Capítulo 2 - Pedro

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PEDRO FALCÃO

"Quando você entrou o ar foi embora

E toda sombra se encheu de dúvida

Eu não sei quem você pensa que é

Mas antes que a noite acabe,

Eu quero fazer coisas más com você.(...)"

(Jace Everett – Bad Things – Coisas más)

 

 

Cheguei ao Falconetes com Heitor e o local já estava movimentado, bem cheio devido à estreia da nova cantora contratada pela casa. Segundo corriam os boatos, finalmente Abigail havia conseguido fechar com uma boa artista, que animaria o restaurante nos finais de semana.

Enquanto cumprimentávamos conhecidos e íamos ocupar uma mesa, eu reparei como meu irmão olhava em volta com atenção e imaginei quem ele procurava. A cantora. Eu conhecia Heitor bem demais para saber que o que Dalila tinha falado sobre ela no sábado passado o tinha deixado alerta e preocupado, embora não tivéssemos mais comentado sobre o assunto.

Se fosse honesto comigo mesmo, confessaria que também estava um pouco incomodado. Dalila era certeira em suas premonições e, embora eu não acreditasse naquelas coisas, tinha tido provas no passado de que o que ela dizia se concretizava, sem nenhuma exceção. No entanto, não perdi meu tempo com aquilo. Só naquele momento lembrei o ocorrido.

Minha mente regrediu até a despedida de solteiro de Micah ali, há uma semana, quando chegamos ao local animado e eu havia indagado:

- Cadê as dançarinas?

- Ela vai chegar. – Dalila tinha dito de repente, enquanto nos servia uma cerveja.

Estava com aquele olhar parado e arregalado que não parecia dela, fixo em mim, o rosto pálido.

- Você quis dizer "elas". Ou é uma dançarina só? – Perguntei, olhando-a com atenção.

- Não é a dançarina. É a cantora.

- Vai ter cantora aqui hoje? – Observei, cauteloso. – Dalila?

Seus olhos arregalados foram de mim para Heitor e disse baixo, mas ouvimos no meio da balbúrdia:

- Ela está chegando. E vai mudar a vida de vocês. – Seus lábios tremeram, sua expressão ficou mais carregada, quase choramingou: - Mas traz muita dor com ela. Muito desespero. E essa dor vai tocar em vocês.

- Dalila ... – Heitor se inclinou sobre o balcão e segurou sua mão, preocupado.

- Heitor ... – Seus olhos encheram-se de lágrimas. – Prepare-se para ela. Vai mudar a sua vida. E a de Pedro. Só o amor pode curá-la, Heitor. Só muito amor.

Todos ficamos calados, tensos. Por fim, ela pareceu despertar e piscou. Deu um passo para trás, respirando fundo, nervosa. Soltou-se da mão de Heitor, olhou para mim e depois para ele de novo. Murmurou:

- Estarei aqui, se precisarem de mim. – E praticamente afastou-se correndo.

- Que merda foi essa? Uma premonição? – Eu me senti meio nervoso. – Não gosto dessas coisas.

- Dalila nunca erra. – Nosso irmão Joaquim falou, preocupado.

- Nunca erra. – Concordou Heitor, seu semblante carregado, seus olhos acompanhando Dalila. Murmurou, quase que para si mesmo: - De quem será que ela está falando?

Rendida (Livro 4 da Série Segredos)Onde histórias criam vida. Descubra agora