Acordo rapidamente e me levanto. Nunca fui preguiçosa, não sei de quem eu herdei isso pois meus pais e meu irmão quase hibernam quando caem na cama. Sempre sou a primeira a acordar e sempre preparo o café da manhã, gosto de me sentir útil, gosto de agradar quem eu amo, os únicos que eu amo.
São 6 da manhã e ainda é praticamente de noite, confesso que dormi apenas 3 horas nessa noite. Estava estudando, pretendo ser uma grande arquiteta, porém tenho que estudar muito. Mas estou acostumada a dormir tarde e acordar cedo, porém compenso os dias não dormidos no fim de semana, já que nunca saio de casa.
Muita gente me chama de CDF (eu não faço ideia do que significa essa sigla mas sei que quer dizer que sou uma nerd) mas eu não sou uma CDF, apenas gosto de estudar. Eu tecnicamente sou o exemplo vivo do que quer dizer "exceção", sou considerada CDF mas não gosto de nada relacionado á coisas nerds como quadrinhos, séries e etc. Sou considerada bonita mas não sou nem de perto popular e não chovem garotos na minha horta. Gosto de esportes mas sou péssima em todos os jogos esportivos que já joguei. Amo animais mas morro de medo de qualquer animal que apresente o mínimo de perigo. Enfim, sou uma deslocada, não me encaixo em nenhum grupo de nenhuma coisa. As vezes me sinto mal por isso mas não posso me abater, pelo menos eu tento.
E nunca me arrisco, sabe, as vezes gostaria de me arriscar, ir para festas, me divertir muito, mas não sou assim, não sei como agir, e meus pais sempre dizem para mim e para meu irmão que festas são um desperdício, que ao invés de ir para uma festa é bem melhor sentar em uma cadeira e ler um bom livro, de preferência um clássico, como não gosto de desapontar eles, faço o que pedem, na verdade, nunca os desapontei, mas também nunca os vi terem orgulho de mim, sempre que faço algo bom eles agem como se isso não fosse mais que minha obrigação. Meu irmão pega mais leve comigo, mas em algumas coisas ele é igualzinho aos meu pais.
Me arrumo e desço para preparar o café. Snow, nossa gata, está dormindo tranquilamente no sofá, e Ren, nosso cachorro, espera ansiosamente eu abrir a porta da cozinha. Abro a porta e ele pula em cima de mim, todo feliz, e fico feliz pela animação dele também. Sempre fui boa com os animais, minha mãe diz que todos os animais que já tivemos sempre se afeiçoaram mais comigo do que com eles, o que sempre causou muito ciúme em Thomas, meu irmão.
Termino de preparar o café e começo a fazer panquecas, esse parece ser o típico café da manhã americano, que toda família perfeita americana come, todos dizem que temos uma família perfeita.
Esse é o problema, minha família é perfeita até demais, tão perfeita que beira ao superficial, amo minha família mas devo dizer que gostaria que eles tentassem ser mais humanos do que perfeitos, queria que me contassem seus problemas, que eu sei que existem mas eles escondem, queria que me perguntassem o que aconteceu comigo quando percebessem que estou triste, mas eles não são assim, querem que minha aparência esteja impecável porém não ligam para meus sentimentos. Mas, não posso demonstrar fraqueza, tenho uma vida perfeita, nunca me faltou nada, tenho que agradecer por isso, não posso reclamar, não sou uma filha ingrata.
Termino de arrumar a mesa e como, depois vou assistir TV, está passando Midnight, uma série de pessoas com poderes sobrenaturais e blá, blá, blá.
Essas séries sobrenaturais sempre são a mesma coisa, uma mocinha que se apaixona e descobre que o namorado é vampiro ou lobisomem ou qualquer coisa desse tipo e depois disso só vive em perigo sempre sendo salva pelo amor da vida dela. Sinceramente, isso já ficou muito clichê.
Gosto mais do real, gosto das séries que mostram a vida como ela realmente é, sem rodeios ou viagens, apenas o preto no branco. Gosto daquelas que mostram que nem sempre conseguimos o príncipe encantado, que a vida não é composta apenas de flores e bons momentos, que a fome a depressão a solidão e doenças são males reais e que nem sempre o dinheiro faz com que esses males acabem. Apesar de gostar de ser realista admito que as vezes me permito viajar em um bom romance literário. Me considero uma sonhadora-realista, gosto de sonhar mas sei separar o real da ficção, e sei que nenhum príncipe encantado aparecerá na minha vida, mas as vezes imaginar é tão bom...
