HEITOR
Eu já tinha pedido a conta e pagado quando vi Pedro voltar, seu cenho franzido com uma ruga entre as sobrancelhas, sua expressão de poucos amigos. Levantei, guardando a carteira no bolso e sentindo falta do meu chapéu que deixei em casa. Às vezes sair sem ele era como sair nu. Corri os dedos entre os cabelos e indaguei, quando chegou perto:
- Que bicho te mordeu?
- É assim que me sinto mesmo, como se tivesse levado uma mordida. - Parou ao lado da mesa e me encarou. - Vai entender quando eu te mostrar.
- Mostrar o que?
- Vamos pro outro lado do salão, Heitor. Ela está lá.
- Ela quem? - Acabei dando uma risada. - Eu já devia ter imaginado que era uma mulher pra te deixar assim. Isso significa que não quer mais ir para Pedrosa?
- Em Pedrosa não tem essa morena. Porra, precisa ver que gostosa, irmão. Me deixou doido!
- Estou vendo. - Sacudi a cabeça. - Está certo, já que encontrou diversão pra hoje, vou embora.
- Hei, que desânimo é esse?
- Sei lá. Acho que nem devia ter saído de casa. - Dei de ombros, mas era verdade.
Embora gostasse de sair para tomar umas cervejas, conversar com amigos, arrumar namoradas, eu andava meio cansado daquela vida de solteiro. Talvez fosse pelo fato de ver meus outros irmãos casados ou prestes a casar, como Micah, com filhos, tendo alguém que os amava e cuidava deles.
Eu não era como Pedro, com pavor de relacionamentos sérios e que adorava trocar de mulher. Tinha minhas aventuras, mas de todos nós, sempre fui o que quis se ajeitar e formar família, curtir o carinho de uma esposa, poder segurar os filhos no colo. Com quase 38 anos, continuava solteiro. E só tinha me apaixonado uma vez na vida. Desde que Francesca faleceu, há 6 anos, eu não me interessei seriamente por mais ninguém e já começava a achar que não ia acontecer mais.
Quando Dalila fez sua previsão de que a nova cantora ia chegar e mexer não só com a minha vida, como a de Pedro também, cheguei a imaginar que talvez fosse a mulher que eu vinha esperando. Por um momento até tinha desejado que ela estivesse certa, que eu pudesse sentir de novo aquelas sensações únicas que só um homem apaixonado poderia sentir e que eu parecia ter enterrado com Francesca.
Talvez ainda acontecesse. Se eu conhecesse Brunela melhor, quem sabe me sentisse atraído. Por que, olhando para ela, nada tinha acontecido. Era apenas uma mulher bonita e aparentemente um pouco pedante. Meu irmão parecia decidido a nem chegar perto dela, enquanto eu só me sentia um pouco decepcionado por não ter me sacudido como eu esperava. Por isso estava um pouco desanimado e preferia ir embora.
- Qual é, Heitor? A noite ainda nem começou e quero que veja essa garota. Vai me dar razão, é gostosa até dizer chega.
- Tá certo, mas não vou demorar muito.
Concordei e o segui para o outro lado do salão, onde estava a tal morena dele. Olhei para o palco e Brunela continuava cantando bem, emendando uma música em outra, animando as pessoas que finalmente tinham um bom show. Observei-a, mas continuei indiferente. Fiquei curioso, sentindo vontade de trocar algumas palavras com ela, saber como me sentiria com um contato maior. Sim, era isso que eu faria.
Cumprimentei várias pessoas pelo caminho, parei em alguns momentos quando conhecidos me chamaram. Por fim, chegamos ao lado direito do palco e todas as mesas estavam ocupadas. Olhei para meu irmão.
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Rendida (Livro 4 da Série Segredos)
RomancePedro e Heitor Falcão são irmãos e grandes amigos. Sempre dividiram tudo, inclusive mulheres. Um é mulherengo e foge de relacionamentos; o outro é sedutor e romântico. Ambos pertencem à poderosa família Falcão, em Minas Gerais. Na pequena cidade de...