Jade 💚Eu fui nascida e criada no chapadão junto de minhas 3 melhores amigas, Juliana, Gabriela e a Isabella. Nossas mães sempre foram bem amigas e isso tudo facilitou muito para seguirmos nossa amizade e construir esse laço que temos hoje em dia. Enfim, sou médica formada a 3 anos e trabalho em um hospital partícula em Ipanema, sai do morro assim que entrei pra faculdade, bom meus pais na época não tinham dinheiro pra banca os meus estudos e aprendi desde cedo a ralar pelo que eu quero, comecei a trabalhar cedo e era só estudo e trabalho durante anos até conseguir chegar onde estou hoje. Mas sempre que posso estou indo pra morro matar a saudades da minha comunidade e também da Juliana que permanece morando lá por escolha dela. Eu me amarro em ir pro chapadão final de semana curtir um pagodin no bar do seu Zé Antônio.
Hoje era sexta feira e eu não estava de plantão, Juliana mandou mensagem no grupo chamando a gente pra ir ver os meninos jogar bola, fiquei meia pensativa em concordar de ir pois a dois dias atrás discuti com a ratazana albina vulgo Ret e tenho certeza que ele vai surtar ao me ver lá. Porém de tanto ela insistir acabei cedendo, maior saudades do meu morro e foda-se o Ret.
— Tá indo pra onde Jade? - minha mãe perguntou enquanto eu descia a escada arrumada, aliás, arrumada não, estava com um shorts de lycra preto que era um pouco curto, um top também da cor preta e de havaianas branca.
— Vou no chapadão ver o jogo dos meninos - murmuro indo até a mesma dando um beijo em sua bochecha -
— Cuidado Jade - ela diz em um tom preocupado. Mas nunca me impedi de ir, sabe que meu coração tá lá e que jamais deixarei de ir lá independente do que os meus amigos fazem, nada disso respinga em mim e as meninas, crescemos juntos e a amizade sempre vai prevalecer independente de toda merda que acontecer. — Tu vai de carro?
— Não mãe, sei que sempre rola uma cervejinha no final e é melhor evitar - ela balança a cabeça concordando, chamo um Uber e fico ali conversando um pouco com ela enquanto aguardo o carro chegar. Minutos depois o Uber já estava em frente da minha casa, me despeço da minha mãe e saio entrando no carro dando boa tarde pro motorista.
...
Desci do Uber ali na barreira mesmo até pq ele não sobe o morro, fechei a porta e caminhei preguiçosamente até os vapores, avistei o L7 de longe já rindo e sabia que vinha merda por ae.— De qual foi menó? - perguntei e ele veio até a mim com aquele fuzil atravessado em seu ombro -
— De qual foi mandada, Ret proibiu tua entrada - ele disse caindo na gargalhada e eu ri mais ainda -
— Teu patrão é louco sabia? - ele assentiu e eu respirei fundo - Passa um rádio aí pra ele L7, tô torrando nesse sol carai
Na mesma hora ele passou um rádio pro Filipe comunicando que eu estava ali e tu acha que ele liberou? Pois é, não liberou.
— Filipe passa dos limites - murmuro pegando meu celular e ligando pra ele -
— Deixa ele te ouvir chamando ele pelo nome. - Dei de ombros enquanto aguardava a ratazana atender mas ele desligou esse puto.
Avistei a dona Vanda vir com duas sacolas na mão, fui até ela toda feliz e abracei a mesma que retribuiu toda contente.
— Jade minha filha quanto tempo - murmura e eu pego uma das sacolas ajudando ela -
— Tia a senhora me viu tem dois dias - falo e ela da de ombros rindo -
— E tá fazendo o que aqui em baixo na barreira? - perguntou desconfiada até pq sabe o filho que tem -
— Seu filho proibiu a minha entrada - murmuro com a voz de tédio, pois não é a primeira vez que ele faz isso.
