GP

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I.

A casa estava à meia luz, com a televisão ligada em um canal de músicas do youtube. Ele mal prestava atenção no que tocava. Estava com o coração acelerado e tenso pelo que aconteceria. Tinha refletido várias vezes se aquela era uma boa ideia, se eles deviam ter ido a um quarto de hotel ou a um motel, mas tinham resolvido marcar ali num lugar que chamaram de neutro. A razão era que no hotel ou motel estaria clara a razão de o convidador subir para o quarto e havia outros riscos que ele, um gestor, não estava querendo correr. Convidar para o endereço deles assumiria riscos, como o fato de eles não saberem quem era de fato o homem que ela tinha escolhido. Uma casa alugada para o fim de semana em um bairro em que não moravam parecia sob medida para a situação. Havia ainda conforto: era grande, com quartos e uma piscina. Havia privacidade: os muros eram altos, as câmeras eram controladas por eles.

Ela estava tomando banho. Ele já tinha tomado havia 30 minutos sob supervisão dela. Ela gostava de vê-lo assim, parecia muito mais vulnerável, tão submisso, ainda mais corninho dela. Quando terminou, ele se secou. Ela então se aproximou e colocou o cinto prendendo o sexo dele. Fez-se o clique e ela levou a chave até a tornozeleira.

- Tem de estar todo prontinho para hoje, amor.

Ele a encarou com o rosto ruborizado.

- Não sei ainda se plugo você agora ou depois. Se eu fizer agora, você vai abrir a porta para nosso convidado de cinto e plugado. Mas a humilhação será diferente se fizer na frente dele. Que incerteza! – ela riu.

Ele encarou o chão. Sentiu-se um nada. Um objeto dela, um "brinquedinho sexual", como ela gostava de dizer desde os primeiros momentos em que se conheceram virtualmente.

- Acho que vou deixar para decidir depois, você está limpinho e preso como um bom sub.

- Que eu devo vestir?

- Hahaha, nada, amor. Vai abrir a porta assim para ele entrar. E só vai abrir quando estiver presente porque eu vou querer sua cara e a do convidado.

Ele engole a seco, sente um tremor e um arrepio por todo o corpo. Suas mãos pinicam. O cinto incomoda.

- Não, estou brincando, vai por aquela bermuda e aquela camiseta branca. A princípio, vai ser sério, depois é que ele vai ver o que você é.

Ele volta a encarar o chão.

- Hoje não vou querer que você me dê banho, porque é preciso você preparar a casa, ele vai chegar em pouco tempo.

Ela abre a ducha.

- Amor, comprou as camisinhas que ele pediu?

Responde com um meneio da cabeça.

- Ótimo, porque as suas não iam caber. Você viu as fotos, ne?

Ela ri para ele, que fica ainda mais vermelho. Encara o chão.

- Vai preparar as coisas, vou ficar cheirosa e gostosa pra ser fodida por um caralho de verdade. Aí vamos ver se você quer mesmo ser meu corninho ou paramos...

Ele ouve essas palavras pela primeira vez ao vivo. E pela primeira vez sabe que não se trata apenas de frases para apimentar o sexo entre os dois. Um frio percorre sua espinha. Recorda-se de um diálogo em que ela dizia que ele pagaria para um garoto de programa fodê-la. Ele tinha dito que seria um bom ponto final da história. Ela tinha rido e escrito: "O ponto final? Meu amor, é só o começo."

Suspira fundo. Expira e inspira. Vai até a cozinha, checa as taças, a champagne gelando no balde, o vinho tinto, vai até a cozinha e olha as entradas e os pratos dispostos. Nota que está nu, apenas de cinto. Vai até o quarto e veste o que ela ordenou. Mal tem tempo para se olhar no espelho e pensar no que virá. O toque da campainha é longo e alto. Olha pela câmera no quarto.

Bate à porta do banheiro.

- Ele chegou.

- Estou terminando, amor. Abra a porta e deixa à vontade.

Engoliu a seco e saiu do quarto em direção à sala e à garagem. Um pensamento estremeceu-o. Como ela estaria vestida quando os visse?

Enquanto abria a porta da sala para ir em direção à garagem, sentiu uma vertigem. Pensou que o chão tivesse aberto sob seus pés. Suas mãos pinicavam, o rosto ardia de vergonha. Ele estava a instantes de abrir uma porta que poderia definitivamente mudar toda a sua vida. Para um desconhecido. Para um garoto de programa que ela tinha selecionado na frente dele.

Vieram flashes de como aquilo tinha começado. Era uma quinta-feira e ela tinha saído com amigos. Ele tinha ficado para terminar um trabalho. Ela tinha chegado por volta da meia noite. Beijou-o na boca, ele sentiu o gosto do álcool. Ele estava apenas de cueca boxer branca na cama, ela de vestido preto.

Ela o encarou.

- Amor, tô com vontade de dar prum pau de verdade na sua frente.

Ele tomou um susto quando ouviu aquilo. Uma coisa era teclarem, fantasiarem, imaginarem, outra ouvir ela na sua frente falando que queria que ele fosse corninho.

- que houve?

- Deu vontade, essa é a verdade. Nessa festa, tinha um cara gostoso que não tirava o olho de mim, veio até conversar.

- Conversar, perguntar se eu queria ir prum lugar mais calmo.

- E você?

- A gente conversou, ele me beijou.

- Beijou sua boca?

Ela o encara e leva a mão ao rosto dele acariciando-o.

- Sim, amor.

Ele a encara. Vê seu coração disparar, o rosto ruborizar, as mãos pinicarem.

- Você gostou?

- Foi diferente, mas tesudo e sabe por quê?

- Por quê?

- Porque eu sabia que tinha você, que ia contar para você, que eu fiquei molhada não por ele, mas porque eu tenho você. Porque eu posso.

- É?

- Caralho, é tão foda ter um submisso aos pés. Muito tesudo.

- Você só beijou?

Ela o encarou e olhou para a cueca dele.

- Sinceramente?

- Sssempre.

- A gente beijou, depois ele começou a me apalpar, tocou meus seios, enfiou a mão por baixo do vestido, passou por cima da calcinha.

- Ele dedou?

- Não deixei ele por o dedo na buceta.

- Por quê?

- Porque não. Não queria.

- Ficou molhada?

- Para caralho, amor. Porque, enquanto ele beijava e me alisava, imaginei você vendo.

- Eu?

- Sim, você no sofá olhando. Imaginei você de cinto e depois sem pra ver se seu pauzinho reagia.

- Você tocou ele?

Ela o encara. Beija seus lábios. Leva a mão para a cueca dele, sente o volume rígido e lambuza os dedos com a baba. Leva até os lábios dele pra ele sentir.

- Toquei, sim.

Ele fica vermelho.

- O pau dele era bem duro e grande, mas senti só por cima da calça e pedi pra ele abrir a calça e ver.

- Chupou?

- Não, mas ele bateu uma pra eu ver.

O toque da campainha o despertou do flashback. 

Contos para VênusOnde histórias criam vida. Descubra agora