Terminei de lavar as mãos quando ouvi a campainha tocando.
— Já vai! — coloco o pano de prato por cima dos ombros e sorri vendo Ayla na frente do portão com uma mochila nas costas. — Gosta de bolo de chocolate? Eu fiz para a gente, é o único que sei fazer também.
— Ruiva, só não como pedra porque não consigo mastigar.
Ayla entrou e olhou um pouco para a casa, quando seus olhos bateram no meu irmão ela o cumprimentou.
— Esse desenho é bom demais, você tem um ótimo gosto moleque.
Rafael sorriu presunçoso como se soubesse que era verdade.
Ayla subiu comigo até o segundo andar e olhou ao redor do meu quarto dando uma pequena revirada de olhos ao ver que o mesmo não tinha uma porta.
— Cadê seu pai?
— Foi no mercado. Mas daqui a pouco deve estar voltando.
— Gostei do seu quarto. Não parece nada com a sua personalidade escolar.
Corei notando a roupa que estou usando também.
Meu quarto tem paredes cinzas, e existem vários posters de bandas de rock colados pelas paredes, AC/DC, Kiss, Queen, Metallica.
Eu estou usando uma calça jeans rasgada no joelho com uma camiseta velha do AC/DC.
— Prefiro Kiss, mas estaria mentindo se dissesse que você não tem um ótimo gosto musical.
— Ninguém sabe disso. Normalmente tiro os posters quando a Laís vem aqui. Mas hoje esqueci.
A morena franziu as sobrancelhas.
— Você tem vergonha… de ser você?
— Não tenho vergonha. Só tenho medo.
— Do quê? — Ao ouvir o barulho da chave rodando na porta arrepiei. — Ou será que devo perguntar de quem?
Franzi os lábios.
— Não importa. Vamos começar logo para podermos comer.
A parte que eu mais gostava de estudar com Ayla era porque ela passava a tarde fazendo graça e eu soltava as risadas mais sinceras do mundo.
Quando ouvi uma batida na parede, sequei uma lágrima rapidamente e ajeitei a postura.
— Como está indo o trabalho? Só ouço as risadas das duas.
— Está indo muito bem pai, ainda estamos na parte de pesquisar, nem começamos a escrever ainda.
Meu pai deu um sorriso torto.
— Trouxe lanche para vocês.
— Pai, eu tinha feito bolo para a gente, eu te avisei que não precisava fazer nada.
— Mas precisamos oferecer coisa decente para as vistas, filha. Depois se sobrar um espacinho, vocês comem o bolo.
Fraquejei um pouco ao sentir meu rosto esquentar.
— Tá bom, pode deixar aí.
— Obrigada, senhor. — Falou Ayla entre dentes.
— Pode me chamar de Cláudio. — Falou indo embora.
Olhei para o tamanho do lanche.Completamente exagerado.
— Eu posso levar o bolo amanhã para a escola.
— Não precisa, vou comer isso aqui só depois de provar seu bolo.
Sorri meio sem jeito e voltamos a prestar atenção na matéria que estávamos estudando.
— Você cozinha muito bem, caralho. — Ela disse ao pegar seu terceiro pedaço de bolo— Por favor faça isso mais vezes e leva para a escola. Eu pago se precisar.
— Eu sei que sou incrível.
— Aumentei o ego da princesa?
— Com certeza.
Ayla comeu mais dois pedaços de bolo e depois seu lanche quando decidiu que era a hora de ir já que ainda teria que pegar ônibus para voltar para sua casa.
— Onde você acha essas amizades Estelle? — Perguntou meu pai assim que ela foi embora. — Essa garota fala alto demais.
— Pai, por favor, chega.
— Só estou dizendo, calma.
Deixei ele falando sozinho e subi as escadas sumindo em meio a escuridão do meu quarto.Durante o intervalo eu estava no refeitório quando Ayla chegou e se sentou do meu lado sem pedir licença, ela cumprimentou Laís com um aceno de cabeça e me mostrou a mensagem que enviei.
— O que foi? Disse que era urgente.
Peguei o pote que segurava em meio as pernas e lhe entreguei.
— Isso é um presente para a minha fã.
Ayla abriu o pote e abriu um sorriso de orelha a orelha enquanto saiu saltitante indo até a cantina pedir um garfo.
— O que você deu para a esquisita?
— Pare de chamar ela assim.
— Okay, mas o que você deu? Ela saiu daqui como se tivesse ganhado na mega sena.
— Dei uns pedaços de bolo. Só que dessa vez, com calda.
Laís me olhou incrédula e eu encarei o fundo dos olhos pretos de minha amiga.
— O que foi? Algum problema com isso?
— Você nunca me deu bolo. Por que de repente está a mimando?
— Você não gosta de chocolate. E esse é o único sabor que eu sei fazer. Quando eu aprender a fazer outros sabores, eu trago para você.
Laís que estava com uma cara emburrada logo tratou de abrir um sorriso ao ver seu namorado vindo em sua direção acompanhado de Kaio.
Pedro cumprimentou a morena com um selinho e se sentou ao seu lado, fazendo Kaio sentar no espaço vazio do meu lado.
— Elle — Rangi os dentes ao ouvir o apelido —, você se lembra do meu amigo Kaio, certo?
Assenti vendo que o garoto me olhava de canto.
Sempre achei Kaio um garoto lindo. A pele negra dele tinha um contraste maravilhoso com a luz do sol, sem contar o cabelo cacheado bem definido. Eu poderia sentir minha boca salivar só dele olhar na minha direção.
— Tudo bom, Elle? Tem algum problema eu te chamar assim?
— Nenhum. E estou bem, e você? Vi no seu Insta que entrou em um time de futebol, parabéns.
Ele sorriu sem graça e continuou puxando assunto comigo enquanto a traíra da minha amiga e seu namorado saiam de fininho.
— Sabe, — Disse ele de repente — sempre te achei linda, e eu queria saber se rolava a possibilidade de ficarmos algum dia desses. Podemos sair, nos conhecer melhor, o que você quiser.
Sorri para o menino que realmente parecia envergonhado com sua tentativa.
— Claro. O que acha de tomarmos um sorvete amanhã depois da aula?
Ele abriu um sorriso perfeito com aqueles dentes brancos.
— Fechado!
Após o sinal tocar Kaio me acompanhou até minha sala e se despediu de mim com um beijo na bochecha.
Quando entrei pude ver Laís acenando para mim freneticamente em sua cadeira.
— Vocês fazem um casal lindo. — Ela disse assim que me ajustei ao meu lugar — Me diz que você vai dar uma chance para aquele gostoso.
Suspirei irritada.
— Eu te disse que não queria um relacionamento.
— Não é um relacionamento. Digamos que é, sexo casual.
Encarei Laís que passava um delineado colorido para chamar atenção em sua pele escura.
— Sabe com quem eu quero um sexo casual? Com a minha futura nota mil na prova do ENEM.
— Como você é sem graça. Elle, somos adolescentes, você tem 17 anos. Precisamos viver um pouco. Sem contar que você sempre achou o Kaio lindo.
— Vou sair com ele uma vez e seja o que Deus quiser, entendeu? Se me pressionar não saio nenhuma vez.
Ela sorriu e virou para frente quando a professora entrou na sala.
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Estelle
Romance[PODE CONTER GATILHOS, LEIAM AS TAGS] Estelle sempre quis perfeita. Ela almeja a perfeição. Mas o que seria perfeição para ela? Notas altas? Uma vaga na faculdade dos seus sonhos? Falar várias línguas? Um corpo magro e com curvas? Ou será que é tudo...