Paraíso Perfeito

Quatorze

"Tears don't mean you're losing"

— Who You Are — Jesse J

Ellie Miller

Kelly não era exatamente minha amiga, mas como somente eu e ela éramos sociáveis naquela casa, era mais que comum que nos tornássemos próximas.

Naquela época, eu não tinha amigos, nenhum, então com quem eu mais conversava era com os empregados e os filhos deles.

Na minha casa se trocava de empregado, como se trocava de roupa, por causa das besteiras que meu irmão fazia, algumas vezes, o meu pai também.

Me culpo pela morte dela, não era primeira vez que Rick fazia essas coisas, então deveria ter previsto.

Então cá estava eu, mais uma madrugada, com pesadelos que não me deixavam voltar a dormir.

Suspiro olhando a chuva que escorria pelos vidros da porta da varanda.

A cabeça com café estava fumegando em minhas mãos.

Claro, existiam várias Kellys por aí, mas não era todo dia que alguém com esse nome falava com você.

Talvez tenha juntado com o abalo depois do acontecido com Edward, aquele era outro que sempre me dava calafrios e me fazia perder a noite de sono.

Quando eu entrei para a Méier, eu e Edward nos tornamos "amigos". A primeira pessoa a quem permite se aproximar quando cheguei, no início ele era uma pessoa muito legal, mas com o passar de alguns meses se tornou bastante, por assim dizer, possessivo.

Um dia, eu estava na empresa e ele chegou, falando coisas sem sentido, gestos desordenados com as mãos, e então ele me agarrou, a primeira coisa que fez foi tampar minha boca, para não gritar.

O que não adiantaria muito, porque com o susto e o impacto do corpo dele no meu, acabei batendo a cabeça na parede e fiquei zonza.

Quando me recuperei ele já estava apertando partes do meu corpo. Como ele estava meio fora de si, eu o empurrei, e gritei. Foi o momento que Silas entrou e o tirou de cima de mim.

Eu resolvi não fazer denúncia em respeito a seu Edgar e Lucy, e ao que eu achava que era nossa amizade.

Mas o trauma ficou.

E o seu comportamento não parou por aí.

Por isso eu o evito, o máximo que posso.

Ele nem tinha interesse na empresa, nem em nada. Fazia meses que eu não o vi, e quando via era sempre com Sr Edgar e Lucy, e na frente deles bancava o santo.

Então me restava realmente evitar.

Algumas vezes era impossível, como no dia anterior.

Então tudo isso formava a causa da minha insônia.

Esfrego a mão no rosto várias vezes tentando tirar esses pensamentos da cabeça.

"Você sabe o que eu quero de você."

Sinto até ânsia de vômito ao lembrar.

Quando acho que estou dando um passo para frente, na verdade são dois para trás.

Saio dos devaneios quando um raio corta o céu, e em seguida o alarme toca em meu celular, então vou me arrumar para mais um dia de trabalho.

E peço aos céus que Edward não apareça por lá.

Como hoje estava frio, visto uma calça jeans, um salto pequeno, uma blusa branca com um blazer azul escuro por cima. O cabelo amarrado para trás.

Saio mais cedo de casa, para poder ir de ônibus. Quando estou no ponto esperando o ônibus passar, sinto uma cócega em minha mão e olho para baixo.