Olho para o relógio e já são 6:40, subo as escadas correndo e pego minha bolsa para ir pra aula, meus pais não acordaram ainda e como meu pai está de folga hoje, irão acordar bem tarde. Desço as escadas aos tropeços e pego minha bicicleta na garagem, provavelmente vou chegar atrasada pois sempre vou de bicicleta para a aula e são 7 quilômetros da minha casa até a escola, mas não tem problema, ninguém nunca repara se chego atrasada ou não, minha presença é insignificante naquela escola, só tenho uma amiga, Kriss, e apesar de sermos boas amigas, sei que nossa amizade é só no colégio e que assim que formos para a faculdade iremos nos separar e provavelmente nunca mais vamos ouvir falar uma da outra.
Chego na escola ofegante e atrasada. Entro na sala de aula e como já imaginava ninguém olha pra mim, mas até gosto de ser invisível, tenho pavor de ser o centro das atenções.
Até que Kriss me vê e acena loucamente para sentar do lado dela, ela pode até ser baixinha mas não é tão difícil assim de vê-la para ela acenar como se estivéssemos perdidas e ela me encontrasse. Vou até ela e pergunto quais são as novidades.
-Bradley chamou a gente pra uma festa na casa dele! Claro que precisei convencer ele e tudo mais... Mas o importante é que a gente vai numa festa na casa do Bradley!
-Quando você diz "nós" tenho certeza que está falando só de você, Bradley nem me conhece e ele não chama quem ele não conhece para suas festas... E não posso ir para festas, não quero que meus pais fiquem chateados comigo, Kriss.
-Caramba Julie-certinha! Você tem que se soltar mais, vai ser essa anti-social sem graça até quando? E vai ter tanta gente nessa festa que o Bradley não vai nem perceber que você também está lá!
-Não quero ir a uma festa de pessoas que nem conheço.
-Você conhece eu e o Bradley!
-O Bradley nem sabe que eu existo. Vai você Kriss, lá é um lugar pra pessoas extrovertidas como você, eu não me encaixo lá.
-Eu faço você se encaixar Julie! O Kevin vai estar lá também! Sei que é caidinha por ele, quem sabe vocês não conversam e rola alguma coisa...
-Kevin está com catapora, Kriss, e você sabe que desisti completamente dele. Desista, você não vai conseguir me fazer ir a essa festa.
-Por favooor Julie!
-Temos tempo pra decidir isso ainda, a festa é daqui dois meses não é?
-Sim, tudo bem, Julie-certinha. - com isso, ela me mostra a língua e eu retribuo.
A aula passa voando e quando vejo já é hora de ir embora, como em toda sexta-feira, vou almoçar no restaurante ao lado da escola e encontro minha prima, Thalya, sozinha, em uma mesa do restaurante e vou falar com ela.
Minha prima sempre foi como minha melhor amiga, vivíamos juntas desde pequenas, ela tem a mesma idade que eu e coincidentemente nasceu dois dias antes que eu então quase sempre comemorávamos nosso aniversário juntas. Lembro que quando éramos pequenas fizemos um juramento de sangue que nunca iríamos nos separar, e assim foi, desde sempre, nunca nos separamos e espero que continuemos assim. Ela não estuda no mesmo colégio que eu pois mora bem longe desse colégio, mas isso nunca nos afastou, sempre quando chegamos da aula trocamos mensagens nem que seja para dizer o que comemos no café da manhã. Fazia semanas que não nos víamos pessoalmente então me surpreendi ao encontrá-la no restaurante.
-Thalya, o que tá fazendo aqui?
-Te esperando, tava com saudade da minha priminha!
-Também tava com saudade Thalya, mas sei que não é só isso, você me adora mas não a ponto de andar tudo isso só pra me ver, o que você quer ? -Eu disse em tom brincalhão.
-Tenho uma proposta.
Ela me lança um olhar malicioso e eu soube que não iria gostar nadinha dessa proposta.
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Vamos Ser Heróis
FantasyJulie nunca se sentiu parte de um grupo, nunca se apaixonou, nunca errou, nunca acertou, nunca se arriscou, nunca foi feliz. Até que um dia sua prima lhe propõe uma aventura e sua vida muda para sempre. Ela descobre que existem pessoas com super-pod...