- Tudo você reclama, Dominique! Que saco! - gritava Louis Weasley, meu irmão mais novo, saindo escondido do meu quarto.
É claro que eu ia reclamar: Louis sempre vinha até meu quarto, pegava alguma coisa "emprestada" e saia sem dar explicações.
A mais nova aquisição: Uma blusa para Lucy, nossa querida prima e sua namorada.
- Porque você não pega do quarto da Victoire? - gritei, sem me importar com quem estivesse ouvindo - Ou pega uma das roupas das suas ex-namoradas que você guarda naquela caixa embaixo da sua cama, idiota!
Bati a porta, respirando fundo enquanto tentava me acalmar.
Hoje era o dia de voltar para Hogwarts, para finalmente cursar meu penúltimo ano.
Ao contrário dos outros, eu não estava nem um pouco ansiosa para voltar para a escola.
Comecei a recolher a bagunça que meu irmãozinho tinha deixado no meu quarto, sem poder usar magia, já que ainda faltavam seis meses para o meu aniversário de 17 anos.
Olhei rapidamente pela janela do meu quarto, que dava de frente para o mar e para o jardim da nossa casa.
Victoire e Teddy estavam brigando mais uma vez. Pela expressão que ela fazia, eu tinha certeza que o moreno estava argumentando de novo sobre a sua mudança para a França.
- Entra aqui agora, Louis. - ouvi a voz grossa e cansada de Bill Weasley, enquanto ele abria a porta do meu quarto sem bater. - Vai, fala.
- Desculpa por pegar suas coisas sem pedir. - Bill pigarreou, olhando feio para o filho mais novo - De novo. Eu vou limpar a bagunça que eu fiz. - disse, arrastando a voz e a contragosto.
Ele começou a recolher as roupas que tinha jogado no chão, do lado direito do quarto, reclamando baixinho que ele não tinha feito toda aquela bagunça e eu continuei a colocar minhas coisas dentro do malão, olhando pela janela de vez em quando.
Enquanto ele arrumava as coisas, Lucy apareceu e se despediu do namorado, indo de pó de flu para a própria casa se preparar para a volta as aulas.
Era assim que as coisas funcionavam por aqui: Bill estava sempre trabalhando, Vic estava sempre com Ted e Louis se escondia pela casa com Lucy uma vez por dia.
No começo, eu ficava incomodada. E eles tentavam me incluir, principalmente Victoire, que sempre batia na porta do meu quarto me convidando para ver alguma comédia romântica com ela na sala, mas eu me sentia constrangida em ver os dois juntos, então preferia ficar no meu quarto, lendo minhas histórias românticas sozinha e imaginando um final feliz que nunca aconteceria.
Eu sei que vou me arrepender daqui há alguns anos, de ter perdido toda a minha adolescência trancada no meu quarto, sonhando com coisas que nunca aconteceriam.
Mas minha tia Hermione tinha feito quase a mesma coisa e hoje é Ministra da Magia, então ainda há esperança.
Me virei para a grande estante que ficava no meu quarto, pensando quais livros levaria para Hogwarts desta vez. Já tinha lido todos os livros do John Green e estava terminado e ler o último exemplar de Nicholas Sparks que ganhei no natal, então não tinha muitas escolhas a fazer.- O que é isso? Vai levar para a escola? - dizia Louis, segurando uma caixa azul petróleo com uma larga fita branca em cima.
Por um segundo, meu coração parou, vendo Louis balançar a caixa como quem quer saber o que tem dentro.
A caixa não tão secreta que eu guardava na última prateleira do armário, onde Louis não era alto o bastante para pegar... Pelo menos não até o ano passado.
- Larga isso, Louis Weasley! - gritei, puxando a caixa da mão dele. Vi a expressão dele se iluminar, tentando descobrir qual era o grande segredo que rodeava a caixa.
Aquilo era, simplesmente, a coisa mais preciosa que eu tinha em toda a minha vida. Era a minha alma e os meus pensamentos em formato de papel timbrado.
Dentro daquela caixinha estavam as cinco cartas que eu escrevi ao longo da última década.
Sim, que eu escrevi, e não que recebi. Sei que é meio estranho guardar cartas que nunca foram enviadas, mas minhas cartas eram diferentes.
Quando as escrevo, não reprimo nada.
Escrevo como o destinatário nunca fosse ler.
Porque não vai mesmo.
Cada pensamento secreto, cada observação cuidadosa, todos os sentimentos que guardei dentro de mim, coloco tudo na carta.
São cartas para garotos, mas não são cartas de amor.
São cartas de despedida para mim mesma.
Um jeito de eu aceitar que tudo o que sinto deve sumir e nunca mais perambular pelos meu pensamentos.
Sem que eu tivesse tempo de pensar, Louis abriu a caixa, retirando uma carta de dentro enquanto eu pulava pela cama e pegava o resto. Nem pensei direito antes de arrancar a primeira carta que ele tinha pego, rezando para que ele não tivesse tempo de ler o destinatário.
