Várias queixas. (+18)

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A mesa da sala estava cheia de latas de bebidas, garrafas de vidro pela metade e petiscos dentro de embalagens de plástico rasgadas. Já passavam das duas da madrugada e Coreia estava bêbado.

O pino de contenção que o mantinha sob controle deixou de existir e toda a expressividade que guardava para si jorrava por todos os lados como uma torneira sem dique.

Como um filtro, o álcool em seu cérebro alterou a percepção do mundo e deixou as coisas perigosamente mais fáceis. Não existia mais restrição alguma. Falava o que queria, ria quando queria e fazia o que queria.

Não era um bêbado chato, daqueles que brigam à toa ou fazem cenas grotescas, só que quando bebia sentia necessidade de ser afetuoso e de receber afeto. Ansia essa não encorajada por carência, mas por uma personalidade naturalmente tímida que, por ironia, possuia o toque físico como linguagem pessoal ao demonstrar gostar de alguém.

Poucos sabiam que o coreano era amoroso. Gentil, sim. Mas quando se tratava de demonstrar afeição ,seu hábito imbecíl de reprimir no dia a dia suas demonstrações mais sutis dava a impressão que ele não gostava tanto assim de toque ou quaisquer demonstrações.

''Pelas contradições de sua mente e coração, surge o tolo de membros cortados aprisionado em náufragos de vontades jamais consumadas.''

Poético, huh ? Saiu da cabeça dele. E se saiu de lá significa que seu coração sentiu antes, o que não é um bom sinal.

Muitas vezes nem é o medo de rejeição que corta as asas antes mesmo do voo ser planejado ,às vezes o motivo pode ser mais infantil : Vergonha.

Uma cruel e antecipada de que ,no futuro, as próprias atitudes o mortifique.

Não é todo mundo que consegue ver a razão de mudar algo que está funcionando de maneira favorável (mesmo que esse estilo de vida em questão continue te empurrando para escanteio) porque mudanças ainda são perturbações no final do dia.

Não se altera uma característica marcante em si mesmo sem antes ,no fundo da mente, a pergunta ''Será que as pessoas ao meu redor vão achar estranho ?'' surgir e Coreia se perguntava isso pelo menos um milhão de vezes ao dia.

É de conhecimento geral que quando uma pessoa opta por um estilo de vida que o meio delas não está habituado - ou na pior das hipóteses não aceita - ,essa pessoa acaba ficando sozinha e o Coreia temia que aquela possibilidade para ele fosse fácil demais.

Uma novidade sempre causa medo independente de ser um grande ou pequeno passo e ,apesar de ser normal a vergonha de falhar e ser apontados por isso - se não pelos outros, por nós mesmos -, ninguém se coloca em uma situação difícil por qualquer coisa. Não é incomum, portanto, que muitos prefiram continuar dentro da zona de conforto mesmo que seja de conhecimento universal que é uma péssima escolha de como viver a vida.

Romper o ''rotineiro'' com o ''novo'' é uma coisa incrível, todo mundo sabe, só que ninguém com ansiedade e profunda insegurança conseguiria ouvir um ''é muito fácil'' sem revirar os olhos pelo menos umas trinta vezes ou ,em casos piores, se sentir pior do que estava antes por terem seu problemas diminuídos ou se sentirem incapazes.

Não é fácil.

Para o Coreia, por exemplo, era impensável sustentar os olhares de julgamento dos outros países como o Brasil conseguia ou enfrentar o mundo com a ousadia e entusiasmo que ele tinha, pois faltava no coreano o que sobrava no brasileiro : Confiança.

Certo dia, o Brasil o disse que comparações como aquelas eram injustas. O contou que cada um tem a sua própria maneira de enfrentar o mundo e nenhum é melhor ou mais válido que o outro, e por ser aquele um conselho dado pelo amigo, o coreano tentou levar em consideração.

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