Capítulo 1 - O vestido

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As escadas pareciam não ter mais fim. Salma corria desajeitada pelos corredores do tribunal com um salto que insistia em sair do seu pé direito. Temia escorregar no encerado piso de mármore bege que revestia o chão. Naquele momento, a talentosa advogada não passava de uma noiva apaixonada. E como todas as noivas apaixonadas, sonhava profundamente com cada detalhe do grande dia.

Enfim, chegou ao hall de entrada. Quando passou pela porta, um vento frio invadiu-lhe o rosto e logo percebeu que uma fina chuva caía em São Paulo. As pessoas na rua estavam molhadas e usando sombrinhas. O sol já havia se posto e no máximo em trinta minutos a Jeune Mariée fecharia.

Ela olhava para um lado e para outro freneticamente. Ofegante, tentava encontrar o celular que, com certeza, estava em algum lugar da bolsa. Precisava ligar para Luci, sua melhor amiga.

Quando, afinal, conseguiu encontrar o maldito telefone, escutou uma voz a chamando do outro lado da avenida.

– Salma, aqui.

– Oi, Luci – disse, aliviada.

Luci protegia-se da chuva em uma marquise do prédio em frente. Ao avistá-la, atravessou a rua em meio aos carros que desaceleravam diante do semáforo vermelho. Sabia que sua amiga estava atrasada e precisavam pegar um táxi o mais rápido possível. Além disso, também sabia que na agenda apertada da advogada, esta seria uma chance única de provar aquele vestido que já consumira tanta energia emocional das duas.

Salma viu um táxi aproximando-se. Com um gesto desesperador, não perdeu a oportunidade e o parou, de imediato. As duas entraram ao mesmo tempo, uma por um lado e a outra por outro.

Imaginando tratar-se de duas clientes distintas, o taxista disse com um sotaque árabe:

– Senhoritas, vocês precisam decidir qual das duas deverei levar.

Toda angústia e ansiedade pela qual passavam se dissipou e as duas caíram na gargalhada. O taxista continuou sem entender.

– Senhor, estamos juntas e marcamos de nos encontrar aqui – falou a advogada.

O homem olhou para trás e falou, espantado:

– No meu táxi?

Não se contiveram e riram mais uma vez, em seguida, Salma esclareceu:

– Sim... quer dizer, não. Na calçada em frente ao tribunal.

– Acontece que o seu táxi parou no exato momento em que íamos nos encontrar – interrompeu Luci.

Lembrando-se da pressa, Salma continuou:

– Senhor, precisamos que nos leve com urgência até a Haddock Lôbo.

– O que nesta cidade não é urgente? – retrucou o taxista.

A jovem noiva tinha hora marcada com a costureira, que guardava os mostruários quando entraram na loja, angustiadas.

– Sra. Tereza, desculpe-nos o atraso! Por favor, diga que ainda há tempo de nos atender.

A voz humilde da advogada convenceu a modista que, no mesmo instante, colocou a caixa com as amostras de acessórios em cima da mesa.

– O vestido está pronto. Falta apenas decidirem quais botões serão utilizados para o fecho e qual tiara você usará.

Após olharem tantas opções, Luci arregalou os olhos e falou, balançando a cabeça:

– Assim não dá! Hã... hã... não dá!

– Não gostou de nenhuma opção? – perguntou a costureira.

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