Ela sabe

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Nem posso dizer que foi uma luta. Trevor se aproximou correndo e eu apenas saí do caminho, o fazendo socar a caçamba de lixo. Assim que se abaixou para contorcer de dor, acertei ele com um chute e ele apagou.

Conner desviou de todos os golpes que recebeu sem nem suar e derrubou dois de uma vez com um empurrão. Os últimos dois nós atacamos juntos e acertamos ambos no peito, os fazendo cair com falta de ar, mas nada que os mataria.

Para melhorar a noite, Conner foi comigo até o apartamento e dividimos um fardo de refrigerantes. Ele não parava de olhar ao redor, examinando cada centímetro do apartamento.

- Só tem um quarto – disse ele
- Bem observador
- E você mora com seu irmão
- Sim
- Onde você dorme?
Ignorei a pergunta abrindo uma lata de refrigerante e ligando a televisão.
- Aquilo foi irado. Eu e você contra aqueles caras.
- Foi mesmo – Ele parecia relembrar a cena – Mal posso esperar para um dia poder lutar contra vilões de verdade. Usar meus poderes, ter um traje, fazer uma diferença real.
- É isso que importa? Fazer a diferença?
- Pelo que você luta Damian?
- Para punir os culpados.
- Exato. Eu luto parta que as pessoas se sintam bem, para saberem, que o “S” significa esperança. Não apenas pegar os caras maus, mas também ajudar os bons.

Senti meus ombros ficando mais pesados que o normal e me afundei no sofá. Era estranho ouvir isso de alguém que nunca esteve em uma batalha de verdade. Eu estive em diversas, desde que nasci, e sempre tive a mesma visão.

Dick chegou pouco tempo depois. Ele trazia umas sacolas com comida congelada e parecia exausto.

- Oi – disse Dick, então virou para Conner? – Dick Grayson
- Você é o Asa noturna – disse Conner
- Ah entendi. – Dick sorriu – O garoto que você empurrou da parede de escala é o Superboy.
- Mas ele me perdoou – falei – E somos amigos agora.

Dick ficou surpreso com isso, mas processou a informação com tranquilidade.

- Se estiverem com fome, tem comida chinesa. Damian, se Conner for dormir aqui, vai ter q ser no sofá. Eu já passo muito sufoco dormindo com você.

Conner olhou para mim com uma sobrancelha erguida.

- Piada dele – falei.

Comemos na sala mesmo, assistindo algum seriado antigo de comédia. Dick falou sobre seu dia e as investigações no departamento de polícia.

- Assassinato de um gângster no porto no mês passado e de repente, facções inimigas estão em guerra pra dominar áreas de saída da cidade.
- Por quê? – perguntou conner
- São meios de entrada – falei – De pessoas, armas, drogas. Quem comanda os territórios determina o que entra ou sai.
- E achamos que tem algo chegando. – Dick continuou – Não estão lutando por poder mas sim estão se preparando para algo que vai vir.
- Ou alguém.
Dick encarou seu prato, com a mente distante.
- Bom, eu vou dormir. Vocês também deveriam.

Decidi não falar nada. Dick estava incomodado com algo no trabalho e considerando que passei o dia sem arrumar problemas, exceto uma briga de rua, estava tudo bem.

Não tinha por que perturba-lo ainda mais.

Porém era um trabalho para o Robin. Finalmente algo para fazer nessa cidade.

Na manhã seguinte, contei meu plano para Conner durante a aula de química. O desgraçado quase torrou nossa mesa depois de juntar dois ácidos de maneira brusca por causa da surpresa.

- Não me zoa, filho da mãe – disse ele – Sabe do que tá falando?
- Sim. Nós dois, investigando suspeitos nas fronteiras da cidade. Você ouviu o Dick, todos querem dominar as saídas da cidade por que algo vai chegar.
- Isso não é pra gente. É trabalho para a policia e o Asa noturna, talvez até para o Pacificador ou o Vigilante, mas não pra gente.
- Você disse que queria fazer a diferença. É assim que se começa, encontrando um problema e tentando evitá-lo.

Ele me olhou irritado, mas sabia que usei meu melhor golpe.

