Capítulo 5 - Irmandade

28 2 31
                                    

Céu- Tempos passados

Se Eddie havia se maravilhado só de conhecer o seu primeiro lar doce lar, aquele jardim de beleza etérea e refrescante, imagina o tamanho de seu pasmar quando se deparou com o local onde acontecia uma festa no Céu. Seus olhos seriam assaltados por beleza à direita, à esquerda, à frente, de cima abaixo.

A primeira imagem que chamou sua atenção foi a de uma árvore. Era altíssima, do tipo que era impossível conhecer as copas folhosas acima sem escalar pelo tronco, que era tão grosso e túrgido como um pilar. A superfície do tronco era cheia de ranhuras verdes e brancas, que faziam linhas paralelas que poderiam bem ser setas apontando para onde dava o fim daquela árvore. A raíz estava obviamente escondida embaixo da terra negra e da grama fofa, de cor azulada, feito um caríssimo tapete. O chão de seu jardim era diferente, feito de gramíneas verdes, portanto só de pisar naquela terra nova já o causava estranheza.

Num impulso, retirou as sandálias e correu para a árvore, que não estava muito longe. Acostumado a correr e desempenhar trabalhos físicos em seu jardim, Ganayim tinha pés ligeiros e mãos fortes, boas para agarrar no tronco da árvore. Recrutou somente os músculos necessários e começou a subir. Além das ranhuras que o permitiam se agarrar ao tronco, este ainda tinha galhos por quase toda a sua extensão, o que facilitava ainda mais a subida. O anjo jardineiro moveu-se com entusiasmo, sem olhar para baixo.

— Ooooi!!! — Um grito em tom feminino viajou por centenas de metros até chegar em seus ouvidos — Você aí em cima! Desce porque a festa já vai começar!

Ganayim sentiu que deveria responder, mas não estava nem perto do topo da árvore. Tirando Deus, no dia de seu nascimento, aquela era a primeira interação com outra alma vivente que teve em toda a sua existência. Por outro lado, estava ansioso para saber o que veria ao fim da árvore. Será que seria como as suas? Será que as folhas eram grandes, pequenas e agrupadas, ou será que só havia galhos retorcidos no fim das contas? E quanto à vista? Em seu jardim, havia uma colina alta onde gostava de sentar após o trabalho, para contemplar a vastidão de seu lar, presente de Deus. Morava lá fazia um bom tempo, mas de alguma forma aquela paisagem sempre tinha algo novo para lhe mostrar.

Decidiu que sua irmã, a quem nem conhecia ainda, podia esperar um pouquinho, ou seguir em frente sem ele. Subiu num galho e nele se pendurou, como fazem os atletas de ginástica na Terra hoje em dia. Tomou impulso com os braços e o tronco até subir em outro galho. De lá, voltou à escalada pelo tronco principal. Tão distraído estava em cumprir sua "missão", não percebeu que tinha companhia.

— Deu defeito em seus ouvidos ou você só se fingiu de surdo para não ter que descer?

Surpreso com a voz que subitamente invadiu sua escalada silenciosa, Ganayim tropeçou em uma das ranhuras. Seu pé escorregou e ele perdeu o timing certo para agarrar o próximo sulco do tronco da enorme árvore. Ele teria caído, mas a intrometida o salvou na hora, segurando o jardineiro pelo pé esquerdo e o mantendo pendurado de ponta-cabeça.

Ganayim abriu um sorriso embaraçado e, ao mesmo tempo, agradecido. Olhou para cima e se deparou com cabelos compridos, negros e lisos, além de uma tez alva e olhos cor violeta, em um rosto muito magro e delicado, austero e afável, ao mesmo tempo.

— Eu nunca te vi por aqui antes. Quem é você? — A outra criatura perguntou, incerta, e ainda segurando o anjo pelo pé

— Meu nome é Ganayim — Lembrou-se do dia em que recebeu esse nome

— Ah, um jardineiro, então? Não à toa gosta de subir em árvores! Mas não é hora para isso, mocinho.

Aquela criatura emanava uma autoridade que era muito diferente de um pai. É como se ela fosse o outro lado da moeda, aquilo que os humanos no futuro chamariam de "mãe".

História de OrigemOnde histórias criam vida. Descubra agora