O5 - Pequenas caixas.

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O dia começou diferente, e Soraya não sabia dizer se isso era muito bom, ou muito ruim. Mesmo assim, tinha a sensação que algo não fazia parte de sua rotina perfeitamente organizada. Na verdade, ela nem sabia que caminho estava fazendo, ou que havia um ponto de táxi tão próximo de casa.

— Tudo bem, Lena, pode adiantar o básico... não se preocupe, estou pegando um táxi qualquer, assim chego mais rápido, já que o carro da empresa está demorando mais que o normal.

A chamada encerrou logo em seguida, sem prolongar o assunto. A atmosfera ficou ainda mais estranha, quando ao chegar no ponto, avistou uma morena um tanto familiar caminhando pelas vias de tráfego dos carros. Independente de quem fosse, por que faria uma coisa tão sem noção?

A loira fez um movimento em negação nada discreto com a cabeça, e a confusão só piorou quando identificou a dona de madeixas tão brilhantes e vistosas. Era fato que acordar cedo lhe causava estágios preocupantes de mal humor, além do sono, que não diminuiu mesmo depois de ingerir dois copos de café puro e amargo. Mas uma miragem de Simone Tebet caminhando pelas ruas em sua direção não fazia parte do seu delírio matinal.

Ou parece que agora faria.

— Eu não devo ter salgado a Santa Ceia, eu fiz foi pole dance na cruz.

Reclamou revirando os olhos. Que espécie de perseguição doentia era aquela, afinal? Não podia acreditar, mas estava certa: a advogada não é flor que se cheire e sua face carregada de puro cinismo não a enganava.

— Essa mulher só pode ser louca...

Murmurou sozinha, enquanto ainda observava a cena. De repente, a sensação foi além do cenho franzido. Não era falta de entendimento sobre o que Tebet fazia ali, e sim algo diferente. Na direção lateral do seu caminho, um carro. Era como se pudesse ver o final previsível. Não conseguiu ver o momento em que o táxi bateu contra a mulher, mas sentiu um alívio ─ que considerou absurdo ─ quando imaginou que teria acontecido. Foi possível ouvir as sirenes de longe, mas o barulho não era o de sempre.

Abriu os olhos. A respiração tinha um ritmo diferente; nem agitada, nem lenta, apenas indicava que algo atormentava sua mente. Era um sonho? Que droga de sonho, aliás. Se fosse algo mais íntimo ela até entenderia, apesar de não gostar. Mas algo com instintos homicidas não era agradável.

Assim que regulou seus sentidos, Soraya olhou ao redor, identificando o barulho irritante como um alarme. Porém, por que, em sã consciência, colocaria um alarme para tão cedo no domingo? Prestes a xingar até a própria quinta geração, ela concluiu que aquele não era o som que costumava usar.

O que era pior? Acordar e sequer notar que alguém dormia ao seu lado, ou não lembrar como isso acabou acontecendo? A segunda opção, com certeza.

— Mas que droga... — resmungou desligando o celular, que reconheceu como o de Fernanda — Fernanda!

Chamou, um pouco mais alto do que planejou. A amiga acordou assustada, tanto que acabou escorregando para o lado, caindo de bunda no chão.

— Ficou louca? — questionou irritada, enquanto Soraya suavizou a expressão.

— Como você veio parar na minha cama? E pior, onde está a minha roupa? — o conjunto íntimo era a única coisa que cobria seu corpo.

Thronicke não imaginava, mas a mente malígna da outra reagiu rapidamente, o que a fez arquear a sobrancelha, ao mesmo tempo que a face indicava desapontamento.

— Você não lembra?

— O que...? — a advogada usou um tom baixo, desconfiado.

— Caramba. — ironizou, Soraya percebeu.

Lust - [ Simone x Soraya ]Onde histórias criam vida. Descubra agora