Algumas coisas eu realmente não contei. Comecei de uma forma estranha contando sobre minha paixão obsessiva por uma pessoa que eu nunca nem sequer demonstrei interesse visivelmente e ainda quase acabei com o relacionamento dele. Sinceramente, eu me culpei durante vários dias e nada em mim parecia querer tirar aquela sensação de que eu era alguém ruim demais por querer demais.
Nada poderia, mas alguém sim.
— Eles já reataram e você ainda se culpa, minha paçoquinha. — Hoseok sentou ao meu lado no sofá minúsculo, decidimos assistir um filme juntos para comemorar nossos oito meses de namoro.
— De onde você tirou esse apelido?
— Paçoca é de amendoim e se você é meu amendoinzinho... — Comecei a rir. — Você é minha paçoquinha.
Não era incomum ouvir esses apelidos de Hoseok, aos poucos eu fui me acostumando e achando graça da maioria. Ele tinha uma cartela imensa de apelidos para me dar, não só fora do quarto, mas dentro dele também. Por sorte, dentro do quarto, ele não era tão brega desse jeito. Ainda que fosse realmente algo fofo, sexy e engraçado, eu demorei para me acostumar com diversas coisas que nunca senti.
Eu realmente nunca me senti amado.
— A formatura do Yoongi tá chegando, e meus pais devem ir. — Falei, jogando as minhas pernas no colo de Hoseok que me puxou mais para perto. Ele parecia querer se fundir a mim às vezes, principalmente nos dias frios ou nos dias que a gente demorava para ver. — E eu queria contar a eles sobre a gente.
Hoseok me olhou relativamente assustado.
— É sério?
— Sim. Mas... — Suspirei deitando a cabeça em seu ombro. — Eu não queria te criar expectativas como se eles fossem aceitar. Eles não vão.
— Não precisa contar a eles nada, Jimin.
Yoongi e Seokjin passaram a vida toda namorando escondidos dos meus pais. Quando Yoongi assumiu que era gay, ele já estava com a chave da casa dele para ir embora. Nossos pais nunca foram os melhores. Algumas pessoas realmente não nasceram para criar alguém, para colocar um ser humano no mundo. E eu vivia no embate entre Yoongi sendo o irmãos mais velhos ideal, tomando o lugar paternal, e meus pais que viviam à margem da minha existência. Eu não era tão cético que nem o Yoongi, nunca fui. O fato de ser gay me consumia dentro de casa e eu só fiz o que o impulso me fez fazer. No dia seguinte, eu não tinha mais onde morar.
Sempre digo que minha maior sorte é o meu irmão mais velho e agora me pergunto como ele se sentiria se soubesse que eu sempre tive a sensação de que nunca fui amado? Eu acredito brevemente que a minha carência de atenção não iria ser suprida por Yoongi, mas estava sendo suprida por Hoseok.
— Eu quero. Seus pais também vão estar lá, melhor forma da gente... — Hoseok segurou meu rosto e me beijou. — O que?
— Mãe e pai já sabem do nosso namoro desde o dia em que você decidiu ficar comigo. — Hoseok riu da minha expressão incrédula. — Meu pai só pediu para não deixar que nosso namoro afete meu rendimento na empresa.
— Oh eu esqueço que namoro o futuro presidente de uma corporação.
— Não esqueça, meu amendoinzinho. Agora trabalho arduamente para futuramente te mimar até você cansar de mim.
— Espero que eu não canse. — Sussurrei. — Hobi, o que as pessoas vão achar de você ser namorado de um homem lá na empresa de seus pais?
— Não importa o que vão achar. — Hoseok me olhou sério. — Meu pai manda e eu que vou mandar.
— Não quero que você se prejudique e não me importarei se for um... — Ele me beijou novamente. — Deixe eu terminar de falar.
— Eu me importo e sou bastante ciumento. Imagino que se as pessoas acharem que você tá por aí solteiro? De forma alguma.
— Eu nem sou famoso. — revirei os olhos.
— Mas essa bunda é. Sinceramente, você nunca percebeu que o pessoal da faculdade fica encarando tua bunda?
— Encarando a minha bunda?
— Exatamente! — Hoseok falou alto.— Eu acho isso uma completa perversão. Terei que mandar fazer uma calça escrito "Tem dono".
— Você anda lendo muito romance hetero. — Hoseok alisou minhas pernas. — Ou muita fanfic.
— Mas meu amor por você começou de uma fanfic da minha cabeça. — Ele riu e subiu as mãos até minhas coxas.— E olhe onde eu estou agora.
Os olhos de Hoseok tinham algumas ruguinhas quando ele ria, e ele sempre estava rindo. Quando eu estava chateado era a única pessoa que me fazia pensar claramente sobre aquilo que me irritava, pois eu nunca soube agir de forma mais racional em meio às minhas emoções. Quando eu estava feliz demais, ele parecia seguir o fluxo da minha alegria e às vezes eu sentia que não havia volta dos meus sentimentos para os deles. Mas eu não posso negar que também era a única pessoa que sabia lidar quando Hoseok estava enraivecido por algo, quando chegava cansado do trabalho ou quando o pai dele lhe perturbava tanto no trabalho que ele só sabia proferir alguns xingamentos gratuitos.
— Eu te amo. — Falei baixo, perto do ouvido dele. Ele se virou para mim tanto bruscamente que minhas pernas caíram do seu colo. — Eu te amo muito, Hobi.
— É um sonho. — Ele jogou a cabeça para trás olhando para o teto e depois me encarou. — É um sonho?
— Pare com isso. — Tentei não rir. — Eu te amo a tanto tempo, só nunca disse.
— Por favor diga mais, meu lado carente implora por isso. — Hoseok me puxou para o colo dele. — Eu também te amo desde o dia que te conheci.
— Isso foi brega.
— Eu sempre fui brega, Park Jimin. E você me ama assim, sendo brega.
Eu o beijei, segurando seu rosto entre minhas mãos e deixando que toda minha felicidade transbordasse.
E um spoiler, ele foi brega até o último momento de sua vida. E eu sempre serei e fui o bendito do amendoinzinho dele.
Fim!
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Friendzone | JIHOPE
Fanfiction(CONCLUÍDO) Como deve ser a sensação de amar e não ser amado? E como dever ser a sensação de se encontrar nos dois lados da moeda? O de amar sem ser amado, e o de ser amado sem amar? Park Jimin vivia no ciclo viciosa de amar e não ser amado com seu...