01 - Quente.

322 53 1
                                    


Para Neil, assistir a primeira neve com o time era quase como um ritual obrigatório.

Assim que o clima esfriou, ele arrumou suas malas com tudo que precisava e até o que não precisava. Colocou dois casacos, já que Andrew sempre lhe roubava um, e um par de luvas a mais por precaução, caso Aaron vá queimar as dele de novo esse ano.

Neil amava tudo sobre o dia de hoje, desde o céu nublado que trazia um arzinho frio delicioso até o rosto inchado de Andrew por ter se levantado mais cedo do que o comum.

— Bom dia, Drew – disse.

Andrew se enfiou em sua poltrona em formato de gatinho, enrolando-se com o lençol que ele trouxe do quarto. Neil riu e olhou para o relógio na parede. Eram cinco e vinte da manhã.

— Eu fiz chocolate quente.

Andrew se remexeu, seu cabelo longo e bagunçado caindo para fora do lençol. Os fios loiros estavam maiores do que o comum, então Andrew tinha que prendê-los em um rabo de cavalo minúsculo sempre que ia dormir para que não ficassem caindo em seu rosto. Quando acordava, o rabo de cavalo estava tão embolado quanto um ninho de passarinho, e Neil podia usar os fios de cabelo no rosto como desculpa sempre que queria tocar as bochechas de Drew.

— Com leite? – o ruivo perguntou, pegando as canecas dele e de Andrew no armário de parede.

Elas combinavam. 

Neil ainda se lembrava perfeitamente do dia em que Andrew e ele saíram para comprar coisas novas para o apartamento, e ele viu as canecas pela vitrine de uma loja de cultura chinesa. A estampa era diferente, mas juntas elas formavam a foto do casal de uma novel chinesa de sucesso que ele leu inicialmente por tédio, e acabou se tornando um grande fã. 

Andrew fez uma careta quando percebeu que Neil estava olhando, e Neil disse que voltaria para comprá-las mais tarde. Ele acabou se esquecendo, no entanto, e quando voltou na loja as canecas não estavam mais lá. Neil voltou para casa como uma criança emburrada, realmente chateado, mas olhou para o balcão da cozinha, e as canecas estavam lá. 

Andrew havia passado na loja antes dele e comprado em segredo, e Neil se apaixonou por ele de novo.

— E açúcar – o loiro respondeu, finalmente se levantando da poltrona.

— Exagerado – Neil resmungou.

Andrew trouxe seu lençol consigo até a mesa da cozinha, se embolando em um montinho de calor enquanto bebia seu chocolate quente com as pernas e os braços encolhidos para dentro do lençol. Neil pediu permissão para prender seu cabelo, e Andrew disse sim. Ele tocou o couro cabeludo com cuidado, fazendo carinho enquanto arrumava o rabo de cavalo de Andrew. 

— Me lembre de cortá-lo – Andrew disse.

Neil soltou um resmungo.

— Está bonito.

— É trabalhoso ter que prendê-lo toda vez.

— Eu não me importo – deu de ombros. – Eu gosto. Posso prendê-lo para você sempre que precisar.

Drew murmurou um som parecido com hum, e Neil sabia que isso era o máximo que ele receberia de um Andrew sonolento. Quando ele terminou de prender o cabelo, Andrew encontrou as costas em sua barriga, deixando o peso do corpo cair sobre ele. Neil riu.

— Não pode dormir aqui, Drew – Andrew grunhiu. – Se quiser, podemos voltar para a cama.

— Abby está esperando, viciado.

— Abby está esperando a torta de maçã que você fez pra hoje a noite – Abaixou-se, suas mãos nunca tendo deixado o couro cabelo do namorado. Era macio e quente, Neil gostava. – Kevin pode levar.

Primeira NeveOnde histórias criam vida. Descubra agora