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Sunwoo lhe direcionou o olhar por poucos segundos logo desviando após conter uma risada, brincando com seu cadarço.

ㅡ Agora me assusta o quanto você pode saber sobre mim...

Eric gargalhou, negando com a cabeça.

ㅡ Ei, relaxa. Na verdade, é tudo o que eu sei ㅡ confessou Eric, vendo Sunwoo assentir.

ㅡ Fora a minha queda, você quer dizer ㅡ Eric riu de novo. ㅡ Isso é injusto, você já viu praticamente um resumo da minha vida: desastre e meu primeiro nome.

ㅡ Falando nisso, por qual motivo você decidiu trombar com o dono do mercadinho. Só descobri seu nome porque o assunto ficou falado...

Sunwoo esforçou-se para lembrar, embora houvesse sido um evento recente.

ㅡ Oh, espere. Você fala como se eu tivesse feito de propósito, não foi bem assim.

ㅡ Ah, não? De acordo com os boatos, você olhava para cima... inclusive, eu acabei de te salvar numa situação nada diferente, portanto, acredito que não tenha forma de você desviar da verdade ㅡ argumentou Eric. Sunwoo ficou um tanto chocado, fingindo desgosto.

ㅡ As pessoas inventam demais.

ㅡ Então não era verdade?

ㅡ A verdade é que eu não olhava o céu ㅡ surpreendendo Eric, Sunwoo ficou em pé de repente com uma expressão heróica engraçada, como se fosse recitar um poema a qualquer momento. ㅡ Eu... olhava para o infinito. O infinito da beleza do céu. As incontáveis estrelas que cintilam. A imensidão do azul escuro sem fim ㅡ e expressou decepção. ㅡ O infinito está bem acima das nossas cabeças, nós é quem não valorizamos e então ele passa despercebido todos os dias. Não consigo entender o que se passa na cabeça de alguém que não admira isso.

Diferente do Eric esperava, Sunwoo havia argumentado de forma válida. Porém, Eric resolveu o refutar.

ㅡ Isso faz muito sentido ㅡ soava um pouco culpado. O que ele disse era surpreendentemente verdadeiro. ㅡ Mas digamos que isso não seja motivo para andar com a cabeça virada pra cima no meio do asfalto.

Eric riu, acabando por fazer Sunwoo sair do seu personagem poético e rir junto, voltando a se sentar.

ㅡ Realmente, eu sou muito bobo. Erro meu. Me surpreende que seja tão pé no chão, mas fico feliz que tenha entendido meu lado em parte.

ㅡ Acho que tenho meu jeito próprio de admirar o lado criativo das coisas sem me perder da realidade ㅡ brincava com os dedos das mãos.

Sunwoo o observou sem virar muito a cabeça, como se não quisesse que Eric percebesse seu olhar sobre ele. Mas descartou o disfarce não muito depois.

ㅡ Você é realmente surpreendente ㅡ acabou recebendo um olhar curioso de Eric. Os lábios entreabertos. A expressão inocente. ㅡ Realmente surpreendente...

Eric torcia para que a quentura em suas bochechas não fosse visível. Rapidamente voltou a olhar para frente, meio perdido. Droga, que sensação incômoda. A sensação de querer responder com confiança, mas de explodir se o fizer. A conversa como um todo havia sido estranhamente descontraída ao decorrer do tempo. Eric até havia se esquecido de sua timidez. Mas ao ver aqueles olhos profundos encarando seu rosto diretamente, perdeu-se de si. Uma chama de angústia acendeu em seu peito.

ㅡ Está tudo bem? ㅡ uma voz suave soou próximo a si. O tom de alguém que parecia querer perguntar algo, mas quisesse tomar cuidado. Eric foi surpreendido, não imaginou que Sunwoo fosse notar seu repentino desconforto. Ninguém nunca o fazia.

O moreno assentiu, embora tivesse uma expressão triste. Não ousava encarar Sunwoo diretamente de novo, infelizmente havia perdido a coragem e a calma anterior. Nesse momento, sentia na pele o porquê de não ter amizades de longo prazo. Havia chegado ali no impulso, querendo salvar Sunwoo, mas onde estava sua coragem aquele ponto? Foi como se uma tonelada de realidade houvesse caído sobre sua cabeça. Ele queria chorar.

ㅡ Me desculpa... ㅡ Eric reuniu forças para o encarar, não conseguiu se segurar, seus olhos já brilhavam. Sunwoo tinha uma expressão de preocupação em seu rosto, coisa que internamente deixou Eric um pouco pior. Se sentia estúpido.

E saiu dali da mesma forma que chegou: correndo sem pensar no que viria depois. Mas quando fechou a porta atrás de si e encarou a escuridão infinita do interior de sua casa, a realidade pareceu ainda mais pesada. E tudo pareceu congelar, ao mesmo tempo que fluía numa velocidade intensa. Congelado como sua expressão de angústia. Veloz como as lágrimas quentes descendo pelo seu rosto. Veloz como as batidas de seu coração. O que era lento, na verdade, eram as batidas na porta.

As batidas na porta.

A voz calma do outro lado, como se atravessasse uma parede rachada de vidro suavemente, sem precisar quebrá-la para abrir espaço.

Todos que correm aparentam ser covardes, não é? Bobagem. Isso nunca foi verdade. Sabe, você suportou sair de seu pequeno mundo e, mesmo que tenha sido por pouco tempo, foi um passo muito grande. Você não é covarde. Sua coragem na verdade foi como uma estrela cadente. Porque mesmo em sua curta duração, foi de uma existência infinita.

shades of 𝙧𝙚𝙙 • sun.ricOnde histórias criam vida. Descubra agora