Dança, Argentina!

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- Ah, não, não, não ,não! - Brasil reclamou no segundo que entendeu o que estava acontecendo, os lábios esticados em repúdio. - AAAAAAAAAAARGH! De novo isso ?!

Argentina deu um sorriso presunçoso, endireitou a postura e ergueu as mãos no ar, o rosto erguido em soberana superioridade. A música começou logo em seguida.

- Que porra! - Brasil gritou, se encolhendo de mortificação no ombro da Colômbia, que riu e começou a acompanhar a performances batendo palminhas. - Ele não entende que é ridículo ? Faça ele parar, Colômbia. Tô te implorando!

Colômbia riu. Não esperava outra reação.

- Hm.... Não acho que seja tão ridículo assim. - França comentou, a voz suave como seda e naturalmente charmosa, sentado ao lado, também batendo palmas. - Veja como mexe os quadris. Magnifique!

- Ele é muy guapo, não é ? Muy, muy guapo. - Colômbia concordou, a entoação arrastada e sentimental. - Ay... Guapo.

- Guapo sou eu! - Brasil interveio, indignado, levantando o rosto. - Essa Barbie não é bonitão como eu. Não chega nem aos pés de tuuuuuuudo isso. - apontou para si mesmo com o dedo, de cima a baixo. Depois, fitou o loiro ,amargurado. - Caô. Muleque mó feião.

Colômbia e França não responderam. Invés disso, trocaram olhares rápidos e ,em um acordo silencioso, se esforçaram em esconder as risadas. Sabiam que nem o próprio amigo concordava com si mesmo ao dizer coisas como aquelas.

Brasil gemeu com aborrecimento para si mesmo, uma coisa entalada na garganta. Com dificuldade, ergueu os olhos para o loiro e ,à contra gosto, se juntou aos outros nas palmas, revirando os olhos.

Como caralhos aquele bosta conseguia ser tão ridículo sem sentir um pingo de vergonha ?

Quer dizer....Tudo bem que ele estava bonito com aquela blusa branca desabotoada até a altura do peito e que, talvez, fosse atraente a maneira como todo aquele aspecto ''perfeitinho'' do bostinha era totalmente destruído em momentos como aquele, no entanto, não conseguia assistir aquela dança ridícula sem querer morrer.

Ok. Não tão ridícula.

Estalou a língua na boca, contrariado consigo mesmo, e sua perna começou a tremer para cima e para baixo, impaciente.

Ao passo que a assistia pela milésima vez, um fascínio indesejado tomou terreno como sempre acontecia. A tensão de outrora foi aos poucos perdendo terreno.

Agora que via melhor a dança do feio, alheio à própria competitividade, eram, sem surpresa alguma, movimentos bonitos. Dotados de uma graça que achava só se encontrar nos ritmos suaves da bossa nova, esbanjadores de um tipo de elitismo e elegância que só achava existir no balé.

Só que não era só isso.

Nele, como se não fosse o bastante, via-se uma sensualidade quente que só via na salsa. Uma ferocidade poética que só existia no Rio de Janeiro.

Brasil gostava de suas expressões frias, sensíveis, ferozes que o Argentina fazia inconscientemente enquanto dançava. O achava mais bonito que o normal quando o via assim : vulnerável.  Era atraído pela maneira como o loiro parecia selvagem e livre. De como até o maldito cabelo daquele babaca parecia contribuir com todo o resto ; o acompanhava, emoldurava seu rosto, passava a mensagem certa.

Tudo bem admirar em silêncio, em absoluto segredo, só que expressar e verbalizar sua admiração estava fora de questão.

Preferiria perder o próprio pa–

- Lembra quando você apostou seu c# e perdeu ?

Brasil arregalou os olhos em sobressalto. Com urgência ,olhou ao redor para checar se mais alguém tinha escutado e ,em seguida, se voltou para o França, o fuzilando com os olhos.

- De novo isso?? - rebateu fervorosamente. - Foi da boca pra fora! Eu, hein. Cara esquisito.

- Estava lembrando disso. - França continuou com indiferença, sem tirar os olhos do loiro.

- Ihhhh...Lá ele!

França riu com o nariz, sem mostrar os dentes.

- Vocês deveriam namorar.

Brasil demorou para reagir à fala.

- Ãhn? - chiou, confuso e escandalizado. - Tá doidão? Oxe.

- Ah, eu também acho. - Colômbia se meteu. - Não queria dizer nada, mas como começaram...

Brasil olhou de um para o olho, escandalizado. A testa franzia, a boca aberta, a cabeça cheia de pressão do quão insano aquilo soava.

- Também acho.

Coreia apareceu no banco de trás, segurando a borda da cadeira do Brasil com ambas as mãos, o rosto aproximado da orelha do moreno.

Brasil teve um sobressalto, assustado com a aproximação abrupta.

- Pô, vocês me odeiam ?

- Eu também concordo com o França. - Croácia se meteu, surgindo detrás da cadeira do francês. - Formariam um casal bonitinho.

- Concordo! - Itália declarou, surgindo ao lado do Coréia. - Já pensou, Brasil ? Acordar com o loirinho de manhã, chamar ele de ''mio principe''... Beijar ele... Tirar a roupa...

- Ai, ai! - Brasil se arrepiou, a respiração grudada na garganta e o pulso engatado, perturbado. Levou as mãos a cabeça, perdendo o juízo. - Vocês são um bando de esquisitos! Credo, credo, credo! Apaguem isso da minha cabeça! AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAARGH! Bocós! AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA! Que coisa horrorosa!

- Bocós... - Coreia ecoou para si mesmo, sem entender o conceito muito bem.

- E você também poderia pagar a sua aposta. - França acrescentou, malicioso. - Apostou o c#.

- Cacete, não era de verdade! - Brasil se voltou a ele, se defendendo intensamente.

- Dios mio. - Colômbia riu.

- Ôôôôô! Nem começa! - Brasil se voltou a ela, acalorado. Levantou um dedo, resoluto. - Se fosse para algo assim acontecer, eu quem comeria o Argentina, não o contrário!

Só depois da fala que o Brasil se deu conta que a música tinha acabado. Só ele tinha falado.

O cômodo estava terrivelmente silencioso.

O longo silêncio constrangedor foi interrompido pelas não tão discretas risadas dos outros países, que aumentaram naturalmente. Brasil quis se enforcar com a própria camisa; quis enfiar a cabeça em algum buraco e nunca mais sair de dentro.

Quando teve coragem de levantar os olhos para o Argentina, se deu conta que ele não tirou os olhos de sua direção. Parecia horrorizado, em choque.

O loiro ficou quieto, abismado. E quando o Brasil começou a se sentir mal e quase pensou em se desculpar, embora não fosse de seu feitio se sentir mal pelo bostinha, uma percepção sutil destruiu de vez sua simpatia e o encheu de prepotência.

O rubor gradualmente ficando mais forte na pele do loiro ,tornando a pele pálida em vermelho puro, revelou que não só o Argentina estava, de fato, constrangido, mas estava ...imaginando. Imaginando o que o Brasil acabou de dizer.

De repente, como quem está com vergonha, desviou os olhos dos do Brasil por um instante somente para voltar a encará-lo instantes depois, apenas quando conseguiu recuperar o ar desafiador de sempre, ainda que o faltasse um pouco da confiança soberba.

Brasil, sem se conter, tomou a vantagem.

Sem dizer uma palavra, charmosamente sorriu.

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