Prólogo 2

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Faina aos sete anos

Acordei aos berros e olhei ao redor, pensando ver um dos meus irmãos ou do meus pais ali, pois um deles sempre vinha a mim quando eu tinha pesadelos. Foi quando notei que não era um sonho ruim, e sim a realidade.

O fogo, meus pais queimando dentro da casa, minha queda... Eu não recordava de muitas coisas mais daquele dia.

Uma mulher entrou no quarto em que eu estava. Era alta e tinha os cabelos presos. Fiquei encolhida na cama, pensando que iria ser castigada por ela, embora não tivesse feito nada, apenas gritado. Sua expressão séria me dava medo.

Ela veio até onde eu estava, arrastando-me da cama ao puxar o meu braço.

Assustada, gritei, então ela tapou minha boca, aumentando o meu pavor. Não sabia o que ela queria comigo.

Por favor! Queria implorar que ela não me machucasse. Só queria a minha família.

― Não grite! Ouça, aqui você vai aprender a ter modos, ou vamos castigá-la. Não gostamos de crianças desobedientes. ― Riu de modo perverso no meu ouvido.

Eu não podia me render, tinha que lutar. Meus irmãos faziam isso. Eles eram fortes, e eu seria também.

Mordi a mão da mulher, que me soltou com um grito de dor, e corri porta afora. Foi quando notei que estava em uma espécie de escola. Pelos quartos, devia ser um internato.

Não fui muito longe; alguém me pegou pela cintura e me arrastou.

― Socorro! ― eu gritava sem parar, mas ninguém ouvia.

― Pode gritar, mas ninguém virá salvá-la ― rosnou a mulher.

Ela me carregou para uma espécie de porão, o que me deu ainda mais medo. Abriu uma porta de ferro e me jogou dentro de um cômodo. Senti dores pelo corpo, mas não me importei com isso, pois algo pior estava acontecendo: ela pretendia me trancar ali.

― Seus pais e seus irmãos estão mortos, não resta ninguém por você. Ninguém! ― A mulher sorriu, maligna. ― Vou moldá-la até se tornar o que precisamos.

― Não! ― Sacudi a cabeça.

― Sim, todos mortos. Você teve sorte de ser a única sobrevivente. ― Saiu e fechou a porta.

A escuridão me engoliu, tanto por fora quanto por dentro.

Meu mundo desabou ao ouvir aquelas palavras, que acabaram comigo. A dor me afligiu por ter perdido meus pais, Sergey, Demyan e Misha, assim como já tinha perdido Lily e Andreas anos antes.

Não restava nada para mim, só vazio e dor.

Faina aos nove anos

Minha vida naquele internato foi um tormento. Tudo era rigoroso demais. Se as meninas não fizessem o que as preceptoras mandavam, eram castigadas. Como eu não gostava de ficar na solitária, tentava evitar problemas e seguir o que era ordenado, porém estar ali dentro me sufocava. Eu não conseguia ver aquelas mulheres cruéis machucando garotas como eu. Devido a isso, entrava constantemente em atrito com elas e era castigada. Dessa forma, a cada dia eu era um pouco mais engolida pelo nevoeiro e a escuridão.

O castigo infligido às internas era a solitária, onde muitas vezes ficávamos presas a correntes e éramos surradas com chicote. Todas as cuidadoras gostavam especialmente desse último.

Eu estava farta desse tormento. Não queria viver daquela forma, sofrendo o horror da solidão e do castigo físico.

― Suas malditas... ― sibilei ao receber outra chicotada.

Era meu aniversário, mas não havia o que comemorar, uma vez que eu tinha perdido tudo e estava à deriva em um oceano sem nada à vista e sem um ponto de apoio.

As preceptoras estavam exagerando nas chibatadas. Eu sentia minha alma se desfazendo, sendo puxada ainda mais para a escuridão.

― Mas que inferno está acontecendo aqui!? ― gritou uma voz colérica.

Tentei distinguir quem era, mas minha visão estava embaçada. Foquei mais o olhar, só conseguindo ver o vulto de uma pessoa apontando a arma para as mulheres e puxando o gatilho. Ele usava moletom e escondia seu rosto.

Veio até mim, pegando minhas mãos algemadas. Foi quando vi o bracelete que eu tinha dado a ele no seu aniversário.

Chisto, lamento ter chegado tarde. ― Senti seus lábios em minha testa. ― Ninguém nunca mais vai machucá-la, eu juro.

Esse apelido!

Era "clara" em russo. Só uma pessoa me chamava assim.

Não pode ser! Sergey...


Lyn, Série Dark Revenge 1Onde histórias criam vida. Descubra agora