Capítulo 4

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Passado

Faina

Após ver meu irmão naquele dia – ao menos eu achava que tinha visto, pois desapareceu após eu desmaiar –, acordei em um quarto novo em um lugar desconhecido, ainda machucada, mas ao menos as cuidadoras malvadas tinham desaparecido. Lembrei-me da arma na mão de Sergey. Ele as teria matado porque elas me machucavam? Se era realmente ele, por que disseram que eu tinha perdido toda a minha família? Deviam ter mentido para mim. Eu tinha muita esperança de que fosse mesmo uma mentira e minha família viesse atrás de mim.

Alisei a pulseira que encontrei em meu pulso ao ser deixada no novo internato. Tinha uma pedra em forma de gota ou lágrima nela.

Contudo, com o passar dos dias, meses e anos sem que ninguém viesse atrás de mim, passei a acreditar que a ida de meu irmão até mim tinha sido uma ilusão ou que alguma coisa havia acontecido com ele, porque não me tiraria daquele inferno e me levaria a outro lugar sem manter qualquer contato.

As cuidadoras do novo internato eram gentis e muito hospitaleiras. As internas tinham aulas de variadas disciplinas. Havia uma biblioteca onde eu gostava de ler por horas a fio. A única coisa ruim era o fato de eu não poder acessar a internet sem que uma das preceptoras estivesse presente. Certamente não queriam que eu pesquisasse sobre minha família. Se eu pudesse, descobriria por que estava ali, bem como se meus irmãos estavam vivos em algum lugar. Tentei descobrir com a diretora quem me levou para lá, mas não tive êxito; ela não quis me dizer.

Mirei a escuridão da noite pela janela. Era inverno e estava nevando. A propriedade ficava no meio do nada, cercada por montanhas e árvores. Quase não se via o sol e era sempre muito frio. O internato ficava na Inglaterra, eu só não sabia em que região. Todas as funcionárias eram muito reticentes quanto a isso.

O vazio em meu peito às vezes me impossibilitava de respirar. A única coisa que me mantinha sã era a esperança. Se tive contato com Sergey, então havia a chance de que meus outros irmãos também estivessem vivos. Talvez eu só estivesse me iludindo, pois um desejo premente é capaz de fazer a mente projetar qualquer anseio, mas não havia mais nada a que eu me agarrar.

― Faina! ― chamou minha colega de quarto. ― Venha se deitar. Não se cansa de olhar para fora? Pare de sonhar com um príncipe encantado vindo te resgatar em um cavalo branco.

Estar no novo colégio interno me ajudou a não me sentir tão sozinha, pois fiz amigas lá, como Lucinda, mas nada me fazia sentir plena e feliz.

― Desculpe, eu só... ― Tirei os olhos da janela e a fitei. ― Já estou indo me deitar.

Além de recuperar minha família, eu queria sair e viver, fazer coisas que nunca tinha feito, namorar e me apaixonar, experimentar sensações.

Fui ao banheiro e me encarei no espelho. Muitas pessoas diziam que meus olhos eram bonitos, a cor e o brilho das íris, mas eu só enxergava dor e tormento neles.

Não sabia até quando ficaria trancafiada. Eu tinha a suspeita de que aquela instituição não era um simples internato, afinal não saíamos ao completar 18 anos. Havia meninas com 23 que ainda estavam naquele lugar. Eu faria 19 anos em breve, então já deveria ter saído se fosse um colégio convencional.

Voltei para o quarto e parei subitamente ao me deparar com um sujeito perto da cama de Lucinda. Eu estava prestes a gritar quando uma mão tampou minha boca.

― Não vamos machucar você ou a garota ― disse uma voz rouca ao meu ouvido.

Não era a voz que ouvi no dia em que fui resgatada do outro internato, então não era Sergey. Mesmo que anos tivessem passado, eu ainda me recordava de sua voz. Se a ouvisse de novo, a reconheceria.

Lyn, Série Dark Revenge 1Onde histórias criam vida. Descubra agora