A História de Lisianthus

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     Lisianthus não poderia ter sido uma criança mais feliz.

     Embora não tivesse conhecimento de sua mãe, era cercada de amor e mimada por todos que conhecia. E isso eram seu pai, seu tio, seu padrinho, Monstro o elfo doméstico e o quadro de sua avó Walburga Black que ficava na parede da sala de estar.

     Lizzie, como gostava de ser chamada, era uma garota esperta e muito doce. De beleza delicada e temperamento leve. Em aparência se assemelhava ao pai, com exceção dos cabelos vermelhos, mas em personalidade lembrava muito o tio. A atmosfera ao seu redor era leve.

     Ela adorava brincar de bonecas, mas sua brincadeira favorita era passear pelos jardins da casa conhecendo e fazendo amizade com toda e qualquer criatura viva. Desde os pássaros às formigas, desde as árvores às ervas daninhas. Lizzie odiava ver algo morrer, ficava chorosa e inconsolável por dias.

     A menina era tão afável que amava e era amada até mesmo pelo elfo doméstico rabugento da casa, Monstro.

     Regulus, seu tio, adorava levá-la em aventuras pela natureza e ensiná-la coisas novas. Remus amava passar todo o tempo que pudesse com ela, e de maneira sagrada lia para ela todas as noites. Monstro, o elfo, cozinhava apenas o que Lizzie pedia e sempre deixava algum doce debaixo de seu travesseiro. Já Sirius, fazia toda e qualquer coisa que a menina pedisse. Seria capaz até mesmo morrer por ela se Lizzie pedisse.

     O quadro de sua avó, que não sabia do sangue mestiço da menina, a tratava com zelo e gostava de lhe contar histórias sobre o passado da família, além de ensiná-la alguns feitiços secretos que poderia usar para infernizar a vida de Sirius de vez em quando.

     Lizzie, acima de tudo, era feliz. Embora carregasse no coração a mágoa de nunca ter conhecido a mãe e não entender porque moravam tão longe da Inglaterra.

     A princípio passaram nove anos na Argentina, mas quando se aproximou a época de Lizzie começar a estudar se mudaram para o Brasil. Foram viver em um bairro nobre da comunidade bruxa do Rio de Janeiro. Lizzie foi então matriculada no Castelo Bruxo quando atingiu os onze anos de idade.

     Ela era, definitivamente, uma aluna prodígio, porém havia uma coisa que Lizzie não sabia fazer e isso a fazia passar despercebida muitas vezes na escola; Lizzie não sabia fazer amigos e nem ser popular como o pai. Ela se sentia deslocada, sem contexto aonde quer que fosse além das paredes de sua casa.

     Os problemas triviais dos adolescentes eram estúpidos demais para a sua mente assimilar, entretanto era muito nova para se interessar por assuntos que os adultos se interessavam. Lizzie não ia a festas, Lizzie não tinha namorado, Lizzie andava sempre sozinha. Tudo o que tinha como companhia eram os livros.

     Para evitar a solidão, ou o constrangimento da solidão, Lizzie sempre estava com a cabeça enfiada em um livro. Quando a perguntavam por que ela não socializava, ela somente respondia que não tinha tempo. Ocupou os horários com o maior número de matérias que pode e ainda assim era pouco para livra-la da solidão dolorosa que havia em seu coração. Ela odiava toda vez que mentia sobre estar bem sozinha, odiava proferir as palavras "estou muito ocupada para isso agora" ou "não tenho interesse nesse tipo de coisa estúpida".

     Lizzie não entendia como as pessoas funcionavam. Para ela sempre foi como assistir a vida como espectadora, mas nunca ter o direito de ser uma personagem na trama. Ela se sentia estranha. Sempre achava que havia rido alto demais, falado coisas que não deveria, sorrido de menos, sido fria demais, calorosa demais.

     Errada demais.

     E ela, definitivamente, odiava como aquilo parecia ser fácil para todo mundo menos para ela.

Lisianthus, O Conto dos Dois IrmãosOnde histórias criam vida. Descubra agora