- Como quer fazer isso? – Ele perguntou – Tem pistas? Sabe por onde começar?
- Tenho um plano.
- Já bolou um plano?
- Bom, o começo de um. Acho que 12%
- 12%? Você está tirando onda comigo?
- Até o almoço vou ter 30.
- Damian, 30% não serve para agirmos hoje mesmo.
- Eu pago se almoço e de sobremesa juro que vou ter 50% de um plano.
- Fechado.

Na aula seguinte, tivemos educação física. Desta vez fomos para o campo aberto praticar corrida. Rachel estava lá então achei que fosse uma boa oportunidade.

Enquanto Conner ultrapassava todos e 5 segundos, me aproximei de Rachel e puxei conversa.

- Oi – falei, chegando do seu lado. Estávamos atrás de todo mundo, porém todo mundo estava atrás de Conner então foda-se.
- Oi, Damian – ela sorriu para mim. Aquele sorriso era lindo – Seu amigo está bem agitado.
- Ele tomou refrigerante ao invés de um achocolatado no café da manhã, então esse é o resultado.
- Voces dormiram juntos?
- Não. Ele ficou no sofá e eu no chão.
- Era brincadeira

Ela riu e naquele momento senti uma coisa estranha. Algo em meu peito se agitou, como se eu tivesse várias borboletas em meu estomago.

- Aquilo ontem – disse Rachel – Contra o Trevor. Você luta bem
- Sou faixa preta em artes marciais. Luto bastante.
- Em campeonatos?
- Claro. Participo de muitos torneios. Sou bicampeão de karate, sabia?

Ela riu de novo, mas desta vez me senti desconfortável. Era como seu eu tivesse contado uma piada para ela.
Rachel segurou meu braço e diminuiu ainda mais o ritmo. Ela chegou bem perto de meu ouvido e sussurrou.

- Será que o morcego sabe que o filho mais novo está arrumando brigas na escola?

Meu corpo paralisou completamente. Não era possível que ela soubesse. Ninguém além de Conner sabia e ele não contaria para ninguém.

- E quando seu amigo vai usar o “s”?
Eu comecei a correr. Simplesmente fugi dela. Corri tanto que quando notei, Conner era o que estava mais perto de mim.
- Uau – disse ele – Tá com quantos kilos aí?
- Ela sabe, ela sabe. E eu sei que ela sabe.
- Damian, você tá bem? Está quase tendo um ataque.
- Rachel sabe sobre nós.
- O que ela sabe?
- Que somos supers

Ele parou de repente e me segurou para que eu parasse de correr antes de meu coração explodir.

Conner olhou para o outro lado da pista de corrida. Rachel nos olhava, séria, na verdade olhava para mim. Apenas nos encarávamos e Conner também a olhava.

- Eu poderia disparar com minha visão de calor agora e ela já era – disse ele
- Espero que não. Primeiro temos que descobrir como ela sabe e depois garantir que ela não divulgue nada e que seja a única sabendo.
- Meu jeito é mais eficaz, mas entendo por que quer assim. Ouvi seu coração disparar quando chegou perto dela.

No almoço, fomos até o telhado da escola e apresentei meu plano. Como tentativa de esqueceu o que aconteceu na aula de educação física, fiquei pensando em um plano de investigação e consegui bolar um.

- Bludhaven tem quatro formas de entrar e sair. Se estiverem brigando pelo controle dos bairros que levam á saída da cidade, então vamos assumir que são áreas de fácil acesso, onde qualquer um circula. Isso desqualifica a saída leste, que vai para o litoral.
- São bairros nobres. Os riquinhos estão sempre com exércitos de seguranças por lá. – Conner comia uma torta de frango inteira – E a área oeste?
- É distrito industrial, muita segurança também. Isso nos deixa com duas opções: Estrada 52, que vai para Gotham, é onde estão ocorrendo as brigas de gangues e usam bastante como rota de entrega por terra. O norte
- Tem o porto também. Sul.
- Tudo que vem de barco está lá. Entram e saem carros e caminhões do porto. Ninguém suspeitaria de atividades de transporte no porto.
- Então vamos para lá?
- Vamos sim. Encontre-me ás 18h no apartamento. E use um traje

Apenas Damian WayneOnde histórias criam vida. Descubra agora