13º capítulo

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Abril 2023

Filho da mãe! Como eu poderia falar não pra essa carinha linda? Implorando com o olhar que queria pintar a parede?— Mas eu vou ficar de olho! E você não pode pintar muito tempo

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Filho da mãe! Como eu poderia falar não pra essa carinha linda? Implorando com o olhar que queria pintar a parede?
— Mas eu vou ficar de olho! E você não pode pintar muito tempo. O cheiro pode fazer mal.
— A tinta não tem cheiro — Davi falou e quase voei em cima dele.
— Toda tinta tem cheiro. Uma ou outra que fica menos tempo fedendo — falei com raiva.
— Essa não tem.
Encarei ele com raiva. Só não meti a mão na cara de novo porque a Júlia estava do lado dele.
— Eu quero ajudar.
— Mas você não precisa fazer isso. É trabalho dele.
— Mas ele está melhorando as coisas pra gente.
Não respondi, pois ela não faz ideia que o Davi está pagando uma pena para não ser preso e nem precisa saber. Pelo menos não as crianças.
— Vamos? Ele ainda tem que lixar toda a parede e só assim você vai poder pintar. — Estiquei o braço em direção a Júlia e sorri, cínica para o Davi.
Ele me olhou sério e não disse nada. Pelo menos está respeitando a menina.
— Até depois então. — Se aproximou e beijou o rosto dele.
Percebi que ficou surpreso. Eu também fiquei. Merda… acho que vou ter que inventar qualquer coisa para afastá-la dele. Isso não é bom.
Então levantou e segurou a minha mão.
— Vamos?
— Sim.
Virei as costas e fui até a  porta. Antes de sair, olhei para trás e o desgraçado sorriu. Miserável! Ele pensa que ganhou. Mas eu vou dar um jeito. Vou sim.

