lhe perguntou se ele estava bem, como sempre fazia. Mesmo enquanto forçava um sorriso dolorido para o rapaz que atendia na padaria. Ele sentia uma insegurança sufocante, que preenchia cada parte do seu interior, mas não deixava de repetir para si mesmo que deveria deixar o tempo passar, e que em breve tudo aquilo seria apenas passado. Pensou que o melhor a se fazer, sem dúvidas era deixar tudo de lado e esquecer. Imaginava que somente assim viveria em paz.

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O pôr do sol pareceu ter demorado mais a aparecer.

Eric estava sentado na calçada. Uma flor amarela em suas mãos. Sua mente estava mais calma. Àquela hora só havia lhe restado um pouco de tristeza e pensamentos bagunçados. Encarava aquela flor há minutos, sabe-se lá quantos. Quando levantou a cabeça novamente, a rua diante de si, que comumente era movimentada por pessoas de todas as idades, parecia deserta. Não por falta de incontáveis pessoas, mas pela ausência de uma única só.

E mesmo após o cair da noite, a situação não mudou.

Meia noite. Luzes apagadas.

Eric rabiscava. O desenho era uma fogueira. Seu olhar voltou à janela. A rua completamente silenciosa lhe dava nos nervos ao invés de lhe trazer calma.

Fique calmo, Eric... ainda há tempo.

O significado do desenho talvez ele nunca conseguisse admitir em voz alta, mas era sobre a noite anterior. Antes de começar a deslizar a lapiseira sobre o papel em branco, havia fechado seus olhos e respirado fundo. Seu subconsciente projetou a imagem de uma chama. A chama era seu sentimento. Aquele sentimento que o queimou quando fitou os olhos profundos de um garoto rodeado de problemas e poesias fora de hora. A chama da curiosidade e necessidade de adrenalina. Eric não tinha certeza, mas foi quase como se tivesse se sentido vivo.

Uma da madrugada. Lençóis já cobriam o seu corpo.

Mas ele não conseguia dormir.

Virava de um lado para o outro. Em vão. Sua mente não conseguia ficar em silêncio. Ele fitava a janela e então fitava o teto, depois mudava de posição e assim o fez por várias vezes consecutivas.

Deitado de lado, um pensamento lhe sussurrou: ele não vem. Mas aquilo não o fez se conformar, apenas acabou piorando. Ele se sentia sozinho.

Aos poucos o sono foi o tomando, mas antes que pudesse fechar os olhos, um som estranho estalou em algum lugar, mas não dava para se saber bem o que era. Eric suspirou, mas acabou rindo tristemente. Sua janela ficava a três passos de sua cama, sua imaginação o levava às histórias românticas onde o cara legal jogava pedrinhas contra a janela da moça que gostava.

Mas não houve qualquer outro som mesmo após o passar de mais de dois minutos. Sentiu-se bobo por, mesmo sem perceber ㅡ ou conseguir admitir, ter tido um pouco de esperança.

Virou seu corpo para o lado, seus olhos fixos no brilho das estrelas através da vidraça. O céu lindo, infinito.

Foi infinito.

A voz alheia rodeava suas memórias. Eric conteu um sorriso. Logo mais, o mesmo som atingiu novamente. Mas dessa vez, ele viu uma pedra atingir sua janela.