SEM CORAÇÃO-final alternativo

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Como se saisse de um sonho, a irmã com mascara de raposa sentiu toda a névoa pesada e intorpecente deixar seu corpo assim que se afastou da pedra dos desenhos.
Deu um breve olhar em volta, se certificando de que a visão teria acabado e então acompanhou de longe os quatro visitantes atravessarem o espelho.

Cath se virou e a expressão de Peter
tinha mudado de novo.
Medo. Indecisão. Dúvida.
E por último determinação.
Ele olhou novamente para Catherine, o rosto cheio de ódio e as sobrancelhas
franzidas com propósito. Ele se virou e com um grito gutural brandiu o machado na direção do
pescoço de Jest.
Sangue se espalhou no chão. Como
tinta de uma pena quebrada. Como
um desenho cruel feito em pedra.
A espada atingiu o peito de Peter. No coração. O vento pareceu parar,
como se estivesse gritando mais uma
vez em pouco tempo.
Assasina.
As mãos de Catherine estavam molhadas de suor, mas era com sangue da mesma tonalidade de rosas vermelhas. A espada foi retirada do peito de Peter e ele caiu no chão. A cor vermelha voltando-se para fora
dele. O machado ao seu lado.

A espada escorregou dos dedos de
Cath com um grito entalado em sua garganta. Preso lá dentro, pressionando seu peito. Engasgando-a.
Mas o sentimento de arrependimento
junto ao de culpa não veio. O corpo jogado no chão quase sem vida não era o de Jest, por segundos.

Os olhos dele estavam nela quando se
fecharam. Ela mal deu um passo e caiu, os olhos ainda no corpo sem vida a sua
frente, e depois para a mulher dentro
de um monstro logo a frente. Os dois mortos. Finalmente oxigênio voltou aos seus pulmões e Cath conseguiu ouvir o som de asas próximo a ela.
Isso a fez retornar para si mesma e procurar por Jest. Ele já estava ao lado dela, os olhos continuavam perplexos e orgulhosos e ela não perdeu tempo ao tocar nele. No pescoço dele. Verificando cada parte da pele dele.
As mãos de Cath foram seguradas por mãos maiores e gentis, diferente das dela naquele momento de desespero.

-Está tudo bem. - Jest afirmou com
a voz calma, um sorriso começando a
curvar seus lábios.
- Ele iria te... - a voz falhada mal foi
ouvida por ela mesma.
-E você me salvou.
O nó que estava na garganta de Cath se apertou ainda mais e as lágrimas começaram a deixar seus olhos. Os braços de Jest estavam imediatamente em volta dela.
-Eu não queria machucar ninguém. Eu matei a esposa dele e agora ele...Para te proteger, mas eu não
queria causar nada disso. - Sua voz foi abafada pelo ombro dele. Desesperada, embargada, contida.-Se alguém deveria ter se machucado
era...
-Nem termine essa frase! Está tudo bem Cath. Você salvou Copas, salvou a
mim. Vai ficar tudo bem e estamos
seguros. Você merece a felicidade...

As palavras foram sinceras e o corpo
dela relaxou mais um pouco ao redor
dos braços dele. Um lugar onde ela se sentia realmente segura.

- Você é a minha felicidade. - ela
proclamou baixinho e Jest deixou um
beijo nas bochechas dela, fazendo as
lágrimas pararem de cair.
Pela primeira vez Cath notou que
a lama estava quase os afundando
e que eles tinham plateia.
Jest se levantou primeiro e ofereceu uma mão a Catherine.
De pé ela secou as lágrimas e não fez menção nenhuma de soltar a mão dele. Mary Ann não pareceu hesitar quando
correu até Cath e se jogou aos pés
dela.
-Você voltou por mim...Eu te
imploro por perdão, Cath, por favor.

Eram os olhos de Cath que estavam
perplexos agora, como o de todos os
outros.

-Mary Ann eu já perdoei você. Se
levante, por favor. Precisamos sair
daqui...-o olhar dela se voltou para
o Chapeleiro enquanto segurava nas mãos da garota para levanta-la.- Rápido.

