Em uma tarde calorosa, Najiha saiu do trabalho e fez um passeio pela praia logo em frente. O céu estava lindo; o horizonte tinha um tom alaranjado, mesclado com nuances em rosa e violeta; e, o vento soprava, generoso. Sentou-se na areia para admirar a paisagem e pensar na sua mãe. Estava muito saudosa.
Em um momento de descuido, o lenço estampado, que cobria sua cabeça, foi levado pelo vento. O acessório voou longe, com a força da ventania. Correu atrás, mas não o alcançou. Instantes depois, repousou no mar Mediterrâneo.
Um rapaz que passava, percebeu a situação e em um gesto gentil, entrou na água para resgatar o torço.
- Obrigada!
- Sorry... I do not speak arabic.
Najiha sorriu, e continuou em inglês.
- De onde veio? - perguntou, enquanto torcia o tecido.
- Alemanha.
- Obrigada, senhor...
- Frederico Müller - respondeu, sem interesse. - Mas pode me chamar de Fred.
- Obrigada, então, Fred - falou, em alemão.
Ao ouvi-la falar, com um forte sotaque árabe, a observou com atenção. Viu quão linda ficava, banhada pelos raios corais do pôr do sol. Sua pele caramelada, reluzia; seus lábios, rubros e carnudos, eram um convite para a paz; e o seu olhar, extremamente profundo e marcante, o conquistou com intensidade. Após uma pequena pausa, disse:
- Ainda não sei o seu ...
- Najiha Benyaich.
- É um prazer - disse, desconcertado. - acho que não é muito seguro uma jovem bela como você andar por aí sozinha! Poderia acompanhá-la?
- Não se preocupe. Aqui é tranquilo. Além disso, não é pertinente. Lamento.
Frederico já estava enfeitiçado por sua coberta beleza e encanto. Ficou apavorado com a sensação de, talvez, não vê-la nunca mais. Precisava agir para que não se fosse sem deixar rastro.
- Antes de ir... por favor, me diga: como aprendeu inglês e alemão?
Ela o fitou, surpresa com o interesse.
- Estudei línguas quando criança. Hoje trabalho em um hotel como recepcionista e intérprete.
Cruzando os olhares, Fred retrucou:
- Fala muito bem!
- Obrigada!
Os dois riram.
Frederico tentava alongar a conversa o máximo que podia enquanto andavam pela praia. Da mesma forma, ela diminuía o passo para que demorassem a chegar até a orla.
- Você consegue ver aquele navio no mar? - perguntou, apontado para o oceano.
Apesar de existirem quase uma dezena de cargueiros nas águas, a jovem respondeu que "sim".
- Lá é meu trabalho. Sou um oficial de máquinas.
- Que bom que disse. Não era justo que tivesse mais informações a meu respeito do que eu sobre você.
- Gostaria que soubesse muito mais a meu respeito do que pode imaginar e adoraria conhecê-la melhor!
Ela corou.
- Acho que fui injusta. Eu ainda estou em vantagem: sei seu nome, sua profissão e onde você trabalha. Não lhe disse, no entanto, onde eu trabalho. Vê aquele prédio logo ali? - disse, apontando. - É o hotel em que trabalho. Saio de lá sempre às 15 h.
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Virtus
RomanceSalma é uma jovem bem-sucedida, em uma fase excepcional da vida. Prestes a casar-se com Heitor, o homem dos seus sonhos, é escolhida para presidir o conceituado escritório de advocacia em que trabalha. Realizada afetiva e profissionalmente, não espe...