3.

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— Que merda acha que tá fazendo, Dunbar? — Theo murmurou entredentes. — Nós dois sabemos que você não iria morrer com um café com leite.

Liam soltou o próprio braço em um balançar grosseiro.

— Eu sou alérgico.

— Você é um lobisomem — Theo retorquiu indignado, andando de um lado a outro com as mãos nervosamente por entre os cabelos. Ele parou diante de Liam, apontando um dedo inquisitivo para ele. — Eu não sei o que acha que tá fazendo aqui, mas não vai continuar.

— Eu não tô fazend-eu só fiquei surpreso — Liam se defendeu de maneira confusa ganhando um arquear de sobrancelhas raivoso de volta.

Ali estava o Theo que ele conhecia, deixando a carcaça calma de lado para lhe dar um sorriso ofendido, cheio de veneno.

— Surpreso porque eu tenho um emprego, claro — ironizou a quimera. — Por isso tá tentando me prejudicar.

— Surpreso em te ver. — Liam corrigiu honesto e sem pensar. —Eu queria-

A expressão de Theo suavizou de maneira drástica, como se uma assombração passada lhe viesse a mente. Ele desviou os olhos dos de Liam com um suspiro. — O que?

Honestamente, Dunbar não sabia. Ou talvez soubesse e não quisesse atribuir o verdadeiro significado.

— Eu não sei, te vi aqui e...fiquei curioso.

Theo sentia o coração batendo forte, a raiva inundando-o como uma tempestade. Uma tempestade de olhos azuis que ele odiava compreender. Toda a curiosidade que alimentara por anos estava bem diante de si, tão curioso quanto. Era assustador e atrativo na mesma dose. Uma coincidência terrível e um alívio dolorido. Ele odiou encontrar Liam na mesma medida em que quis vê-lo.

— Eu tô ocupado agora — disse Theo finalmente. O tom dele era rendido, embora evitasse os olhos de Liam. — Saio daqui às sete, provavelmente.

Liam entreabriu os lábios surpreso, acenando ligeiramente em concordância.

— Tudo bem.

Theo devolveu o café na mão do beta, dando um indicar de cabeça ao lugar.

— Não faz mais isso.

A quimera deu a ele um último olhar antes de se virar, caminhando em direção a cafeteria. Liam quase murmurou um "foi bom ver você" enquanto Theo se afastava rapidamente, mas conseguiu se impedir a tempo.

Um estalo na cabeça dele o fez erguer o pulso e encarar o relógio, esboçando uma careta ao notar o atraso para buscar Eli no colégio. Provavelmente o Hale já aproveitara o tempo para fugir do radar deles pela milésima vez.

Merda. Merda. Merda.

Mas Liam não se importou realmente. Focado em seus próprios trambiques. Ele encarava o relógio pendurado na parede do antigo quarto vez ou outra, as horas nunca passavam lentamente quando estava com Hikari, sempre a procura de mais tempo. No entanto, de repente, pareciam se arrastar de maneira torturante. A voz dela foi um sussurro distante por toda a tarde. Recebendo respostas vagas de Liam que não conseguia se concentrar em nada além de sua tramóia.

Dado o horário, esperou trinta minutos. Não queria parecer desesperado ou coisa do tipo, mas tinha certeza que o outro já o via assim desde o primeiro momento.

As luzes da cafeteria estavam baixas, Liam pode ver pelo vidro do estabelecimento o lugar vazio. Não havia outros funcionários além de Theo àquela hora. Ele hesitou por um momento, observando o mais velho recolhendo os cardápios das mesas distraidamente. Theo trancou o caixa e recolheu as chaves do balcão, certificando-se de apagar as luzes da cozinha e trancar a porta dos fundos antes de se dirigir a porta da frente, dando um salto para trás ao notar Liam estático encarando-o do outro lado do vidro.

The 1 | ThiamOnde histórias criam vida. Descubra agora