1 . Quando tinha 16 anos

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Vou contar como era minha adolescência, mas resumindo eu não tive, porque eu tive que cuidar de casa e irmãos. Eu era uma menina normal, como poucos amigos e amigas na escola, preferia ficar lendo, escutando música.

Sempre sonhei em morar sozinha em um apartamento pequeno com minhas coisinhas em um andar muito alto, onde podia ver os carros passando pela varanda e ouvir de longe o som de carros e buzinas, só que minhas amigas sempre faziam planos de morar juntas, nunca gostei disso, sei que não iria dar certo e não aguento mais arrumar as zonas que não são minhas.

Eu? Fugia de casa só para poder sair, ir ao um parque, admirar a natureza e poder ler em paz, sem perturbações dos meus irmãos e dos meus pais, eu sempre inventava que estava fazendo trabalho na biblioteca com o pessoal da escola, pois em casa me faziam de escrava e colocava-me para lavar roupas, faxinar a casa, me identificava muito com o filme Cinderela, só que não estamos em contos de fadas, isso não era certo, as pessoas te usarem por ser mais fraca, sempre fazia as coisas caladas, pois as raras vezes que abri minha boca pra dizer o que penso e sinto, me bateram e deixaram de castigo.

Naquela época não aguentava mais ficar em casa, eu era uma adolescente com 16 anos e não tinha aproveitado a vida ainda, parecia que eu era casada, sem ter um marido e a vida passa rápido, queria era sair com os amigos, conhecer gente nova, me auto descobrir saber o que eu gosto.

Mas sou tomada pelo choque de realidade. Que amigos eu tenho? Porque eu estava vivendo em livros, esquecendo-se das pessoas e elas se esquecendo de mim, com essa infelicidade de vida, me distanciei de todo mundo, eu era apenas uma menina onde escutava e aconselhava todos, mas eu mesma nunca fui ouvida , então queria aprender andar sozinha e tentar ser uma pessoa normal. Fiquei minha adolescência toda em casa limpando para minha mãe e recendo críticas, quando ela ficava de boa deitada dormindo, porque estava cansada do serviço, eu não conseguia compreender... ela não via as coisas acontecendo em sua volta, meu pai traia ela e ela não sabia.

Eu não fazia nada nos meus finais de semana, era sempre a mesma coisa, eu sempre vivia lendo no quarto, fugindo dos meus pais e tanto que eu lia muito e esquecia o que era vida real, os livros me ajudavam com toda aquela loucura acontecendo.

Então tentei o mais rápido possível foi trabalhar, para ter meu dinheiro e guardar mais da metade do salário para comprar meu apartamento com 18 anos.

Sabia muito bem como a vida seria difícil quando eu fosse morar sozinha, porém arrumar casa, fazer comida, ir no mercado não seria um absurdo já que eu fazia isso para meus pais.

Não foi tão fácil sair de casa já que meus pais queriam meu dinheiro para ajudar em casa.

Quando corri atrás do emprego achei que as coisas iriam melhorar, que ficariam felizes por não ser uma inútil, e também achei que pudesse fugir de arrumar a casa por estar ocupada e cansada do serviço como eles. Mas estava muito enganada quando consegui finalmente o emprego, levei uma bronca porque não avisei que estava procurando, sério ? Que eles queriam que eu ficasse limpando a casa pra eles, o que, pra sempre.

Quase perdi o emprego por causa deles, me prenderam dentro de casa e não queriam me deixar sair, não achei que meus pais fossem tão ruim a esse ponto, já devem imaginar como estava a minha mente por passar por essas coisas.

Esqueci de informar que além dos meus pais, tinha meus três irmãos, um irmão mais velho que não fazia nada  além de ir para festas e pegar uma garota por dia, um do meio e um mais novo que  meus pais nem cuidavam direito, eu que alimentava, levava pra escola, dava banho. O pior disso tudo que o mais velho ia na onda dos meus pais e as vezes fazia sujeira, bagunçava as coisas só pra mim limpar ou ver eu levando bronca dos meus pais.

