— Vem! Eu quero te apresentar à minha patotinha, — Falou Nami, já pegando Ganayim pela mão, sem dar a ele chance de recusar.
O jardineiro era tímido, mas admitiu para si mesmo que não estava mais tão avesso à conversas e amizades. Ainda tinha planos de escalar aquela árvore, e de subir no topo do castelo, mas isso podia esperar. Agora, era o momento de conhecer a "patotinha" de Izanami, e pelo tanto que Asmodeu o fizera rir ainda pouco, com certeza não era má ideia socializar.
Sentiu-se levado pela corrente feita de Izanami e Asmodeu, que tagarelavam e andavam em passadas largas, na direção de uma passagem estreita do salão, a qual daria em outro castelo. O corredor era todo iluminado por uma fraca luz amarela, embora fosse impossível determinar de onde a luz vinha. O chão era do mesmo material que as paredes, embora numa versão super polida, que refletia as imagens de quem caminhava. Por toda extensão do corredor havia quadros de paisagens naturais e de outras misturadas à construções. Uma das imagens continha uma pintura que em tudo lembrava o seu jardim, mas Ganayim conhecia demais a própria casa para se deixar enganar. Havia alguns detalhes nos troncos das árvores que denunciavam o fato de que aquele não era o seu jardim. Além disso, as pedras no depósito do seu riacho eram minérios coloridos, ao passo que as da imagem diante de seus olhos eram pintadas de azul.
— Para onde estamos indo? — Perguntou o curioso jardineiro.
— Quero te apresentar ao meu irmão mais velho! — Disse Nami.
A ideia de um "irmão mais velho" era algo alienígena para si. Desde que se entendera por anjo, Ganayim sempre estivera sozinho em seu jardim. Sempre soube que havia outros como ele, seus irmãos, mas o jeito que Nami falava do tal irmão mais velho o fazia pensar.
— Ele é legal?
— Ele é um chato — Asmodeu resolveu responder no lugar de Izanami.
Ela deu uma risada leve, admitindo que isso era verdade, ao mesmo tempo em que demonstrava o quanto aquele traço de seu irmão a encantava.
— Nagi é um cara muito preocupado com a ordem das coisas. Ele não suporta bagunça. Como esse daí — apontou Asmodeu — é um bagunceiro, os dois vivem discutindo.
É importante ressaltar que, naqueles tempos, quando um anjo falava em "discussão", isso nada tinha a ver com as brigas propriamente ditas, tão conhecidas dos humanos ao longo de sua história. Naquela época, o ego exacerbado não era um problema, e portanto toda e qualquer diferença era resolvida com uma conversa franca ou alguma brincadeira. Simplesmente, não havia espaço para conflito. Não havia um lugar ideal onde a maldade pudesse morar.
— Asmodeu está exagerando. Mas ele sempre faz isso.
Ganayim já estava começando a perceber que Asmodeu sempre exagerava em suas declarações. O que ele dizia ser um anjo "chato pra caramba" provavelmente se tratava de alguém muito calmo, que prezava pela harmonia.
Alegrou-se de si para consigo e, mais uma vez, adorou a Deus, dessa vez em pensamentos. Não era maravilhoso o fato de todos os irmãos que conhecia serem tão diferentes? Se o seu jardim tivesse apenas samambaias, ele provavelmente se enjoaria rápido, mas aquele era o lugar onde milhões, ou muito mais do que isso, de espécies de plantas, minérios, e tudo o que era matéria-prima se harmonizava em um só conjunto. Isso refletia o caráter detalhista e criativo do Pai. Então, não deveria ser uma surpresa o fato de que ele criou (e seguia criando) uma imensa variedade de anjos.
Quantos mais de seus irmãos ainda conheceria e como seriam eles?
— Você sabe quem fez esses quadros? — Asmodeu fez a pergunta, ao notar que seu irmão olhava para todos os quadros ao seu redor, hipnotizado com tamanha beleza. — O nome dela é Beladona. É dessas que gosta de se isolar, que nem você, mas eu ouvi dizer que hoje ela está por aí.
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História de Origem
FantasyBelzebu, um dos mais poderosos entre os príncipes das trevas, decide escrever a biografia de Eddie, o demônio safado, ex-príncipe, atual prisioneiro, condenado pelo próprio Lúcifer a uma vida eterna de servidão pelo simples fato de quase ter destruí...