shades of 𝙧𝙚𝙙 • sun.ric

• 02 •

Sua primeira reação após aquele choque foi voltar para dentro. Eric recuou alguns passos e até tropeçou levemente por conta da escuridão do quarto. Não imaginou que seria facilmente notado daquela maneira. Ele tinha de admitir, havia ficado envergonhado. Logo engoliu a seco, respirando um pouco para se recompor. Deixe de besteira, pensou consigo mesmo. E então caminhou para perto da janela novamente. Ele colocou as duas mãos sobre o apoio da janela e devagar espiou, mas ele não estava mais lá. Era um pouco esperado. Ou talvez não. Eric não sabia. Mas achava que era melhor assim.

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O dia amanhaceu novamente, claro, brilhante. Todas as manhãs, Eric sentia um pouco de falta da noite. A noite tem ar de serenidade, é mais fria, mais silenciosa. Ele apreciava isto.

Andava no corredor sem pressa alguma, escolhendo cuidadosamente quais produtos colocaria em sua cesta, pendurava no braço. Decidiu adicionar um vidro de picles junto a outros produtos, quando seu celular tocou. Eric retirou o telefone do bolso e cutucou o meio de seus óculos, os ajustando no rosto. Algo de telemarketing, logo ele desligou. Quando estava colocando o celular novamente em seu bolso, uma conversa no corredor de trás chamou sua atenção.

ㅡ Skate? Esse garoto danado, é a segunda vez que faz algo assim, você acredita? ㅡ estranhamente, seu tom não parecia de crítica. Ela falava com um tom descontraído, como se achasse cômico. Eric continuou escutando, parado no meio do corredor com os braços cruzados.

ㅡ Sério? Bom, o dono da barraquinha não ficou nada contente, gritou com o garoto e tudo. Parece que ele estava andando com umas compras no colo e foi derrubado.

ㅡ Oh, mesmo? Ah, que pena! Uma pena mesmo. Eu defendi Sunwoo da outra vez, mas se ele continuar assim vai ser difícil...

E então a conversa afastou-se o suficiente para se misturar aos outros ruídos diários que vinham da rua. Sunwoo. Então esse é seu nome. Eric não imaginou que algo o colocaria de volta em seu caminho, mesmo que de forma indireta. Era intrigante. O menino distraído de cabelos vermelhos que não parecia se preocupar com consequências. Que caos. Talvez ele fosse um pouco caótico.

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Meia noite. As luzes apagadas. O som do jazz nos ouvidos.

Mas dessa vez havia uma única luz. Eric acendeu o pequeno abajur em cima da mesa. A folha branca do caderno de desenho logo era preenchida por rabiscos. Um por cima do outro. Não havia forma, eram apenas rabiscos. Eric se sentia um pouco como essa imagem abstrata. Sem forma, sem definição.

A folha foi rasgada. Ele amassou o papel e jogou na cesta. Fracasso. Mas decidiu tentar novamente. Ao seu lado, a janela se encontrava aberta. Eric direcionou o olhar para fora e uma lembrança lhe percorreu.

Vermelho.

Rapidamente alcançou o lápis de cor vermelha. Já tinha uma ideia ótima a se traçar.

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Rabiscos aqui e ali. O lápis percorrendo o papel sem pressa. Eric dava uma olhada vez ou outra para o lado de fora, procurando uma inspiração para enfeitar o redor do garoto ruivo que desenhava.

Mais alguns minutos e estava pronto. Estava simples, mas bonito. Eric arrancou a folha e admirou de perto. Não lembrava do rosto do garoto, então aquela parte havia ficado como um borrão. De resto, o skate, a rua e as roupas enormes do ruivo estavam especificamente bem retratadas. Nada mal.

Eric enrolou a folha em formato cilíndrico. Estava prestes a procurar por uma fita adesiva para colcar o desenho em algum lugar do caderno, quando sua visão periférica captou um movimento atrás de si, ao longe, na rua. Ele virou e foi até a janela. Houve um arrepio instantâneo. Vermelho. Aquele jovem rapaz da noite anterior passava de skate novamente, aparentemente olhando para frente. Eric agiu sem pensar e correu para fora do quarto, descendo pelas escadas.

Chegando à porta da frente, abriu-a e deu uns passos à frente. Do lado direito, a não muitos metros de distância, ainda dava para ver o ruivo ao longe, chegando ao fim da rua. Eric sentia uma leve aflição. Porém, inesperadamente, o garoto deu meia volta e logo estava retornando. Eric perdeu o raciocínio. Não sabia se entrava novamente ou se continuava ali, deixando claro que estava observando um desconhecido. O que ele faria? Iria se esconder? Ele não queria fazer isso, mas ao mesmo tempo não ousaria ficar ali tão descaradamente.

No impulso, decidiu voltar para dentro. Mas antes de fechar a porta totalmente, espiou um pouco pela brecha de pouco mais de três centímetros. O garoto passou bem na frente de sua casa, os cabelos vermelhos ao vento. Sua áurea de liberdade exalando. Era magnífico. Ele sorria para o céu enquanto transitava do lado direito para o esquerdo da rua. No final da rua, deu meia volta, como havia feito antes. Eric havia se perdido na imaginação, quando viu um carro surgir de uma pequena rua quase em frente. O garoto sorria para o céu. O garoto sorria para o céu? Para piorar tudo, o carro preto havia parado quase no meio da rua, esperando para se encaixar na rua principal. Ele o veria? Ou ainda estaria distraído por conta das estrelas? Daria tempo do carro sair da frente antes que o ruivo desse de cara com ele?

O carro não saiu. Sunwoo surgiu. Ainda admirava as estrelas. Eric temeu que não houvesse tempo. Sem pensar, ele saiu correndo. O coração batendo forte. Um choque entre corpos. Um baque. Eric por cima. Sunwoo estava salvo.