— O que? Mas ele fez isso de novo, Jade, não é possível cara... - resmungou com uma cara nada boa e eu só assenti - Lennon? - ela chamou o L7 que tremeu na base por ela o chamar pelo nome o que me fez rir baixinho- Me da teu rádio - ele nem questionou e deu pra ela.
— Tia não precisa se meter em encrencas com o Ret por causa de mim não, eu dou meus pulos ou volto pra casa - O que eu menos quero é ela encrencado com o idiota por minha causa -
— Pode deixar comigo Jade - ela disse e eu dei de ombros. — O filho da puta cadê a educação que eu te dei? Por algum acaso tu enfiou no teu buraco negro? - após ela falar eu caí na gargalhada, a tia Vanda era muito engraçada e não tem essa só pq o filho dela é dono do morro não, ela desce o cacete nele se precisar.
" Po mãe que isso?" - ele respondeu -
— Libera a passagem da Jade agora e vem me buscar aqui na barreira que tô cansada pra subir esse morro - dito isso entregou o rádio pro L7 que se acabava de rir. — onde já se viu impedir logo tu? Ah me poupe.
Ficamos lá conversando enquanto aguardávamos o bonito vir buscar ela, o que não demorou nem 15 minutos pois logo ouvimos o barulho de moto e era o mesmo que parou perto da gente com uma cara nada boa.
— Tchau tia - me despeço dela dando um abraço e devolvendo a sacola -
— Vai lá em casa antes de ir embora - assinto pra ela que sobe na moto com dificuldades causando risos entre os vapores. - Tão achando graça de que? Dormiram com o bozó e tão engraçadinhos hoje? Eu hein
Gargalhei da cara deles negando com a cabeça. Desvio meu olhar para o Ret que está me encarando.
— Que foi, perdeu o cu na minha cara? - pergunto e ele fecha mais a cara ainda. Eu tô brincando com a morte, depois ele vem um cão pra cima de mim, mas fazer o que se eu não controlo minha língua. Reviro meus olhos começando a subir o morro me arrependendo de ter aceitado vir, maior sol e ainda tenho que subir muito pra chegar na Juliana, pqp, só queria uma alma pra poder me levar lá. Sinto um vento forte passar por mim me fazendo assustar ao ver a velocidade que Ret pilotava a moto, só consegui ver dona Vanda socando o braço dele.
...
Faltava pouco pra chegar na Juliana, onde eu passava encontrava algum conhecido que parava pra conversar um pouco e também pra me atualizar das fofocas do morro. Já estava ofegante quando avistei a casa da Ju, só não dei pulos de alegria pq estava muito cansada, caminhava tranquilamente até o portão enquanto prendia meu cabelo em um coque frouxo, perdi até a conta de quantas vezes fiz isso pelo caminho.— Eu quero falar contigo - Ouço aquela voz rouca atrás de mim e viro lentamente com meu coração quase saindo pela boca.
— Que foi Ret? - pergunto me fazendo de indiferente, mas por dentro estava cagando de medo dele, o homem da medo e por mais que eu o conheça a anos ele me coloca medo.
— Vou te dar só mais um aviso, se tu veio pra minha favela fazer barraco igual a última vez eu não vou entender legal não, se ligou? - ele perguntou sério e posturado como sempre.
— Manda tua marmita ficar longe de mim então. Tu acha mesmo que vou ouvir e ficar quieta? Me conhece Filipe - resmungo já perdendo a pouca paciência que eu tinha -
— Não fala a porra do meu nome, tá achando que é quem pra falar meu nome assim? Se liga garota - ele diz grosso e eu respiro fundo assentindo - Quero que você e a Rafaella se foda, só quero que respeitem minha favela pq isso aqui não é bagunça, tô te passando a visão pra depois não me chamar de covarde. - dito isso virou as costas saindo e me deixando ali puta da vida -
— Grosso - gritei e ele virou com um sorriso debochado no rosto -
— Meu pau, mas tu sabe bem né, otaria - diz e vira indo até sua moto subindo na mesma saindo igual louco.