***

Davi passou a semana lixando aquela parede. E eu não consegui pensar em nada para tirar da cabeça da Júlia para não pintar merda nenhuma. Ela estava tão empolgada, que ia todo dia perguntar a ele se já podia ajudar.
Eu nunca vi uma pessoa tão lerda pra lixar uma parede, mas nem estava reclamando da demora do Davi.
Entrei no quarto e me joguei na cama, precisava pensar muito bem em como poderia tirar a Júlia dessa. E meu celular tocou. Olhei o visor e não era minha mãe. Ela me liga todos os dias. Era a Bárbara. Uma amiga minha que não vejo tem um tempinho. Tinha várias ligações da maluca. Atendi.
— Acordou? — perguntou com a voz aguda. Já vi que está nervosa.
— Eu não estava dormindo.
— Por que não atendeu essa merda então?
— Porque estava longe, Bárbara. Por que está irritada? Aconteceu alguma coisa?
— Muitas coisas, mas não posso falar por telefone. Posso passar a noite na sua casa?
— Vixi… Eu não estou em casa.
— Onde você está a essa hora da noite?
— É uma longa história.
— Me conta isso agora!
— Estou em outra cidade. Trabalho. Tenho que vigiar um otário. O Davi! Lembra?
— Como não lembrar? Você só falava dele. Parecia mais que estava apaixonada e não que tinha raiva dele.
— Vai a merda, Bárbara!
Ela riu alto e eu xinguei.  Como ousa falar que eu era apaixonada pelo Davi?!
— Mas explica isso aí.
— Preciso vigiar ele porque tem que fazer trabalho comunitário, pois se meteu num grande escândalo na própria empresa.
— Mentira!? Conta mais!
— Bárbara, por que você precisa ficar na minha casa? — mudei de assunto. Se for entrar nesse eu não desligo nunca mais.
— Fui jogada na rua.
— Não acredito… eu posso ver com a minha mãe.
— Ela já deve estar dormindo. Não quero chatear ela.
— E vai fazer o que?
— Eu me viro! Depois quero saber de tudo desse rolo aí do Davi.
— Depois te conto então. E você me conta direito o que aconteceu com você.
— Combinado.
Ela desligou antes que eu conseguisse perguntar o que ela ia fazer. Já que disse que tinham jogado ela na rua. Ela sempre faz isso! Joga a bomba e não explica nada.
Ia ligar de novo e dar esporro, mas bateram na minha porta com certa violência e me tirou a atenção.
Levantei da cama e abri a porta. Era o Davi.
— O que foi?
— Preciso passar a noite aqui.
Levantei a sobrancelha e logo comecei a rir. Ele suspirou profundamente e esperou meu ataque acabar.
— Tá de sacanagem, né?! É piada.
— Quem dera que fosse. Acha que quero dormir no mesmo ambiente que você?
— Não durma ué! Fique no seu quarto.
— Não dá. Aquele quarto está pior do que tudo nesse lugar. Está atacando minha alergia.
Levantei uma sobrancelha. Não acredito em nada que sai dessa boca.
— É sério merda! Estou ficando com falta de ar. Por que acha que estou demorando tanto naquela merda de quarto? Estou cansado! Mais do que o considerado normal.
— Tá! Para de reclamar na minha cabeça. Vou ver com a Ellen outro lugar pra você.
— Eu já perguntei a ela e não tem.
— Não é possível.
Passei por ele e segui até a Ellen. Não confio em nada do que ele fala. Davi me seguiu em silêncio. Assim que vi a Ellen, já perguntei se não tinha outro quarto.
— Não temos. O quarto que o Mauro usou está com a Cacilda. Ela teve um problema de infiltração na casa dela e está passando uns dias aqui.
— Hum.. e o quarto dele está tão ruim assim mesmo?
Vi pelo canto do olho, que o Davi cruzou os braços quando perguntei.
— É o piorzinho mesmo.
Porra e agora? Não sei se vou relaxar e dormir com ele no mesmo lugar que eu.
— Se você quiser, posso ver um local para ele dormir enquanto a Cacilda está aqui.
— Você disse que não tem.
— Um local fora do orfanato.
Olhei o rosto da Ellen e depois o do Davi e tudo pareceu clarear na minha cabeça.
Os dois estão tramando para saírem juntos e pensam que sou idiota.
— Não tem necessidade — falei. — Ele pode dormir no chão lá no meu quarto até a Cacilda voltar.
Os dois ficaram quietos me olhando e isso confirmou tudo.
— Pegue o colchão e suas coisas e leve pro meu quarto — falei com ele. Encarando com pura satisfação de ter estragado os planos.
— Não acha melhor ele ir pra outro lugar? Não vai ser muito tempo e não tem como ele fugir ou coisa assim.
— Não. Ele pode ficar no meu quarto. Sem problemas.
Percebi ele olhando para ela e então virou as costas e seguiu para o tal quarto ruim dele.
Tem satisfação melhor do que estragar os planos dele? Não!
— Tem certeza que está tudo bem?
— Absoluta. Principalmente porque sei do plano de vocês.
Ellen ficou quieta me olhando com os olhos arregalados.
— Como assim?
— Eu sei que ele te seduziu e você estava tentando arrumar um jeito para tirar ele daqui. Não te culpo, mas te falo de novo: cuidado com ele.
— Eu não..
— Está tudo bem, Ellen. Eu só não posso deixar porque o Davi não é de confiança. Só por isso.
— Será?
Olhei para ela e ignorei sua insinuação. E essa insinuação só confirmou o que eu disse.
— Vou ver se ele já se arrumou.
Voltei para o quarto e ele estava colocando o colchão no chão. Estava com uma expressão de irritação e eu me senti mais feliz em ter estragado a noite dele.
— Aqui da pra respirar melhor? — perguntei fingindo inocência e ele me olhou com irritação.
— Mais ou menos. Ainda estou decidindo se isso foi um boa ideia.
Segui até o armário e procurei meu pijama.
— Eu tenho certeza que você já se arrependeu, afinal, esse plano foi uma merda.
Saí do quarto e fui para o banheiro colocar meu pijama. Estava me sentindo tão feliz! Tão vingada! As pessoas acham que sou idiota.
Voltei para o quarto e ele estava sentado no colchão.
— O que quis dizer com plano?
— O plano da Ellen, ou seu, enfim, foi péssimo!
Fui para a minha cama e sentei. Ele continuou me encarando com expressão estranha.
— É uma sabichona mesmo — resmungou e deitou no colchão. Ele não estava com a cabeça na mesma direção da minha cama, estava ao contrário. Então meus pés estavam mais próximos da sua cabeça.
Ah… um chutezinho agora…
Foi um ótimo pensamento, mas posso atrapalhar a vida dele de outras formas. Como o que acabei de fazer.
Vou dormir bem? Não vou. Não com ele aqui, mas vale o gostinho de ter estragado a festa dos dois.
Eu amo esse trabalho.

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⏰ Última atualização: Mar 07, 2023 ⏰

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