Capítulo 6 - Fugitiva

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Em uma tarde calorosa, Najiha saiu do trabalho e fez um passeio pela praia logo em frente. O céu estava lindo; o horizonte tinha um tom alaranjado, mesclado com nuances em rosa e violeta; e, o vento soprava, generoso. Sentou-se na areia para admirar a paisagem e pensar na sua mãe. Estava muito saudosa.

Em um momento de descuido, o lenço estampado, que cobria sua cabeça, foi levado pelo vento. O acessório voou longe, com a força da ventania. Correu atrás, mas não o alcançou. Instantes depois, repousou no mar Mediterrâneo.

Um rapaz que passava, percebeu a situação e em um gesto gentil, entrou na água para resgatar o torço.

- Obrigada!

- Sorry... I do not speak arabic.

Najiha sorriu, e continuou em inglês.

- De onde veio? - perguntou, enquanto torcia o tecido.

- Alemanha.

- Obrigada, senhor...

- Frederico Müller - respondeu, sem interesse. - Mas pode me chamar de Fred.

- Obrigada, então, Fred - falou, em alemão.

Ao ouvi-la falar, com um forte sotaque árabe, a observou com atenção. Viu quão linda ficava, banhada pelos raios corais do pôr do sol. Sua pele caramelada, reluzia; seus lábios, rubros e carnudos, eram um convite para a paz; e o seu olhar, extremamente profundo e marcante, o conquistou com intensidade. Após uma pequena pausa, disse:

- Ainda não sei o seu ...

- Najiha Benyaich.

- É um prazer - disse, desconcertado. - acho que não é muito seguro uma jovem bela como você andar por aí sozinha! Poderia acompanhá-la?

- Não se preocupe. Aqui é tranquilo. Além disso, não é pertinente. Lamento.

Frederico já estava enfeitiçado por sua coberta beleza e encanto. Ficou apavorado com a sensação de, talvez, não vê-la nunca mais. Precisava agir para que não se fosse sem deixar rastro.

- Antes de ir... por favor, me diga: como aprendeu inglês e alemão?

Ela o fitou, surpresa com o interesse.

- Estudei línguas quando criança. Hoje trabalho em um hotel como recepcionista e intérprete.

Cruzando os olhares, Fred retrucou:

- Fala muito bem!

- Obrigada!

Os dois riram.

Frederico tentava alongar a conversa o máximo que podia enquanto andavam pela praia. Da mesma forma, ela diminuía o passo para que demorassem a chegar até a orla.

- Você consegue ver aquele navio no mar? - perguntou, apontado para o oceano.

Apesar de existirem quase uma dezena de cargueiros nas águas, a jovem respondeu que "sim".

- Lá é meu trabalho. Sou um oficial de máquinas.

- Que bom que disse. Não era justo que tivesse mais informações a meu respeito do que eu sobre você.

- Gostaria que soubesse muito mais a meu respeito do que pode imaginar e adoraria conhecê-la melhor!

Ela corou.

- Acho que fui injusta. Eu ainda estou em vantagem: sei seu nome, sua profissão e onde você trabalha. Não lhe disse, no entanto, onde eu trabalho. Vê aquele prédio logo ali? - disse, apontando. - É o hotel em que trabalho. Saio de lá sempre às 15 h.

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