O7 - Declarando guerra.

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O clima nos corredores da Montorini Associates era definido pela ansiedade e curiosidade. Para aqueles que presenciaram o encontro das duas advogadas no domingo, o sol raiou e trouxe uma animação incomum para comparecer ao trabalho. Talvez se perguntem o que isso afeta na vida deles, e é um bom questionamento, na verdade. Acontece que não só de processos e contratos viviam os funcionários da renomada associação, a fofoca também era um ótimo combustível.

Façam suas apostas, eu disse, e os boatos se espalharam como fogo em palha.

O medo de que o confronto pudesse balançar as estruturas do prédio era real, afinal, as duas mulheres igualmente poderosas fariam o chão tremer. Aos que acham exagero, posso dizer que somavam três os anos que acompanharam a rivalidade disfarçada, todo dia temendo que a sala do café se transformasse em um pequeno ringue. As amigas mais próximas da dupla tinham suas teorias sobre o embate, mas a preferência pelo silêncio foi um consenso, acordado entre as três por pura coincidência e cada uma em seu canto. Afinal, se pudessem expor o que realmente pensavam, a resposta não iria agradar nenhuma das envolvidas.

Sem sonhos estranhos ou companhias duvidosas, as advogadas despertaram com as energias renovadas. Ambas focadas em um só objetivo, que envolvia não só o profissional, mas outras questões igualmente importantes, tipo: como seria observar os olhos de onça de Soraya Thronicke com mais proximidade, ou até como seria Simone Tebet sem os terninhos que ela usa como armadura. Ousadas? Talvez! Não se pode negar, entretanto, que aqueles foram os pensamentos que seguiram pelas primeiras horas da manhã.

Claro, haviam várias dúvidas que deviam ser consideradas, elas pensavam: até que ponto seriam a distração uma da outra? O quanto isso implica fora daquele jogo? Até onde iriam para conquistar os próprios interesses? Dentre todas, a última tinha uma resposta rápida e óbvia. O limite era o código penal, abaixo dele tudo era liberado.

E não era crime seduzir alguém.

Era?

Qual seria a acusação? Ser uma grande gostosa? Tenho minhas dúvidas. Entretanto, não é hora de nos preocupamos com as autoridades, em algum momento elas vão colocar suas mãos injustas nos ombros de pessoas inocentes, é inevitável. O mais importante agora é contar como Simone Tebet estava nas garras da onça; não havia doma para um animal selvagem. Não, ela se aproximava sorrateiramente, se fazia notar quando necessário, e dá o bote quando menos esperam. Por isso é perigosa. Seus olhos, grandes e encantadores, transparecendo os pensamentos mais insanos que existem, eram uma perfeita armadilha.

E ela usaria todas as armas. Usaria as íris felinas para encarar até a alma, enquanto as unhas arranham cada pedaço de pele exposta e a respiração quente antecipa o ataque. Algo que pode ser urgente, letal, ou lento e agonizante ao mesmo tempo. Tamanhas eram as possibilidades. E Tebet alimentava uma vontade pessoal de experimentar cada uma delas.

A comparação arrepiou até a espinha da morena, que esperava ansiosamente pelo instante que seria possuída pela presença selvagem de Soraya Thronicke. Porque acreditava que só dividir o mesmo espaço com aquela mulher, já era o bastante para deixar alguém completamente louco. Em todos os sentidos.

Mas era tudo parte do jogo.

Uma atuação perfeita: estava entregue, refém da demônia loira, totalmente encantada pela advogada de curvas estonteantes e língua afiada. Pelo menos a faria pensar que sim. E posso garantir que Simone Tebet consegue ser bem convincente. Tinha toda a atenção da concorrente e iria aproveitar de todos os recursos.

Ela só não contava que Thronicke também não estava para brincadeiras. Por isso, quando a porta do elevador teve um empecilho para finalizar seu trajeto, os olhos focaram na figura que aparecia aos poucos. De longe, a futura interação foi observada por um senhor muito esperto. A perna esquerda da loira foi usada para conseguir uma passagem, revelando a fenda discreta da saia na parte inferior da coxa. Simone teve certeza que a porta abriu de forma absurdamente lenta, expondo sua ruína. Viajou pela pele bronzeada, contornou as curvas marcadas pela roupa: uma saia lápis e camisa social no mesmo tom, o preto de quase sempre. Não deixou escapar o salto que desenhava o pé perfeitamente, transformando a curvatura entre o local e a perna um verdadeiro deslize para pensamentos fora do comum.

Lust - [ Simone x Soraya ]Onde histórias criam vida. Descubra agora