Lúcifer.

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O anjo caído dos céus que enfrentou com tanta bravura um sistema injusto sem ternura. Como poderia eu ser semelhante a ele? Uma pergunta válida nos sentidos seus, inválida, no entanto, aos sentidos meus. Sentidos de sentimento de culpa e compaixão que me expulsarão do paraíso artificial da criação.

Ambos vivem uma mentira, ele e eu, eu e mim. Como podem seres tão diferentes porém tão parecidos em suas dores angustiantes de serem si próprios. Ser quem você é sempre foi e nunca será tão parecido com seguir o destino que te foi proposto.

Música! Música! Atenção ao show de bobos da corte, os homens com máscaras chegaram!

Máscaras que não cobrem nem ao menos metade de sua cara, tolo, burro, idiota, não vê que essa máscara inútil do seu falso paraíso não serve de nada?

Ridículo, diria eu, em sua posição de observador no anonimato, se diverte com a dor de meu coração, ri das palavras que não fazem sentido para você, é calro que ri, você não faz ideia de nada, não é mesmo?

Meu corpo treme e eu morro freneticamente enquanto olho para o céu de meu paraíso falso. Rio sem rir, sem motivos para sentir.

Quem dera o prazer de dormir novamente fizesse parte de mim, nem isto Julho deixou para trás, levaste tudo embora contigo, algum dia voltarei a respirar?

Ora, quanta melancolia! Deixe para trás o passado pois te pertence o futuro, eles dizem, ah que bobagem! Como se o futuro fosse isso tão previsível ao ponto de me pertencer! Ridículo. Essas crianças horrendas mal sabem o que falam mas se sentem melhor do que outras por prêmios de academias sem sentido, quanto mais me afundo mais percebo o quão certo estou em afundar.

Não me procure, não é da sua conta. Setembro sempre foi meu mês favorito, sabe? Não que se importe, ele é o mês do nascimento de Julho, incrível não? Apenas alguns meses e teria meio século a completar, uma pena realmente.

Que curto seria o capítulo se eu fosse alguém como qualquer outro, que sem graça seria ser como qualquer outro, o quão bom seria ser como qualquer outro?

Pensamentos cada vez mais sem sentidos que aparecem na tela do aparelho de dependência emocional. Fazem sentido para você? Devem fazer, não é? Está aqui lendo toda essa peça rabuscada.

Olhe lá vem ele de novo me encarando de cima!

O que ele vai fazer? Ah, aquilo novamente, sem criatividade.

Ignore, ignore este pensamento tolo, ele não lhe convém. Sabia que a solidão é um sentimento de auto-defesa que saiu pela culatra?

Interessante não? Auto-sabotagem ser tão antiga quanto as pirâmides do Egito. Não, não, tão antiga quanto a escrita. Ah, errei novamente, é isso que faço, erro, erro, erro, erro, repetidamente errando, que patético, observador.

Deixaram a porta aberta, que inferno, levantar e fechar aquilo nem eu abri, mas acho que a vida se faz de coisas assim, não é? Viver para os outros, ser pisado, cuspido, humilhado, tudo em troca de um paraíso após o fim.

Vocês se esquecem que o fim é o fim.

Fim.

O Trauma de Ser Quem SouOnde histórias criam vida. Descubra agora