Baquetas

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Camila's Point of View

Eu não sei muito bem como deveria estar me sentindo depois do que aconteceu no domingo. 

Sendo bem sincera, eu não sei como deveria me sentir no geral. Todos os meus sentimentos estavam mais embaralhados e confusos do que nunca.

As coisas pareciam estar começando a dar certo, mas Hailee foi o balde de água fria que me trouxe de volta pra realidade.

Dois ou três dias bons não seriam suficientes para mudar minha realidade, muito menos mudar como me sinto em relação a mim mesma e à vida como um todo.

E isso, agora, estava mais claro do que nunca. Talvez eu tivesse me enfiado em um buraco que seria mais difícil do que imaginei pra sair.

Como se não bastasse, Lauren, nesse momento, era a cereja do bolo. Não de forma ruim, é claro. Mas isso não muda o fato de que a ansiedade estava me comendo de dentro pra fora.

Tudo relacionado a ela me desestabiliza de uma forma inexplicável. É como se eu tivesse voltado a ser uma adolescente, prestes a se apaixonar perdidamente. E não há nada que me assuste mais do que isso.

Como podem perceber, não sou muito boa com relacionamentos. E Hailee... bem, Hailee me destruiu da forma mais cruel que uma pessoa poderia destruir a outra.

Não sei se estou preparada psicologicamente para a possibilidade de passar por tudo isso de novo. E considerando, claro, que até o momento tudo não passa de uma coisa unilateral e platônica, o que pode ser pior ainda.

Suspirei, me jogando de costas na cama. Como sempre, o quarto estava tão escuro que era difícil até mesmo acreditar que era dia lá fora. O único ponto de luz era o display do ar condicionado e nada mais.

A escuridão me trazia uma estranha sensação de casa e de aconchego. Era quase como se até mesmo meus pensamentos mais obscuros fossem afagados, acolhidos e compreendidos.

Era a única hora em que minha mente se calava por completo, um lugar onde nem mesmo a culpa, os problemas e o medo podiam me alcançar.

Vi o visor do celular acender mais uma vez, o que me tirou outro suspiro. Depois de domingo, fiquei praticamente incomunicável, se é que me entende.

Um dos meus traços tóxicos é o fato de precisar me isolar quando algo que me magoa ou que me causa confusão acontece. Não me orgulho disso, mas também não é tão fácil me livrar disso... e olha que eu já tentei. E muito.

Talvez eu deva isso ao fato de nunca ter me sentido segura o suficiente em casa. Sempre precisei guardar tudo pra mim, minha mãe sempre teve que lidar com coisas demais e eu não queria ser mais um peso. Mas essa é uma história para outros carnavais.

Felizmente meus amigos já estão acostumados com os meus sumiços. Sabem que não faço por mal, apesar de já terem demonstrado que eu poderia contar com eles sempre que precisasse. E eu serei eternamente grata por isso.

Eu não os via desde o acontecimento. Não vi nem mesmo Jonah. Aproveitei essa semana para tirar alguns dias de folga, o que sinceramente é um milagre.

Não costumo tirar folga nunca, pois sempre preciso do dinheiro. Fazer parte de uma banda não é barato, como já devem imaginar.

E apesar do compromisso que firmei com minha mãe, ela achou que seria melhor tirar um tempo para colocar a cabeça no lugar.

Eu não poderia concordar mais, mesmo que "colocar a cabeça no lugar" não fosse uma afirmação verdadeira para o meu caso. Eu nunca conseguia colocar nada no lugar, muito menos a cabeça.

Hopes and DreamsOnde histórias criam vida. Descubra agora