Party

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A festa à fantasia anual da Koski S.A. era o momento mais aguardado do ano para todos os funcionários. Até para os que não curtiam festas, já que a empresa promovia jogos valendo bônus incríveis em dinheiro e prêmios caros. 

O escritório bem sucedido, apesar de jovem, cresceu rápido, gerando lucros estratosféricos para a maior acionista, Beatrice Koski, que fazia questão de dividir boa parte do rendimento com os responsáveis pelos números. 

Apesar disso, Ava estava exausta e tinha um bom motivo para duvidar da bondade de Beatrice. A pessoa por trás da ótima gestão era uma mulher ranzinza e boa parte do tempo, solitária. Almoçava sozinha na sala do escritório e quase nunca sorria, apesar de ser minimamente educada.

Naquele mesmo dia, esteve presa em sua mesa por quase três horas além de seu horário de trabalho, terminando um projeto gigantesco, com um prazo ridículo. O projeto para o novo condomínio de luxo era um escândalo de tão importante. Possivelmente seu maior e melhor trabalho até ali, estava animada, mas também tensa. 

Beatrice sabia ser exigente e não fazia questão de facilitar sua vida. Em nenhum sentido. Ela estava dividida entre admirar o foco da mulher, odiá-la por ser tão séria. Queria poder dar uns sorrisos no meio das reuniões, comentar sobre qualquer coisa engraçada, mas sempre que tentava fazer uma piada, era cortada ou ignorada. 

Além disso, a dona da empresa fez questão de realocar sua mesa para a sala ao lado. O que fazia dela a única pessoa a dividir o andar com a Beatrice Koski, que vivia levando pessoalmente pilhas e pilhas de documentos dos projetos, incluindo quando ela estava prestes a deixar o escritório, morrendo por sua cama macia. 

Virou mais uma taça de vinho, tentando relaxar um pouco. A festa no meio quando ela desceu, estava algumas taças atrás de todo mundo, de qualquer forma.

Suas amigas estavam dançando, quando ela notou a presença de alguém ao lado no balcão. A pessoa fantasiada de médica da peste bubônica. 

— Acho que você é a única que eu não identifiquei até agora. — Sorriu para a mulher, aceitando o copo do que parecia ser uma bebida de morango.

— Nem por eliminação? — Balançou a cabeça, notando que Lilith, a única que não tinha visto ainda, vestia uma fantasia de vampira. 

— Nem pela voz. Não vai dizer quem é, mesmo? — Negou com a cabeça e Ava sorriu curiosa.

— Vamos dançar? — Concordou, segurando na mão livre da mulher que carregava a bengala do traje na outra.

Assim que chegaram a pista, teve sua cintura puxada para perto, segurou o riso quando o bico de pássaro tocou seu rosto.

Edge of seveteen na voz rasgada da Stevie Nicks soava alto do aparelho de som. As duas se divertiram cada segundo da música, até um reggaeton começar a tocar em seguida.

— Não sei dançar isso. — Berrou com a voz abafada contra a máscara e Ava sorriu, tomando as rédeas da dança. 

Rebolando de costas com a mão livre da mulher mais alta entrelaçada a sua, na altura de sua barriga. A luz baixa e os outros casais se pegando facilitavam a imersão das duas num clima sensual enquanto o Bad Bunny dividia os vocais com o Arcangél.

Ava virou de frente sem aguentar mais sentir tanta vontade de beijar a mulher desconhecida sem saber sequer se ela era beijável. Vai que ela tem bafo. Pensou.

— Vem comigo. — Puxou a mão que já estava entrelaçada a dela há algum tempo, guiando a mais alta até o armário ao lado do banheiro. Tateou a luz. Queimada. Que ótimo.

A mais alta jogou a bengala em qualquer lugar no chão e usou as duas mãos para pressionar seu corpo contra a parede. Arfou supressa, subindo as mãos para tirar a máscara de pássaro que já estava enchendo seu saco, mas encontrou uma balaclava no caminho.

— Eu levo muito a sério a fantasia. — Sussurrou no ouvido para morder o lóbulo de sua orelha em seguida. Ava puxou o tecido até a metade do rosto, a pouca luz a impedia de identificar quem era de qualquer jeito, pelo menos não tinha bafo então ela só avançou.

As línguas se tocaram desde o primeiro momento, o beijo era desesperado, cheio de segundas intenções e tinha gosto de álcool.

O ar faltou para ambas, então a mais alta arrastou a boca até o pescoço de Ava, beijando, chupando e marcando a pele. Ela pegou impulso, fechando as pernas na cintura dela, rebolando e aumentando o atrito entre os corpos. A sala estava quente como o inferno quando a outra alcançou o zíper do macacão.

— Posso? — Perguntou com a voz abafada, ainda maltratando seu ponto de pulso, já vermelho.

— P-por favor. — O objeto quase foi arrancado do tecido, ela tateou a pele quente e suada, voltando a beijar a boca ofegante, arrastando a calcinha de renda para o lado, gemendo ao constatar a umidade ali.

— Qual a cor? — Perguntou e Ava riu.

— Vermelha. — Respondeu, tateando até encontrar o balcão do armário, desceu do colo da mulher, sentando no móvel e puxando o corpo de volta para perto.

Se perderam em um novo beijo, agora mais sensual e lento. Ava levou a mão dela até seu centro, precisando de atenção. O que teve, como nunca antes.

Se desfez nos dedos talentosos da mulher, tombando a cabeça para frente, ainda sensível. Levou um minuto para controlar a respiração, descansando com a testa no ombro coberto pelo tecido da fantasia.

— Posso tocar você também? — A mulher apenas ajeitou a balaclava novamente, ajudando a designer de interiores a colocar a roupa no lugar e antes que ela pudesse impedir, ganhou um último beijo.

Foi deixada sozinha, ainda ofegante, menos bêbada e um pouco irritada. Precisaria esperar até a segunda para saber quem era. 

— Parece que alguém beijou a Harley Quinn. — Camila zombou da amiga, assim que entraram no carro. Ela se desfez do tecido que cobria seu rosto e encarando a pele toda suja do que parecia ser tinta branca.

— Ela não sabe que fui eu.

— Quê? Beatrice! Isso não é errado?

— Não, quer dizer, não sei. Ela topou mesmo sem saber quem era, então, não deve ser. — Camila deu de ombros.

— Será que ela sabia que era você? — A engenheira negou.

— Fui discreta de propósito, mas se ela topou, existia a possibilidade de ser eu também, certo? Eu trabalho aqui.

Ava pegou a máscara do chão antes de sair. Adoraria entregar pessoalmente a mulher misteriosa. Ou não.

Labyrinth  | Avatrice [ShortFic]Onde histórias criam vida. Descubra agora