Uma coisa não nego, sou competitiva. De tal modo sou que meu único modo de viver é assim, e sempre foi o que me moveu. Quando criança competia com os meninos, não tinha muitas amigas, afinal só tinha uma, mas não nos víamos muito, enfim... sempre tentava parecer mais forte, mais parecida a eles que a mim mesma, por sorte meu
irmão sempre esteve comigo, brincando e sorrindo, era meu companheiro, e com ele nunca estive só.
Assim, talvez, eu digo que nasceu meu espírito, mas seu fim nunca entendi. Competia com todos e por tudo, até mesmo por quem parecia mais cortês ou em minha cabeça imaginava vezes em que fui confrontada, a última palavra tinha de ser minha. Pelos anos de escola que se passaram, desaprendi ou sequer saberia certas coisas, mas é claro este não era o único motivo. E, em minha idade, tolerância é uma mera palavra bonita e em alguns casos um simples ato de desprezo velado, foi quando percebi que nem sempre poderia estar a par de uma discussão, ou que as vezes até eu seria menos que outros, senti o silêncio em meu peito, desejando gritar qualquer coisa que soubesse e mesmo sem provas.
Esse desejo era frequente nas rodas de amigos, e no silêncio eu calava para não parecer tola, por dentro derramava-se o ego. Mas nem tudo era ruim, com eles muito aprendi, minha vida tornou-se a escola, e minha insignificância era espaço que aprendi a dar, para cada um o seu lugar, que por fim encontraria eu o meu.
Assim foi, mas o tempo mudou de novo, como um trem a capotar, prestes a se chocar com uma árvore, teria ela raizes profundas o bastante para suportar? Essa era a parte dual em minha vida, seria eu a capotar ou eu a estraçalhada anciã.
O mundo aqui começou com o desespero e a promessa profunda de novos tempos, a princípio era dor, pisava em um pantanal, onde não sabemos onde é fundo ou se é terra que nossos pés tocam.
Muito profundo foi o meu lamento, pois muitos tinham o seu lugar, e eu nem sequer poderia dizer o meu, estranha em um mar de peixes, com os quais entendi que melhor é a consciência que o conhecimento, melhor o silêncio que o falar, e aqui mais que o ego floresceu, antecedente do orgulho e do querer fazer parte do todo.
Assim, nesse querer fazer parte do todo, mas me vi em desvantagem. Na mesa, um dia, cercada de pessoas convenientemente reunidas: elas por amizade e eu por razão, trataram de contar suas aventuras, e eu que nunca se quer tinha ido a uma festa sozinha -sem contar os aniversários- percebi que os adolescentes que com tanto espanto ouvira falar de seus passos pelo mundo do perigo, agora estavam tão perto de mim, ao meu lado e em todo lugar.
Seria eu a árvore a ser estilhaçada? O trem a convergir com a árvore? Mas o que seria? Eu a ser abatida pela correntes de ideologias, me tornando outra pessoa ou ser confrontada como a árvore. Porém, seria eu a convergir contra outros ou meus próprios valores, como o trem? Apenas duas coisas me diriam o rumo que tomaria: se seria passiva e em que lado estaria, o fim era o mesmo, permanecer só ou assimilação.Contudo não poderia ser assim, não é bom estar só, e nem dividir-se em dois. O distanciamento foi a opção, vivia apenas o que queria, as tardes de todos os dias. Desse modo, minha vida seguia, com a hora do almoço marcando o começo de minha alegria, meus pés eram velozes em meu patins, fugindo de mim eu patinava para longe, aonde o sol me levasse, minha vida não era mais a escola, mas as pessoas e animais de minha vida. Ambas as opções competiam, que vida levaria ?
escola ou família, assimilação ou permanência, tristeza e alegria, dúvida e certeza, eu e "mim mesma". No fim o único passo seria o meio termo, ouvir e calar, tarde e manhã, patins e tênis. Tocou o alarme, me despertou seu ruído já costumeiro,eram 11: 10. O lanche terminou, começou o segundo horário de aulas.
Competição.