Tinha que pensar em algo rápido, que ele não fosse contestar e que não fosse tão diferente da verdade, porque assim eu não iria me enrolar inventando detalhes.
Esse é o segredo para não ter ninguém enchendo o saco ou se preocupando com você durante os anos: saber mentir de forma convincente.
E eu tinha me tornado mestre nesta arte.
- Você ainda fala com o Dean? - ele riu, antes que eu tivesse tempo de falar alguma coisa - Não vai me dizer que você ainda gosta do trouxa?
Respirei aliviada, ainda tentando controlar minha respiração.
Louis tinha pego a carta com o nome do único garoto que não estava mais em nossas vidas, então a mentira não seria difícil.
- Ainda somos amigos sim, Lou. - minto, colocando a caixa, com todas as cartas, em cima do malão, bem longe das mãozinhas nervosas do meu irmão mais novo e ignorando seu discurso sobre como eu deveria viver mais durante os próximos dez minutos.
Ouvi a porta da sala bater e instintivamente olhei para fora, vendo Bill se aproximar do casal que ainda brigava, provavelmente tentando chamar Victoire para irmos para a estação.
- Você tá espionando eles de novo? - ele se aproximou de mim na janela, rindo da situação enquanto completava - Você precisa de uma vida própria.
- Cala a boca, Louis. - retruquei, fingindo que não estava olhando, mas eu simplesmente não conseguia evitar.
Teddy balançava o rosto, claramente se segurando para não gritar, enquanto Victoire o olhava com o seu famoso olhar de eu-estou-sempre-certa e Bill acalmava os dois.
Quando Vic decidiu ir para a França, eu me senti traída.
Talvez seja por isso que estou mais amarga em relação a ela do que nunca. Como ela, que era a única pessoa que eu conseguia confiar, ia me abandonar?
Sei que é egoísta da minha parte e que eu já deveria estar acostumada a ficar sozinha, mas nunca é fácil.
Como que Teddy conseguia aguentar isso?
Vê-la ir para outro país sem olhar para trás, começar uma nova vida no meio de novas pessoas e mesmo assim ainda ser sua namorada.
Ainda era estranho pensar que Vic e Ted não eram mais só Vic e Ted. Ele era o namorado dela e ela era sua namorada. E títulos não parecem importantes, mas neste caso, eles eram.
Ela é a namorada que ele escolheu para chamar de sua e não havia nada no mundo que eu pudesse fazer para mudar isso.
E eu nem queria.
Era difícil dizer quem se apaixonou primeiro por Teddy: eu ou minha família. Olhando o modo como meu pai o tratava, mesmo enquanto ele brigava com sua filha mais velha, eu tinha certeza que Ted já tinha virado mais do que família.
Ele sempre foi o garoto dos olhos de Harry Potter, que o acolheu em sua casa assim que Andrômeda Tonks faleceu, há quase dez anos atrás.
Tio Harry, que já tinha três filhos, ganhou mais um. Um filho educado, grato por tudo que tinha sido feito por ele e que sempre apartava as brigas entre James Sirius e Albus Severus. Acho que Harry teve uma experiência tão ruim sendo criado pelos seus tios que quis fazer com que a vida de Ted fosse tudo que ele não teve enquanto crescia.
Meu pai sempre amou a presença dele em nossa casa. Era difícil para Bill lidar com duas filhas adolescentes sem uma mãe para ajudar, e Ted alegrava a casa quando aparecia.
No começo, ele aparecia junto com meus primos.
Depois, ele começou a aparecer por mim.
Mas agora, ele só aparece pela Vic.Olhei a caixa azul petróleo uma última vez antes de fechar a mala, ainda pensando nas cartas que guardava dentro dela e o desastre que aconteceria se algum dia ele a lesse.
Ouvi meu pai chamar, mostrando que era hora de voltar para Hogwarts e fechei rapidamente o malão, expulsando Louis do quarto enquanto o trancava.- Eu to falando sério, Dominique! - ele disse, rindo. - Você tem que viver mais. Nem que seja com o trouxa. Você nem é tão feia assim, mas fica se excluindo e andando sozinha por ai...
- Nem sou tão feia assim? Obrigada pela parte que me toca. - respondi, ironicamente enquanto empurrava o malão escada a baixo.
- Eu falo pelo seu bem, maninha. - ele entrou no próprio quarto, ainda falando alto o bastante para eu ouvir. - Se você não viver agora, vai acabar uma velha solteirona igual a Diretora McGonagall.
- VAI A MERDA, LOUIS!
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To all the boys i've loved before
FanfictionForam 5 cartas no total. Henry Blackburn da Pré-Escola; Dean Bolden do Acampamento Trouxa; Scorpius Malfoy, do natal em Londres; James Potter, do quarto ano; E Teddy Lupin, o atual namorado da minha irmã. Essa é a história de como eu consegui acaba...