Prólogo

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   A garota despertou solitária, seus olhos pesavam como pedra ao se abrirem. A visão turva revelava um cenário desconexo, uma lacuna em sua consciência que a deixava perplexa. Recém-abertos, seus olhos não conseguiram desvendar onde estava, nem mesmo podia recordar seu próprio nome. Deitada em uma cama improvisada sobre uma mesa, envolta por lençóis e uma coberta de pele de urso, cujo aroma não era nada agradável, ela sentiu a ausência desconcertante de seus sentidos.

  Do outro lado, o brilho de uma fogueira lançava uma luz quente, revelando armários e estantes que pareciam pertencer a um mundo estranho. Objetos desconhecidos ocupavam esses espaços, alguns em formatos e propósitos que escapavam à sua compreensão. Vidros e recipientes se destacavam, mas sua visão embaçada impedia qualquer identificação precisa. A incerteza pairava, adicionando um toque de drama à atmosfera, enquanto ela tentava decifrar os fragmentos de sua própria existência.

   Uma figura surgiu no seu campo de visão, muito próximo ao seu rosto. Um par de olhos de turquesa afastaram-se para observá-la com atenção. Apesar da visão embaçada, a garota, apertando os olhos, conseguiu discernir as características principais na silhueta masculina. Um jovem de estatura mediana, não exatamente alto, exibia cabelos loiros levemente volumosos que caíam até os ombros. Vestido com um jaleco longo, segurava uma prancheta sob os braços.

    Seu olhar inicial fixou-se na porta entreaberta, pela qual o loiro havia passado anteriormente. Sem que ele percebesse sua vigília, ela o empurrou para o lado e precipitou-se em direção à entrada. No entanto, ao dar o segundo passo na direção da luz que emanava da porta, seu corpo perdeu firmeza, oscilando para o lado. Seu pé torceu, e ela escorregou, experimentando uma súbita fraqueza que a dominou.

    O jovem de cabelos dourados expressava surpresa diante da movimentação brusca, mas agiu com agilidade ao se aproximar com destreza e segurar a garota pela cintura. Num meio giro, ele a carregou de volta para a cama com firmeza, mantendo um silêncio respeitoso.

    Ao notar a tentativa da garota de se levantar novamente, ele interveio, segurando delicadamente em seu joelho. Seu olhar, franco e firme, precedeu suas primeiras palavras.

  — Não repita isso. — Aconselhou, aplicando uma leve pressão em seu joelho. — Eu sou Albedo, o alquimista chefe dos cavaleiros de favonius. Estou aqui para ajudá-la.

    Em um suspiro curto, o rapaz denominado Albedo arrastou uma cadeira, posicionando-se de frente para a garota desconhecida. Pacientemente, ele aguardou que ela falasse, mas diante do silêncio  já esperado por ele, pigarreou e dirigiu-se a ela.

    — Enfrentamos um momento complicado. Se tiver dúvidas, estou à disposição para respondê-las. — Ele fez uma breve pausa, aguardando por alguma dúvida da garota, para então prosseguir. — Recomendo evitar esforços desnecessários, como o de tentar fugir. Seu corpo está no limite, e devemos evitar complicações. 

    Albedo fez uma pequena pausa, adotando uma expressão mais séria. 

   — Você foi encontrada inconsciente em meio a uma tempestade de neve. Por sorte, patrulhavam a área naquele momento. Caso contrário…

   Levantando-se, Albedo rapidamente recuperou a prancheta que deixara sobre a mesa anteriormente e reassentou-se. Com um olhar atento, anotou alguns detalhes na folha com sua caneta.

   — Consegue cheirar isto? — Perguntou, oferecendo um embrulho contendo algumas ervas, posicionando-o próximo ao nariz da garota. O aroma era pungente, quase insuportável. Ela não pôde evitar uma careta ao afastar a mão de Albedo.

   —  Interessante... — ele comentou consigo mesmo. — É crucial descartar a possibilidade de você estar com pneumonia. — Balançando a cabeça, ele continuou a escrever suas anotações.

𝐒𝐭𝐫𝐚𝐧𝐠𝐞𝐫 𝐅𝐫𝐨𝐦 𝐈𝐜𝐞 ❆Onde histórias criam vida. Descubra agora