4 | your way or mine.

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"Mate aquele pássaro amarelo dentro de si 
por mais que ele nunca tenha realmente
aproveitado sua vida,                                   
nem voado."

Aquelas palavras haviam sido escritas naquele momento, logo abaixo do outro verso constrangedor escrito apenas a alguns dias antes. A tinta da caneta esferográfica preta ainda estava fresca. O caderno ainda estava aberto na última página em cima das coxas de Regulus. O mar a sua frente parecia mórbido.

Ele sentia-se culpado por ficar melancólico de repente. Nem sequer era meia-noite, a festa ainda devia estar rolando, mas Regulus não se sentia bem de qualquer maneira. Sua vontade de fazer algo — que, na verdade, era apenas suprida pela sua vontade de ser incluído em algo — havia apenas se esvaecido.

Sentado na areia gelada, Regulus sentiu um tipo bizarro de deja-vu. Algo naquela praia o puxava de forma descomunal em seus momentos mais vergonhosos.

Era apenas vergonhoso se sentir triste.

Regulus fecha o caderno abruptamente e o devolve para a sua bolsa carteiro, a deixando na areia ao seu lado. Ele havia se acostumado a levar a bolsa e, juntamente, seu caderno e uma caneta. Não que ele fosse usar, apenas para se precisar em algum momento repentino como aquele: uma onda melancólica que insistia em afogá-lo nas horas mais inoportunas.

O ar que o rodeava estava abafado e ele odiava aquelas noites de verão. A maré subia cada vez mais, mas Regulus se certificou em ficar em um monte de areia afastado do mar, apenas para observá-lo em um camarote muito humilde. Algumas estrelas estavam no céu e outras não podiam ser vistas por conta do tempo nublado, mas Regulus não estava concentrado o bastante para identificá-las.

Ele fica em silêncio e observa o nada. Regulus pensa na irritação de Sirius por causa de Remus e como aquilo não fazia sentido. Ele não era a melhor pessoa em entender sentimentos, nem os seus e muito menos os dos outros. Aquilo provavelmente seria uma dificuldade no futuro mais do que é no presente. Por mais desagradáveis que sejam, os sentimentos sempre foram mostrados como algo que fazia o humano ser algo; o humano era algo e era alguém apenas por causa dos sentimentos.

Interrompendo os pensamentos de Regulus, ele nota uma movimentação na praia: um pouco mais afastado, no escuro, alguém se aproximava.

Regulus observa a pessoa se aproximando, caminhando lentamente pela areia. Ele se prepara para se levantar a qualquer momento, um espírito medroso e nem um pouco aventureiro, como Sirius diria.

— Regulus? — a pessoa pergunta, mas Regulus não identificou a voz na hora. Apenas percebeu ser James Potter quando foi possível enxergar seu rosto como um todo no escuro daquela noite. — O que você está fazendo aqui?

Regulus o encara. Ele era o mesmo James que havia servido um copo de bebida para ele algumas horas atrás. Usava a mesma calça jeans azul-claro e o mesmo suéter vermelho e dourado com as mangas arregaçadas. Sua expressão era a mesma e a sua voz também. Mas, de alguma forma muito estranha, havia algo de diferente.

— Pergunto o mesmo para você. — Regulus diz seco e desvia o olhar de James quando o garoto solta uma risada frouxa, voltando a olhar sem rumo para o mar.

James se senta ao lado de Regulus na areia, mas logo o garoto se afasta prontamente, fechando a cara e abraçando o seu próprio corpo, embora não estivesse com frio. James o observa de relance e a sua expressão murcha rapidamente. Os dois ficam em silêncio e Regulus sabe que James sabe o quão desconfortável ele está.

— Acho que estou cansado de festas. — James diz sorrindo levemente e na hora Regulus não sabe do que ele está falando, até perceber que ele estava respondendo a sua "pergunta".

SNOW ON THE BEACH, starchaserOnde histórias criam vida. Descubra agora