8: Procurando Sebastian

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Deitado na grama, Gabriel estava meio acordado e meio ébrio. Nunca bebeu tanto em sua vida. De seu pescoço brilhou uma luz vermelha em forma de uma flor. Sua mente o puxava pra uma visão estranha…

A visão do purgatório.

Pessoas estavam se mordendo e tudo era uma bagunça de carne, criaturas escuras, o crepúsculo vermelho e uma chuva fina com direito a trovões. Estava aflito, olhando pros lados, o corpo molhado e banhado de sangue. O som estridente da guerra, o barulho dilacerante de ossos quebrando e carne rasgando, junto com o cheiro persistente de sangue trazido do vento frio, fazia sua nuca se arrepiar e toda sua figura tremia.

Buscava por alguém, por uma luz, qualquer iluminação que o fizesse entender o que estava acontecendo. E era tudo muito real, muito agoniante. Sentia na pele o desespero, não seu, mas das criaturas na lama se estilhaçando. Ele voava sob a terra, não sabia como, mas não sentia nada como o chão em seus pés. Era um telespectador assistindo a cena de um massacre.

Não foi até que ao longe viu uma luz roxa. Um homem empoleirado em uma torre, seus cabelos brilhando em um azul claro, lançava uma luz para a terra e iluminava todo aquele caos.

Logo outra cena lhe aparecia, um lugar difícil de respirar onde estava de joelhos, cabeça baixa, a testa rompida. Se via então, ser consumido por chamas negras, seu corpo todo ardia, bolhas cresciam, a carne ficava exposta. Todo seu corpo se rasgava em buracos, até não sobrar nada do que sentir. Até perder-se na escuridão completa, aquela fria e gélida que lhe dava alguma anestesia da dor sentida.

Ele se levantou abruptamente da grama em um salto e olhou ao redor procurando alguém.

Procurando Sebastian.

Sentou-se confuso, o coração em descompasso. O que ele viu agora?

Foi um pesadelo.

Certo, foi um pesadelo, ele ainda sentia seus membros.

Gabriel respirou aliviado vendo que sua pele estava intacta.

Mas para onde fora Sebastian?

Ainda estava no campo, tudo estava calmo e silencioso. Tranquilo até demais. Seu corpo não estava com bolhas, estava em bom estado como antes de começar a beber o vinho com Sebastian, só que o demônio já não se encontrava à sua vista.

O desenho da flor vermelha desapareceu de seu pescoço e ele coçou a nuca. Nunca sentiu tanto desespero quanto no sonho que teve agora. Mas isso não importava, precisava procurar Sebastian.

Agora compreendia, Sebastian o embebedou enquanto conversavam e o fez descuidar de sua vigia, depois que ele dormiu o outro sumiu. Com certeza estava aprontando algo. Aquele maldito demônio… se ele estivesse fazendo algo… aí dele!

Olhou pra jarra de barro caída no chão e se levantou, ainda um pouco tonto, devido a bebida. Mas estava em condições de andar. Tinha quase certeza de para onde estava indo, guiado por algum tipo de direção que seu consciente bêbado indicava.

✧✯✧

No fundo da floresta, em meio às árvores e rodeado de uma fina névoa, a figura de cabelos negros podia ser vista. A noite estava fria, seus cabelos mais compridos e o cheiro de sangue o rodeava.

Ninguém mais que Sebastian, ninguém menos que ele. Estava de pulsos cortados, abaixo do braço que pingava vermelho puro estava uma estátua enferrujada que se banhava de ouro a cada gota de sangue que recebia. Já pálido, Sebastian revelava uma expressão vazia, mas concentrada no que estava fazendo.

Era escuro e o sangue pingava. Era noite e uma formação em vermelho se ascendia ao redor de Sebastian. Estava frio e uma voz o chamou, exasperada:

– Sebastian!!

Herege Das Trevas (Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora