Prólogo 1

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Kasper aos 14 anos

Nasci em Skagen, uma vila de pescadores na Dinamarca. Desde muito cedo passei a trabalhar com pescaria, e era a única fonte de renda da minha família. O meu pai era alcoólatra, sempre chegava em casa extremamente bêbado e batia em mim e em minha mãe. Eu tentava não o deixar com raiva, por isso tomava conta dos negócios desde muito jovem.

Minha vida não era nem um pouco boa. Eu sabia que ninguém iria nos salvar, então decidi que eu mesmo iria proteger minha irmã e minha mãe. Não podia deixar que meu pai as matasse, e era o que estava fadado a acontecer. Por isso eu estava treinando luta e musculação, para me tornar forte o suficiente para enfrentá-lo.

Estava chegando em casa certa tarde, quando ouvi os gritos da minha irmã. Corri e abri a porta com meu peito acelerado e pisquei com a cena diante de mim. Havia sangue para todo lado, como em um filme de terror, e o monstro era o meu pai.

― Filho da puta! ― rugi, vendo vermelho.

Minha mãe estava caída no chão, coberta de sangue, e meu pai, com as calças abaixadas, tentava tirar as roupas de minha irmã para violentá-la enquanto ela gritava.

― Saia daqui! Me deixe dar uma lição nessa menina! ― rosnou o desgraçado.

Não foquei na dor que estava sentindo ao ver minha mãe machucada, só agi, pegando a faca ensanguentada do chão e indo para cima dele, enfiando-a onde conseguia, furando-o como se estivesse possuído. E estava, pela ira cegante.

― Kasper! ― Ella gritava sem parar.

Foi então que ouvi vozes de pessoas estranhas, enquanto braços me tiravam de cima de meu pai, que, a essa hora, já estava morto.

Eu estava tão fora de mim que não pensei nas consequências daquela atitude, que impactaria nosso presente e, principalmente... nosso futuro.

Dias depois.

Encarei aquela arena com terror. Aquilo só podia ser um pesadelo. Eu deveria estar preso em razão do assassinato do meu pai, mas aquele lugar, embora fosse uma espécie de prisão, não era uma cadeia comum.

Eu estava no inferno em vida.

― Luta, porra! ― gritou um homem, o mesmo que me levou àquele antro, em que garotos enfrentavam mortalmente outros garotos.

Olhei para o menino de uns 12 anos em minha frente, empunhando uma adaga. Seus olhos eram frios, vazios e mortos, como se toda a vida tivesse sido sugada dele. Eu me tornaria igual caso ficasse muito tempo naquele lugar?

Não podia matar um garoto, mesmo que ele fosse um assassino. Minhas emoções estavam à flor da pele, o pavor me dominava.

O garoto se lançou contra mim com sua adaga e conseguiu acertar meu braço, arrancando sangue.

O líquido vermelho e viscoso me fez lembrar daquele dia, dos gritos da minha irmã... Como Ella estava? Eu tinha ouvido dizer que a enviariam à nossa tia, que morava nos Estados Unidos. Esperava que ela fosse feliz e tivesse um futuro diferente do meu.

Uma dor latejante na barriga me fez voltar ao inferno em que estava. Se não lutasse, iria morrer e nunca mais veria Ella de novo, mas, se o fizesse, a minha alma findaria, pois mataria uma criança que foi obrigada a se tornar o monstro que era agora, o mesmo que Kanon queria que eu me tornasse. Ella nunca me perdoaria se eu tirasse a vida de um inocente. Talvez eu já não tivesse o seu perdão por ter matado nosso pai na sua frente.

Tentei esquivar-me do garoto, mas ele era bom, nocauteou-me, fazendo-me cair. Antes que eu me recuperasse, fui atingido na cabeça, e a escuridão me tomou.

********************************

Abri os olhos, com a mente nebulosa recordando a arena de luta à qual me levaram para que eu lutasse com crianças, mas não consegui, fui ferido e perdi os sentidos.

Eu estava amordaçado. Movi minhas mãos para tentar me livrar da mordaça e notei as correntes que me prendiam a uma parede. Tentei freneticamente me soltar, mas algemas em meus pulsos não permitiram.

Eu não estava mais na arena, mas em uma espécie de cela. O lugar fedia a urina, vômito e fezes.

Senti uma dor súbita na minha bunda, como se eu recebesse uma cintada, o que me fez gritar, mas o som foi contido pelo tecido em minha boca. Olhei por sobre o ombro, e tinha um homem atrás de mim. Era Kanon. Com terror, notei que ele estava nu enquanto me batia com um cinto.

― Vou lhe ensinar a seguir as regras ― grunhiu. ― Se eu o mandar matar, você mata...

Eu queria suplicar, mas nem isso podia. O terror me consumia profundamente, pois sabia o que iria acontecer. Eu estava prestes a ser estuprado... Gritei novamente, mas o som saiu abafado. Ninguém iria ouvir meus lamentos, como não ouviam os de todas aquelas crianças presas ali, à mercê daqueles monstros.

O estuprador agarrou meus cabelos, puxando-me para si, e falou com um sorriso:

― Você vai se acostumar com isso...

Logo depois o maldito rasgou minha inocência, levando minha alma a um abismo de dor e solidão.

Parameu desespero, o meu inferno estava apenas começando.

Lyn, Série Dark Revenge 1Onde histórias criam vida. Descubra agora