Prólogo - 0

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Não estava no planos de Jimin ser preso, de fato. Mas uma coisa que todos — mesmo que negassem em voz alta — sabiam, era que ele conseguiria fugir. Seja em bando, seja sozinho, seja lá como for, ele fugiria.

Às vezes ele mesmo se surpreendia com tamanha inteligência, devia admitir, principalmente quando tudo passava e ele se via em uma ilha paradisíaca ou então roubando o carro luxuoso do canalha riquinho da cidade em que estava preso. Muitas vezes não havia muita coisa para roubar, então apenas usufruía dos membros que recebeu quando foi gerado na barriga de sua desconhecida mãe e corria como se não houvesse amanhã.

Entretanto, olhando agora para o refeitório de Guantánamo, não lhe parecia mais certo esperar para fazer o que era melhor. Aquela comida nojenta, sendo uma das piores que já comeu comparando com todas as outras sete prisões que já havia passado e a falta de companheiros dignos de uma fuga bem planejada fazia com que seu cérebro queimasse em frustração.

Levantou devagar, observando quem se aproximava, quem o olhava e qual tipo de olhar era. Já havia um bom tempo que estava na mira dos comandantes da prisão, mesmo sem ter feito nada demais, ele ainda conseguia chamar atenção por onde passava. Seus cabelos loiros no topo e raspados na lateral, o dava um ar de superioridade, de chefe. Contudo não era nada disso naquele lugar. Era apenas mais um detento que tentava seguir todas as ordens e, com sorte, passar despercebido pelos guardas e colegas de casa.

Largou a bandeja que antes continha o almoço do dia na prateleira extensa de plástico e se dirigiu ao banheiro. Não era sempre que tinha a oportunidade de tomar banho sozinho naquele lugar, para falar a verdade, não era sempre que tinha a oportunidade de ter um banho, seja quente ou congelante pela água duas caras que saía dos canos enlodados.

Após conferir o local, confirmando que estava vazio, voltou a sua cela e pegou os pertences que precisava. Não iria demorar muito, apenas precisava urgentemente tirar aquela catinga de seu corpo que não via a barra de sabonete a quase três dias.

Retirou o uniforme cinza e o dobrou cuidadosamente em cima do banco que tinha ali, teria que reutilizar seu uniforme pela sabe-se lá quantas vezes. Já estava quase se acostumando com a rotina, tinha certeza. A água gelada que caia sobre si era mais uma das provas disso. Era como se nada pudesse realmente o fazer sentir algo, nada mais emocionante lhe acontecia como na sua juventude.

Park pensava assim aos seus vinte e seis anos.

Também sabia que naquele lugar nada deve ser acostumado, principalmente a falsa sensação de estar sozinho. E isso sempre acontecia em todas as prisões que passava, seja ela máxima ou mínima segurança. Estava sempre sendo observado, só não sabia por quem e nem por quê. Como agora, que sabia que havia alguém soldando suas costas, talvez tomando coragem para falar ou lhe cumprimentar. Não precisou de muito para sentir a presença da pessoa.

— Se continuar parado aí me encarando vou pensar que você é um tarado — perguntou ainda de costa para o indivíduo até agora desconhecido.

Ensaboou seus braços e passou um pouco da espuma no cabelo, tirando tudo logo em seguida.

— Estava com saudades de admirar essa sua tatuagem de lua, Jimin-shi. — Park ouviu aquela voz e pode jura ter sentido sua cabeça esfriar de toda frustração que sentia nas últimas doze semanas passadas ali.

— Tenho que confessar que eu também, está mais bonita ainda agora que está musculoso! — Outra voz falou e dessa vez Park não conseguiu segurar o sorriso.

Virou-se para ver e confirmar seu achismo, pousando o olhar nos dois irmãos que sempre gostou, seus parceiros de roubo, de fuga, de tudo.

Os irmãos Lee estavam parados atrás de si, com as orbes pousadas em seu rosto com um sorriso enorme, tanto que até parecia uma festa de família.

Alcatraz || PJM + MYGOnde histórias criam vida. Descubra agora