A Anja de Denver || Robin Arellano

De Volta à Ativa

Chiara Castelli

Eu sabia que eu tinha que sair de lá. A iluminação mostra quem gosta e quem não se sente confortável com a nossa presença. Eu só não conseguia entender o porque de Donna e Abigail não gostarem ou se incomodarem comigo. Eu nunca fiz nada pra elas.

Fui até o carro de papai vendo que o mesmo estava encostado nele apenas me esperando. Ele fez um sinal com a cabeça que eu sabia muito bem o que é. Papai é um homem de poucas palavras mas não de poucos pensamentos, afinal ele sempre pergunta se eu prefiro a conversa em voz alta ou somente pelo nosso pensamento.

"Tem algo de errado com você figlia, o que de tão ruim você está sentindo"

Papai soprou me encarando e eu apenas neguei com a cabeça enquanto soprava mais um pensamento.

"Nada papà, só que talvez algumas pessoas não gostem de mim como eu pensava. Eu sei que tá tudo bem porque ninguém é perfeito e não dá pra agradar todo muito mas sei lá, nunca fiz nada pra elas."

"Figlia, às vezes as pessoas nos odeiam simplesmente por sermos nós. A maioria dos valentões da escola são as pessoas mais inseguras, as pessoas que mais sofrem porque veem alguem fora do padrão que tem opinião própria, não muda seu estilo por causa dos outros e não se importa com status. É isso que frustrada esse tipo de gente."

"Grazie papà, eu estava precisando ouvir isso."

Ele sorriu pra mim e deu uma piscadela.

"Prego figlia mia"

"Mas também tem outro assunto que eu quero falar."

"Pois bem Chiara, parla."

"Bene. Eu contei para o pessoal tudo o que você me contou e que era pra eles tomarem cuidado com esses malucos. O alvo deles sempre são crianças e adolescentes e, por isso, avisei que teríamos que tomar muito cuidado com todo e qualquer passo que fôssemos dar na rua, principalmente eu e Gwen."

"Disso tudo eu já sei. Parla de uma vez a onde você quer chegar. Conheço bem essa sua carinha, figlia."

"O ponto é que o Robin ontem a noite ouviu dois homens que a gente tá achando que é do Verdadeiro Nó. Eles tavam conversando sobre uma garota iluminada que teria vapor para o grupo todo por meses."

"Já entendi, vamos reforçar a segurança lá de casa. Lá eles não entram e você também não sai capisce? Nós vamos te proteger figlia, eu e tua mamà, bene?"

"Sim mas eu também quero proteger os meus amigos e, como eu sei que você não vai me deixar sair, deixa os meus amigos ficarem lá até esses malucos saírem daqui de Denver."

"Não sei figlia..."

"Papà, a Gwen também corre perigo. Ela também é iluminada. Por favor, deixe todos ficarem lá. A fazenda tem muito espaço e eu não quero ficar trancada sozinha nesse tempo. Ainda mais que é férias!"

"Bene Chiara, eles podem ir. Mas tem que chegar hoje porque amanhã nós já fecharemos tudo. Avise pra eles e venha para o carro, nós já vamos embora e eles tem o prazo de chegar até as cinco da tarde, antes de escurecer."

"Bene papà."

Voltei para onde todos estavam e eles conversavam animadamente sobre algum outro assunto que provavelmente não envolvia a atual situação. Eu me aproximei calmamente já conseguindo ouvir melhor a conversa, mas parece que eles ainda não tinham me percebido.

— Robin, eu sei que você se sente culpado por ter magoado ela, mas isso já é loucura! - Donna disse meio irritada.

— Donna, isso não é loucura. - Finn disse enquanto eu ouvia tudo um pouco mais escondida. - Estamos falando de sequestros e não de qualquer coisa fútil.

— Finney, ela está arrastando todos nós para os problemas dela! Ela coloca as nossas vidas em risco por causa disso! - Donna gritou com ele.

