capitulo 8 Na fazenda

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Luana me conduziu pelo corredor até o chalé onde ela estava hospedada, na área externa da casa principal. Quando entramos, ela me mostrou o pequeno quarto que eu dividiria com ela. As paredes de madeira antiga, desgastadas pelo tempo, conferiam ao ambiente um aspecto sombrio e opressivo.

— Olha, Kelly, eu fico aliviada por você estar aqui. Confesso que dormir sozinha nesse lugar me deixa meio assustada — Luana admitiu, tentando encontrar algum conforto na situação.

— Concordo com você, Luana. Esse lugar é simplesmente horrível — respondi, fazendo uma careta ao observar as rachaduras nas paredes. O ambiente não ajudava em nada a nossa sensação de desconforto.

De volta à casa principal, encontramos Inês parada no início da escada, com um olhar crítico, pronta para dar sua opinião sobre qualquer coisa.

— Nossa, ela precisa de um retoque urgente — murmurei baixinho para Luana, que riu e concordou.

Inês se aproximou, com um tom de voz carregado de reprovação e leve ironia.

— Como você cresceu, lindinha. E que feio vocês brigarem. Parecem duas crianças de cinco anos.

— Oi, Inês — respondemos, tentando esconder nosso desconforto.

— E você, gostou do chalé? Leve suas malas para lá, ainda estão no carro do Bernardo.

— Olha, tia, eu realmente não posso carregar minhas malas. Vai quebrar minhas unhas e já fiz muito esforço físico hoje — protestei, a frustração evidente na minha voz.

— Se você quiser, pode deixar as malas lá. Vou pedir ao Bernardo para levar para onde for necessário por exemplo um caminhão de lixo — respondeu Inês com um tom de desdém.

Irritada, peguei minhas malas e as levei para o chalé. Quando estava saindo do quarto, Bernardo apareceu na porta, me observando. Ficamos sozinhos em frente ao chalé, o ambiente carregado de uma tensão que eu não sabia como lidar.

— Você é linda, sabia? — Bernardo disse, com um tom que eu não esperava.

— Eu sei disso. Não é a primeira vez que ouço isso — respondi, tentando manter a calma.

— Ah, é? Então você se acha, né? — ele provocou, um sorriso no rosto.

— Para de me cercar, garoto. Eu não estou interessada — retruquei, começando a me irritar.

Bernardo se aproximou e, de repente, me puxou para mais perto. Antes que eu pudesse reagir, ele me beijou, com uma intensidade que me pegou totalmente de surpresa. O calor do seu corpo e o toque dos seus lábios fizeram meu coração disparar, enquanto uma confusão de sentimentos me dominava. Por um momento, quase cedi àquele beijo, mas logo o empurrei levemente, tentando recuperar o controle da situação.

— Pare, por favor — exigi, a voz trêmula.

Ele se afastou imediatamente, com um olhar de arrependimento. — Desculpe, Kelly. Eu não sei o que me deu.

Ainda tentando entender o que acabara de acontecer, senti minhas bochechas queimarem de vergonha. Foi então que a Inês apareceu.

— Que absurdo, Kelly! Já está aqui com um homem? Mal chegou e já está assim? — exclamou Inês, sua expressão era uma mistura de choque e desaprovação. Luana, Apolo e Natacha chegaram logo em seguida, todos com os olhos arregalados.

O constrangimento tomou conta de mim, e tentei me explicar, mas ninguém parecia disposto a ouvir.

— Eu não queria, eu juro — murmurei, minha voz quase falhando.

— Inventar desculpas não vai ajudar, Kelly — Natacha disse com frieza.

— Que vergonha, Kelly — Apolo completou, desapontado.

Inês voltou seu olhar severo para Bernardo. — Bernardo, você não tem vergonha? Você tem namorada e faz isso?

— Como assim, namorada? — perguntei, surpresa e ainda mais confusa.

— Sim, ele tem uma namorada, e é uma pessoa muito gentil, ao contrário de você — respondeu Inês, com uma frieza que cortava como uma lâmina.

— Saiam todos do meu quarto, quero ficar sozinha! — gritei, sentindo as lágrimas se formarem. Não podia acreditar que Bernardo tinha uma namorada.

— Do seu quarto? Aqui é diferente. O que você pensou, que viria aqui e se agarraria com o primeiro que aparecesse? — Inês retrucou, sua voz cheia de reprovação.

— Não é isso que você pensa — tentei me defender, mas suas palavras eram implacáveis.

— Bernardo, eu não vou contar para sua namorada. Sei que vocês têm um futuro lindo juntos. Homens são assim, se divertem com a primeira que aparece. Mas não se preocupe, o assunto termina aqui. Agora quero todos vocês prontos para o almoço, sem mais discussões — finalizou Inês, saindo com autoridade.

— Quer conversar, Kelly? — Apolo perguntou, tentando ser compreensivo.

— Não, Apolo, obrigada — respondi, ainda tremendo.

— Kelly, deixa eu explicar? — Bernardo tentou se aproximar, com um olhar arrependido.

— Bernardo, não quero explicações. Só quero que você saia da minha frente e não apareça mais — retruquei, minha voz carregada de amargura.

Enquanto ele se afastava, me senti esmagada pela vergonha e pelo desespero. O chalé, já sombrio, agora parecia uma prisão.

Uma patricinha no Rio de janeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora