01. Este lado do inferno (Ginger)

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Ginger Ale

LOS ANGELES É CHEIA DE FANTASMAS. Dê uma volta por West Hollywood, pelo Sunset Boulevard e sonhos mortos e nomes do passado retornam, toda a cidade é capaz de conjurar fantasmas por sua simples menção.

A cidade também dividia seu território com muitos aspirantes a estrelas do cinema, música e teatro. Eu era uma dessas aspirantes.

Todos tinham uma banda, ou estavam criando uma banda, ou pensando nisso. Todos tentavam sua chance nas telonas, seja qualquer papel. Muitos dos sonhos eram descartadas, eram sopradas pelo como mato seco.

E até que os deuses apontassem o dedo e decidissem que esse era seu destino, havia toda uma vida itinerante de lugares baratos aonde ir, testes a falhar, empresários a encontrar.  Qualquer dólar que sobrasse - e sobrava algum? - ia para o aluguel, comida e contas muito antes que raspasse os trocados para um investimento.

Imagine chegar ali, vindo de Indiana e ver a cidade pela primeira vez à noite. O clima do lugar atingia você como um tiro nas costas, uma mistura sobrecarregada de ambição e devassidão, hedonismo e desespero. Parecia uma permanente primeira noite fora de casa, sem responsabilidades, sem amanhã e sem alguém te dizendo o que fazer, o que vestir ou aonde ir. Uma explosão de liberdade, inebriante e assustadora.

Uma das minhas primas morava em Los Angeles. Nos falávamos pelo menos duas vezes na semana. Em nossas conversas, ela costumava dizer como era ótimo viver no sul da Califórnia. Ela costumava se mostrar e falar sobre o tempo, as praias maravilhosas, o oceano, as montanhas. Você podia fazer qualquer coisa sempre que quisesse, porque sempre estava ensolarado e quente, mesmo no inverno.

Foi entre essas conversas que acabei pensando em dar o fora de Indiana, onde, com toda a sinceridade, as coisas não poderiam ter ficado piores para mim. Eu estava preparada. Entrei na Internet e comecei a procurar empregos na ensolarada Los Angeles. Era ir atrás dos meus sonhos ou deixá-los morrer em Indiana, junto comigo. Finalmente a chance de um novo começo e uma nova vida venceram qualquer medo ou limitação que eu tivesse. Ir para um lugar novo que pudesse concretizar meu sonho era algo que já pensava há meses. Me mudei com o coração em chamas.

A North Clark, onde agora eu morava, em um dos apartamentos baratos, era num minuto tudo legal e então no minuto seguinte, saía do controle. Eu sempre caminhava em direção a Jungle, agora para meu turno noturno, o pub de rock onde eu trabalhava, com um spray de pimenta na bolsa como a garota caipira que eu era.

— Me desculpe Donald — Disse atravessando o balcão da Jungle sem fôlego — Sei que estou atrasada, mas estava em um teste do outro lado da cidade.

HA.HA.HA —A risada rouca e seca, afetada por anos de cigarros Minister, de meu chefe Donald Cammell  ressoou até o meu ser mais profundo ferindo meus tímpanos — Você ainda acha que tem chances? Não me leve a mal, Ginger,mas...mas —  Donald sugou seus dentes amarelados enquanto pensava na palavra correta para me descrever. Pouco se importando com meus sentimentos. Levei os braços cruzados contra o peito, uma tentativa tola de proteger meu ego —  Você é careta, sem sal, chata e cafona. Não tem beleza, não tem sex appeal. Você vai ficar presa nesse pub até sua aposentadoria...ou até que desista e volte correndo para debaixo da saia da mamãe.

Praguejei baixinho e engoli o choro. Se eu envenenase seu whiskey iriam suspeitar logo de cara que havia sido eu? Obviamente não, havia muitas pessoas que já pensaram ou pensam em matá-lo. Há tantas formas: Enforcá-lo com sua encharpe ridícula seria uma delas, colocar algum tipo de veneno no cigarro que ele me pedia para comprar também seria uma boa maneira. Segui com meus pensamentos assassinos, um mais empolgante que o outro e rangi os dentes evitando gritar de raiva enquanto me aproximava da mesa.

MY GINGER | Harry StylesOnde histórias criam vida. Descubra agora