Não foi um pedido, pareceu quase
uma prece. Catherine estava
desesperada e assustada por tudo que
tinha acontecido, feito.
-Claro, Rainha. - ele disse sem
abaixar o olhar outra vez para os
corpos no chão.
-Cath! Por favor, me deixe ir com
vocês. Seus pais não estão felizes com
tudo isso e eu tenho medo deles.
Estão muito irritados.
Por ela Mary Ann poderia ir. Imaginar ela e a amiga juntas em sua cafeteria trazia uma esperança estranha naquele momento. Mas não era algo que Catherine deveria decidir, não por completo.
Seu rosto voltou para o de Hatta, suplicante pela segunda vez.

-Depende apenas de você, amor.
Está desesperada o suficiente para
passar pelo espelho? Abandonar tudo
que tem em Copas e ir para Xadrez?

Mary Ann pareceu se perguntar a
mesma coisa.

-Sim...- não tinha certeza alguma
em sua voz.
- É o que veremos. - Hatta a desafiou voltando a andar e Mary Ann se
levantou. Jest colocou a espada em
seu chapéu, passando
o braço pela cintura de Catherine em seguida e Corvo os acompanhou até o destino pelo qual já deveriam ter passado.

Mary Ann estava de fato desesperada
o bastante.

-Eu não precisava passar por uma
provação? - Cath perguntou confusa
notando Hatta pegar uma garrafa.-Ou era apenas a charada?

-Você se provou digna quando foi atrás de um destino que te colocaria como a vilã louca de uma história apenas para salvar a amiga que te traiu. E além disso, ter mudado esse destino.

Ela refletiu. A vilã louca de uma
história...

- Peguem uma garrafa e
bebam. E aliás, Lady Pinkerton, a
charada já era uma ótima provação,
mas você sempre gosta de se mostrar.

-Ou é o Senhor que sempre gostou
de implicar comigo? - Ela não
conseguiu se impedir de rir.

-Como eu já falei antes, querida.
Vão em frente. Em algum lugar atras do espelho tem uma coroa esperando por você. Precisamos ter certeza de que cruzou a divisa. Entraremos logo depois de você.

Cath e Jest trocaram olhares e depois
sorriram um pro outro, brilho
aparecendo em ambos os olhos antes de virar juntos metade do líquido da garrafa, não demorando a entrar
naquele espelho.

A coroa estava ali.
Depois de quase dois dias se aventurando em Xadrez, eles tinham conseguido. Tinham chegado, e agora estavam ali. Eles iriam ser felizes.
Do trono o rei branco observava a cena com um sorriso de lábios apertados.
Quem pegou a coroa branca fora jest e levou até ela.
-Lady Pinkerton, se me der essa
honra... - ela assentiu, uma clara
certeza.
-Eu Jest, Torre do reino
Branco, declaro você, Catherine
Pinkerton, a mais nova Rainha!
Que a coragem, calor e amor nunca faltem em seu reinado, vossa majestade.-A coroa foi colocada na cabeça de Cath e então Jest liderou uma reverência que seguiu por todo o salão.

-Eu...Posso te beijar?

Para Jest que estava seguindo exatamente os protocolos de coroação foi uma surpresa agradável ouvir aquilo da menina. Um tom vermelho
tomou as bochechas dela, e ele tomou
aquilo como um sinal de que ela
nunca deixaria de ser de Copas.
-É evidente que sim, minha Rainha.
Mas se me der as honras mais uma
vez..
Ele pediu se aproximando dela. Um sorriso apareceu nos lábios de Cath em afirmação. Os dedos de Jest se
moveram ao queixo dela de forma
delicada, uma obra esplêndida na
frente dele.
-Vai me chamar de "Minha Rainha"
de agora em diante?
-Ou "Vossa Majestade", mas "Minha
Rainha dos sonhos de massa,
esperança e Xadrez" também é
muito interessante, o que acha?
-A segunda opção, com certeza..
Ela fala e sem lhe dar tempo pra mais perguntas, pressiona seus lábios contra os do garoto, levantando uma salva de palmas e vivas por todo o castelo.


Postando únicamente pq me pediram kkk pq eu tenho um ciúmes imenso.
Mas acho que todos concordam que essa história merece um final melhor

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