— Quer saber? Cala a porra da sua boca Donna. - Vance gritou mais alto que ela. - Você não tem a mínima noção do que você está falando. A Chiara quase morreu me salvando, salvando o Billy, o Griffin daquele cativeiro do Grabber. Ela tentou salvar o Griffin desses caras. Eu devo minha vida a ela, e se você não quiser ajudar ninguém está te obrigando.

— Gente calma...- Finney tentou apaziguar a situação.

— Não Finney, o Vance tá certo. - Gwen disse. - Ninguém está sendo obrigado a ajudar, então se ela não quiser ir pra lá, ela não precisa.

— Eu e o Vance devemos muito para a anjinha, ela nos ajudou muito e sinceramente, sem ela acho que nem aqui nós estaríamos. - Billy disse firme. - Nós vamos ajudar ela e quem não quiser ajudar que vá pra casa.

— Chega! - gritei com lágrimas nos olhos. - Parem com isso agora! Vance, Billy, vocês não me devem nada. Eu não quero mais isso, eu só estou causando problemas. Estou separando amizades e até relacionamentos, então, pelo bem de todos nós, eu vou me afastar. Eu e minha família vamos saber nos virar. Não se preocupem, eu não vou mais atrapalhar.

— Chiara, espera! - ouvi Robin gritar mas continuei andando.

Eu não conseguia conter minhas lágrimas, eu só estrago tudo. Eu acho melhor ficar sozinha porque assim não vou ferir ninguém. Voltei para o carro ignorando os gritos que o grupo emitia e encarei meu pai.

Papai somente me abraçou e acariciou meus cabelos. Não falamos nada, nem por pensamento. Foi um silêncio reconfortante. Depois de um tempo, entramos no carro e partimos em direção a nossa casa.

Quebra de Tempo

Cheguei em casa e parti para o meu quarto sem falar com ninguém. Me deitei na cama e Noite se aconchegou ao meu lado. Talvez fosse melhor que aqueles malucos me pegassem, assim eles deixariam os outros em paz. Eu sou só um entulho na vida dos outros, só fico dando atrasos ou fazendo desavenças.

Ouvi algumas batidas na porta e me escondi debaixo das cobertas quando ouvi o barulho da mesma sendo aberta.

— Figlia, posso entrar? - papai disse, mas eu continuei  silêncio. Ele se sentou na cama ao meu lado . - Mi Chiara, vai ficar tudo bem.

— Papà, eu só causo problemas...- falei e ele afastou a coberta que estava cobrindo meu rosto.

— Não figlia, você é perfeita. - ele disse acariciando meus cabelos. - A flor mais rara desse jardim. Você é o nosso pequeno milagre, não causou problemas a ninguém.

— Causei sim papà. Causei aos meus amigos, eles estão brigando por minha causa. - minha voz saiu baixa.

— Figlia, as vezes a gente tem discussões mesmo é isso não é problema. - papai disse sorrindo pra mim. - A vida nos ensina muito com nossos erros e com as nossas discussões. Não se preocupe, eu e su mamà vamos proteger você, proteger a nossa famiglia.

— Eu sinto muito por causar isso a vocês. - falei o encarando triste.

— Figlia, eles não estão vindo só atrás de você. - papai confessou e eu o olhei confusa. - Sua mãe e eu também somos uma grande ameaça para eles. Escuta figlia, nós sempre fomos os "anjos da guarda" por onde passamos, tá na hora da gente voltar a ativa.

— Tem certeza papà? - eu disse me acomodando ao seu lado.

— Toda certeza figlia mia. - ele sorriu pra mim e Noite lambeu a mão dele. - E quem é esse amiguinho aqui?

— O Noite, ele aparecia aqui sempre de noite então dei esse nome pra ele. - falei e ele fez carinho no gato.

— Beneventano a la famiglia Noite. - Papai disse sorrido. - Chega de ficar deitada Chiara, está na hora dos Castelli voltarem à ativa.