Capítulo 7 - O caso

9 3 0
                                    

O sol nem havia nascido e Salma já estava de pé. Tudo indicava que essa segunda-feira seria diferente das demais. Desejava ser a primeira a chegar ao escritório para contemplar um pouco do desafio que estava prestes a assumir.

Entrou no elevador com o aspecto altivo. Apertou o número dezoito e viu a porta fechar devagar. Sentiu seu corpo ser erguido pela engenhoca enquanto olhava para o painel, na parede direita, e pensava nos diversos departamentos que havia em cada um daqueles andares. Entendeu, pela primeira vez, que sua dedicação não seria mais restrita aos seus casos, mas a toda máquina da empresa. Se relacionaria com os diretores, sócios, conselheiros e os mais de cento e cinquenta advogados. Seria um desafio e tanto.

Abriu a porta da sala, apreensiva. Ateve-se a olhar o horizonte pela vidraça em um momento de reflexão. Fez uma prece pedindo forças e coragem para superar suas fraquezas. Depois que abriu os olhos, viu os primeiros raios solares, surgindo, sem força e lentamente. Logo amanheceria. A iluminação da cidade vista do alto era linda, ainda mais mesclada com os incipientes raios dourados do sol.

Perdida em seus pensamentos, encostou-se à mesa. Foi quando o singelo momento de meditação foi interrompido por barulhos de passos femininos, vindos do corredor. Surpresa, virou a cabeça para escutar melhor e ter certeza que não estava ouvindo coisas. Quem mais estaria tão cedo no escritório? - questionou-se.

Desencostou-se da mesa e foi em direção à porta. Olhou para um lado e para outro do corredor. Não viu ninguém. Seguiu em frente e caminhou alguns metros. Dobrou o corredor. Entrou na pequena copa e nada. - Estou muito estressada - pensou.

Voltou para sala e sentou-se. Não demorou e mais uma vez ouviu um ruído, mas agora, era uma voz masculina.

- Não! Há mais alguém aqui! Ainda não estou maluca! - constatou, em alta voz.

Controlou a respiração, aguçou os sentidos e tentou ouvir quem falava e de onde vinha o som. Para seu espanto, percebeu que a voz parecia com a de Heitor.

Levantou-se e foi à sala dele.

Sorriu, ao vê-lo. Ele estava lá, concentrado em meio a vários papéis.

Deu três batidas, o que não foi suficiente para levantar o seu olhar. Ainda de cabeça baixa, ele falou:

- Conseguiu achar o documento?

Salma mexeu a cabeça.

- O que disse, querido? Que documento?

Heitor levantou o rosto, assustado.

- Querida, você já chegou?

- Sim. Com quem achava que estava falando? E a que documento se referia?

Encarando-o, percebeu seu queixo contraindo-se.

Ele sorriu.

- Pensei que fosse Margarida.

- Sua secretária ainda não chegou. Parece que não está feliz em me ver? O que faz aqui tão cedo?

Prestes a responder, Bárbara, a secretária do dr. Victor, entrou na sala com alguns papéis na mão.

- Bárbara?!

- Bom dia, dra. Salma. Gostaria de lhe dar um recado: dr. Victor pediu que assumisse um cliente importante. Trata-se de um divórcio e parece ser de alguém famoso. Ele estará aqui hoje, às nove horas.

- Divórcio? Dr. Adamatti, sabe que essa não é mais minha especialidade! Não trabalho com direito de família há muito tempo.

- Lamento, mas minha função era lhe dar o recado - acrescentou, retirando-se da sala.

VirtusOnde histórias criam vida. Descubra agora