O engraçado é que eles só eram bonzinhos me tratando como uma princesa e orgulho, me davam até dinheiro na frente da família, amigos e vizinhos, pois a minha vida realmente dia á dia, era difícil de ser vivida. Então eu aproveitava quando eles estavam com visita.

Teve um tempo que me colocaram em um grupo no WhatsApp, não sei nem como fui parar nesse grupo, não tinha nenhum amigo em comum, certamente colocaram um número errado e lá estava eu, no início pensei em sair, mas minha mente me disse , fica no grupo boba, aproveita essas pessoas com DD diferente ninguém vai saber da sua história, e ali vi uma forma de escape, desabafar sobre minha vida com pessoa estranhas que nunca me veriam.

Comecei a falar muito com um menino, o nome dele era Rafael, começamos a nos falar fora do grupo , fomos nós conhecendo aos poucos, tudo começou com minha autoestima baixa, e ele super elogiou minha aparência, e nunca ninguém tinha me elogiado e me colocado pra cima como daquela forma, derrepente ele sabia de tudo sobre minha vida, tudo que acontecia eu contava pra ele.

Rafael morava em outra cidade, algumas horas de mim, por isso a gente nunca se viu e eu nunca tinha pensado nessa possibilidade, quando desabafei e contei sobre o que aconteceu comigo, foi por ele morar longe que me deu coragem , ele tinha me prometido em um dia tentar me ver mas achei que era de boca pra fora, ou não caiu a fixa na minha cabeça que ele realmente gostava de mim e da minha presença mesmo de longe, sempre estávamos conversando, eu passava o meu dia no telefone e sorria aos cantos com as mensagens dele, ele era mais velho e estava se formando na faculdade de Direito.

Achei que estava ocorrendo tudo bem, Rafael me ajudava muito mesmo de longe, foi ele que me fez acreditar que era possível sair de casa, e muitas vezes me ajudava a não me matar, só que ele desapareceu da minha vida, quando eu mais precisei, fiquei devastada, chorei muito, minha vida ficou tudo preto, com ele tinha um pouco de branco de luz, nunca achei que me apegaria tanto a uma pessoa que morava longe.

O meu pai um dia estava batendo em minha mãe sem motivo algum e fui ajudar ela, no final eu que apanhei e fui parar até no hospital, meu pai quebrou minha costela, minha perna e fora os hematomas no corpo. E o pior disso tudo que meu pai não levou a culpa de nada, inventaram que um Ladrão que fez isso comigo, que pegaram meu celular. E minha mãe ficou quieta e não fez nada.

Lembrar do Rafael me deixava muito triste, pois por momentos péssimos da minha vida ele me deu alegria, era o único que me deixava feliz e alegrava meu dia, meu pai quebrou meu celular naquela época então perdemos o contato e quando consegui um celular novo, fiquei com vergonha de chamar ele pra conversar, vergonha de mim mesma e da vida que eu tinha, por ser fraca demais, revoltada por ele nunca ter ido atrás de mim, ele sabia aonde eu morava e onde eu estudava, e das coisas que aconteciam em casa.

As vezes procuro ele nas redes sociais, mas não me lembro do sobrenome dele, já cheguei a mandar carta para a casa dele, mas nunca obtive resposta.

Desde então minha vida mudou muito sem ele, as vezes sinto que não tenho mais motivo pra viver e não  tinha ninguém contar o que acontecia comigo, elas não acreditariam, me fechei mais ainda ao mundo, vivia no automático fazendo as coisas que meus pais pediam, até  criei o plano de guardar o meu dinheiro do emprego que consegui para comprar ou alugar um apartamento, meu plano era fugir de casa sem avisar ninguém, só precisava aguentar essas pessoas até completar 18 anos.

Minha vida em Preto e BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora