capítulo três

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Domingo, 10 de Maio

A forte luz do dia invadiu a visão de Scorpius assim que abriu seus olhos. Não podia distinguir bem onde estava, mas sabia ao certo que aquele lugar não era seu dormitório.

Semicerrou os olhos para adaptar-se mais facilmente à claridade. Conseguia ver que estava completamente vestido de preto, e também que haviam salgueiros à distância. Não havia muito para olhar, estava em uma campina vazia.

É apenas mais um sonho, Scorpius. Concentre-se em voltar à realidade.

O loiro estava mais que acostumado com aquela situação, desde criança seus sonhos eram profundamente vividos, mas nos últimos tempos Scorpius encontrava-se imerso neles cada vez mais frequentemente.

Um grande objeto de madeira que não estava lá antes surgiu a alguns metros do garoto, que poucos passos a frente, descobriu que era um caixão. Sua mente covardemente o fez lembrar-se do funeral de sua própria mãe. Scorpius tentou dar alguns passos para trás, fugir da situação, não se sentia preparado para ver o rosto sem vida de Astória novamente, sem mais nem menos. Mas seus pés não o obedeciam, apenas continuava caminhando na direção do caixão.

O loiro fez força para fechar os olhos, tentou virar de costas, jogar-se no chão, mas nada adiantava. Seu corpo não obedecia nenhum de seus comandos.

Ao chegar perto o suficiente, Scorpius espantou-se e sentiu um arrepio subir pela coluna. O corpo no caixão não era o de sua mãe, mas sim o seu próprio, pálido, imóvel e rígido. De fato, estava morto.

"Ele era um bom garoto." A familiar voz de sua avó, Narcissa Malfoy, despertou sua atenção. A mulher segurava um lencinho de papel na altura do nariz, ao seu lado, Lucius tinha uma postura um pouco mais ríspida, porém, ainda visivelmente sensibilizado. Draco, por sua vez, parecia desolado, mesmo que nenhuma lágrima escorresse de seus olhos.

"Era um bom garoto, de certo, mas não teve grandes feitos. Não honrou seu sobrenome." Lucius manifestou-se friamente. Não houveram objeções, nem mesmo da parte de seu pai.

Os avós de Scorpius deram as costas ao caixão, agora caminhavam em direção à floresta de salgueiros. Draco deixou um elegante buquê de Amarílis sobre o peito do filho, logo em seguida alcançando os próprios pais que seguiam para longe da campina.

Agora, duas outras silhuetas aos poucos se tornavam reconhecíveis na distância; Rose e Albus, com os braços entrelaçados, vinham em direção ao corpo de Scorpius. A garota, que trazia consigo uma única Petunia, cuidadosamente encaixou o caule da flor entre suas mãos sobrepostas. Já Albus tirava do bolso um pequeno artefato que Scorpius rapidamente reconheceu como a pulseira que havia dado ao amigo de presente, o par da sua própria.

Albus deslizou a pulseira para dentro do bolso do colete do loiro.

"Eu não preciso mais de você."

[...]

Scorpius despertou com o rosto úmido de lágrimas, ofegando e sua frequência cardíaca estava completamente descompassada. Respirou fundo. Era apenas um sonho - disse a si mesmo, mentalmente, para tentar acalmar-se.

Alcançou a varinha no meio da bagunça de sua mesa de cabeceira.

"Lumos." Sussurou.

O relógio de parede acima da porta indicava que pouco passava das cinco da manhã, o garoto suspirou, frustrado, não conseguiria voltar a dormir e sabia que em consequência passaria o dia inteiro sonolento. Para completar, seu travesseiro ainda estava completamente encharcado.

Pegou-o com uma das mãos, estendendo-o à sua frente, e com a outra, fez com que um jato de ar quente
saísse da ponta de sua varinha.

Com um pequeno baque, algo que havia caído da fronha de seu travesseiro bateu em seu joelho. Tateou o objeto e imediatamente o reconheceu, mas iluminou-o com a varinha para ter certeza; segurava em suas mãos a frágil pulseira de couro enfeitada com argolas azuis e pretas e um minúsculo pingente de prata no formato de uma pena de hipogrifo. A mesma de seu sonho, gêmea à que Albus tinha, ou pelo menos, um dia teve.

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