CAPÍTULO 1

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Passei uma noite conturbada cheia de pesadelos e mal estar, mas já estou acostumada, essa é a noite 32 desde que o barco se perdeu em alto mar.

Ando tendo muitos pesadelos ultimamente, mas o dessa noite me chamou a atenção: depois de meses de desespero chego finalmente em casa, mas a encontro terrivelmente destruída, o vidro da redoma está aos pedaços e há crateras no chão, as plantas estão mortas e a ilha está abandonada.

Estou meio acordada meio dormindo quando ouço um baque e sinto uma dor de cabeça, eu caí da cama. Meu colega de beliche, Calisto, já havia se levantado, também assustado, pergunta:

"Que gritaria toda é essa?"

"O mar deve estar agitado mais uma vez" eu respondo.

Eu me levanto, disposta a ajudar, indo atrás do motivo de tal algazarra.

"Estamos sendo puxados para um redemoinho." Diz Aristine.

"Vocês não vão escapar, jamais!" Grita o barco.

Escuto um barulho de correntes, o barco está perseguindo os tripulantes e remexendo o mastro tentando acertar alguém. Eu corro para ajudar os que estão sendo perseguidos, o barco acorrenta Polypus que urra de dor, o barco vai apertar até esmagá-lo.

Grito por ajuda mas ninguém parece me ouvir e estão muito ocupados fugindo dos ataques do barco, terei de ajudar Polypus sozinha.

Alguns metros a minha esquerda tem um machado, vou usá-lo para quebrar as correntes. Eu corro em direção a ele e logo me abaixo me esquivando do mastro, volto a correr e quando estou quase lá o mastro volta com tudo e bate contra a minha cabeça. Tudo está embaçado e estou tonta. Olho em volta, Polypus está da cor roxa sem ar. Pego o machado e volto correndo, me abaixo para me esquivar e logo após me levanto e volto a correr. Consigo chegar até Polypus e começo a golpear as correntes, elas parecem fortes demais, golpeio com toda a minha força e parece não haver efeito nenhum. Gaspar chega com uma motosserra gritando:

"GERÔNIMO"

Ele ataca as correntes e as quebra, libertando ume Polypus quase inconsciente.

Toda a agitação parece parar de uma vez quando o barco se dá conta de que está prestes a ser engolido pelo redemoinho e então concentra todas as suas energias em sair dali. Todos caem no chão com a brusca velocidade exercida pelo barco. Logo ele sai dos arredores do redemoinho e volta ao seu curso normal.

Mais tarde, na madrugada, Aristine me encontra na cozinha fazendo um lanche, estou comendo pão com manteiga e café.

"Também não conseguiu dormir?" Diz Aristine.

"Fiquei pensando em Polypus naquela situação, se não fosse por Gaspar talvez elu tivesse..." disse eu.

"Não ocupe sua cabeça com cenários irreais, pare de se culpar pelo que não aconteceu. Gaspar só foi ajudar porque te viu lá. Foi por você que ele ajudou, e você estava se esforçando muito para salvar Polypus." Diz Aristine

"Sei lá, só não consigo pensar assim. O navio todo estava um caos, alguém poderia ter morrido porque Gaspar foi me socorrer ao invés de ajudar os outros..."

No dia seguinte, me levanto assim que amanhece, passei a noite em claro. No convés vejo Gleice tratando alguns tripulantes que se machucaram na confusão de ontem. Passo por ela e vou direto até a cabine conversar com a capitã Leocádia.

"Bom dia capitã Leocádia, quais foram os danos causados pelos acontecimentos de ontem?" Perguntei.

"Bom dia Aza. Temos pelo menos 23 feridos e tivemos muitos danos no mastro e alguns barris quebrados." Diz a capitã.

"São muitos feridos para a Gleice cuidar, acha que ela da conta sozinha? Como vamos cumprir o objetivo com tantos tripulantes ausentes?" Indaguei.

"Se acalme minha cara, uma coisa de cada vez. Com certeza até que encontremos o local que tanto procuramos boa parte dos feridos terão se recuperado. Veja como está demorando encontrar essa ilha, ao todo são 83 dias ao mar sem o menor sinal de uma ilha que deveria ser fácil de achar, pelo menos segundo a falácia do seu querido prefeito."

De repente o braço direito da capitã Leocádia, Vitória, entra bastante alarmada e nos diz enquanto aponta para alguma direção além da janela:

"Vejam ali! Chegamos ao nosso destino, chegamos a Ilha da Queimada!"

Todos ali por perto se põem a verificar o anúncio, logo em frente é possível ver uma ilha com areia na borda, muitas palmeiras de cor laranja e mato vermelho.

O navio todo se põe em festa, depois de tanto tempo e sofrimento nas mãos desse barco safado finalmente chegamos, poderemos finalmente pegar o Girassol Ardente e nos mandar daqui.

Nossa terra natal, uma ilha dentro de uma redoma no formato de um pote, está entrando num frio profundo, e depois de muitas manifestações da oposição da atual gestão o prefeito finalmente cedeu e enviou uma expedição em busca do Girassol Ardente, uma planta encontrada no coração da ilha que pode esquentar o pote e trazer de volta o clima natural da nossa ilha. Fui enviada como uma representante dos interesses públicos.

É um alívio estar aqui.

Entre Águas FúcsiasOnde histórias criam vida. Descubra agora