2º capítulo

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Setembro de 2006

Se tem uma coisa que odeio nessa vida é ir para a merda da escola

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Se tem uma coisa que odeio nessa vida é ir para a merda da escola. Detesto aquelas pessoas me bajulando por ser filho de um dos donos. Meu pai diz que é assim que tem que ser mesmo. Eles tem que respeitar a minha grande diferença. Um dia perguntei que diferença toda era essa e ele ficou muito bravo…
— Como assim, que diferença é essa? — falou indignado. — Você é o meu herdeiro. Único herdeiro! Eles devem tratar você como um príncipe.
— Por quê?
— Porque você é superior a eles. Entendeu? Nunca deixe ninguém diminuir você.
Desde então venho tentando me acostumar com isso. Algumas vezes não é nada ruim, como por exemplo, nunca precisar ficar na fila da cantina, ou poder entrar e sair a hora que eu quiser da escola. Nunca sou reprovado e nem preciso me esforçar tanto para não ser.
Os professores não podiam me contrariar e isso era ótimo. Principalmente o Adalberto, professor de ciências. Ele adorava humilhar todo mundo, mas comigo não se metia e ainda me bajulava.
Claro que eu sabia que era devido ao meu pai, mas o que importa? Estando fácil pra mim, que se dane o resto!
Soube pelo inútil do Luiz que tinha uma aluna nova na sala. Como eu não estou nem aí, não me preocupei em ver quem era.
Mas ela se fez notar. Todas as perguntas que eram feitas nas aulas, ela levantava a mão quando os professores perguntavam quem sabia. Uma verdadeira CDF.
Detesto essas pessoas que se acham mais inteligentes do que os outros.
É óbvio que isso não tem nada a ver! O que faz você ser importante é o que você tem e o que você manda. Meu pai sempre disse isso.
Estava na hora do recreio e eu fiquei de longe observando essa cdfzinha. Ela tem os cabelos muito arrepiados, parece que levou um choque e fez tudo subir. Ou é uma porca que não se cuida mesmo.
Talvez a última opção, porque ela se preocupa mais com as respostas para dar aos professores do que com todo o resto. Inclusive a aparência.
— O que você está olhando?
Revirei os olhos. Alice parece um cão de guarda. Fica me vigiando o tempo inteiro. É uma chata! É minha prima, mas que garota chata!
— Que te importa?
— Vai a merda, Davi! Só estou me perguntando se gostou da esquisitona.
— Tá maluca? — perguntei, irritado.
— Você não tira o olho dela.
— E o que você tem com o que eu tô olhando? Porra!
— Você é um babaca! — Saiu de perto de mim finalmente.
— Qual foi o problema agora? — Mario se aproximou.
— O de sempre. Ela adora me irritar.
— Ela gosta ou você que se irrita com tudo? — debochou.
— Vai a merda, Mario!
— Ih já vi que hoje estamos de péssimo humor.
Nem respondi, porque realmente estou com um humor do cão e nem sei porquê.
Mas logo descobri. Parece que o sexto sentido estava bom nesse dia. Assim que cheguei em casa, meu pai fez um inferno! Falou na minha orelha um tempão. Me enchendo o saco. Dizendo que eu tenho que ser mais forte, que tenho que ser mais intimidador.
Aí vinha minha mãe e brigava com ele falando que eu tinha apenas doze anos e isso não era coisa que se ensinasse a uma criança, aí ele rebatia e dizia que eu já era um homem feito.
Que inferno!
— Que homem que nada! Ele tem muito o que amadurecer ainda!
— Eu não sou criança! — falei irritado e como sempre, fui ignorado.
— Tem que aprender a ser homem desde já! Senão vai ser um banana, medroso e frouxo!
— Eu me arrependo tanto do dia que me casei com você!
E foi nesse momento que eu saí de casa. Não queria ouvir aquela discussão mais uma vez.
— Vai sair, senhorzinho? — Jonathan se aproximou perguntando. Ele é o motorista do meu pai.
— Não te interessa!
Passei por ele igual a um furacão e ignorei quando me chamou. Precisava ficar sozinho e respirar um ar que não fosse o de dentro de casa.
Odeio quando eles ficam discutindo como se eu não estivesse ouvindo!

***

No dia seguinte fui para a escola no horário normal só para não ter que cruzar com meus pais. Minha mãe dorme sempre até quase meio dia e o meu pai sai uma hora depois do horário que tenho que sair. Não gosto de chegar tão cedo, mas hoje foi necessário. Os dois focaram tanto neles mesmos que nem perceberam que saí ontem e muito menos que voltei.
Se eu quiser dormir fora, eu posso numa boa que eles nem vão notar. Pelo menos tem um lado positivo nisso tudo. Posso sair e voltar a hora que quiser e não vou ser criticado nunca.
Notei que alguns alunos ficaram me encarando sem entender, porque eu nunca chegava na hora certa.
— Algum problema? — perguntei e logo balançaram a cabeça em negação e saíram de perto.
Isso também é bom. Assim os otários que eu não quero perto, ficam bem longe. Tudo por causa do meu pai.
Até cheguei na hora, mas fiz questão de ficar no pátio e só entrar na segunda aula. Não tenho paciência para escutar ninguém tão cedo assim.
Foi aí que vi a nerdzinha chegar correndo e toda atrapalhada com a mochila nas costas. A mochila era maior do que ela e se bobear pesava mais de sete quilos. Ela já não sabe andar direito sem peso, com peso então… estava vendo o momento de ela cair no chão. E eu não perderia a oportunidade de rir, é claro.
Ela não caiu, mas eu não aguentei e me aproximei.
— Quem diria que uma nerd tão sabichona também perdesse a hora da escola de vez em quando…
A menina procurou ao redor, acho que para ver se eu estava falando com ela mesmo.
— Eu sou sabichona?
— Quase a dona da razão — debochei.
— Não sei do que está falando.
— Pra quem responde tudo o que os professores perguntam.
— Ah… isso não é ser sabichona, apenas quer dizer que eu estudo.
Soltei uma gargalhada e ela me olhou com as sobrancelhas franzidas.
— Acha que vai ser alguém por isso? Se toca, garota! Nada disso importa. Quando for mais velha, vai ver que só o poder e pessoas realmente importantes se dão bem na vida. Bolsistas e pobres coitados como você, só servem para nos servir.
E foi nesse momento que o olhar que ela me lançou ficou gravado na mente por bastante tempo…

DEGUSTAÇÃO - Cuidando de um CEOOnde histórias criam vida. Descubra agora