Capítulo 31

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Camila

Camila: Quem é você?! – Eu a olhei abismada com tudo que havia acontecido. – No que você se transformou?! – Eu a olhava com reprovação, enquanto ela mirava meus olhos seria, sem ao menos piscar. - Cadê aquela moleca com jeito de mulher que eu conheci? Que prezava a felicidade das pessoas acima de tudo? Que amava a vida, que tinha um brilho lindo nos olhos?! Que sonhou em construir uma família comigo, que disse que teríamos muitos filhos e que jamais os julgaria por amarem pessoas do mesmo sexo?! – Eu fechei os olhos lembrando vagamente dela dizendo isso para mim e voltei a olhá-la com desprezo. – Você se transformou naquilo que disse que jamais se transformaria você agiu igualmente a sua mãe!

Lauren: Nunca mais diga isso. – Ela disse com raiva, seus olhos ferveram ao ouvir a ultima frase.

Camila: Digo e repito! Você se tornou igual a sua mãe! Uma mulher fria, sem coração, que não pensa em ninguém, apenas em sua própria imagem. Que não tem caráter, que pisa nas pessoas, e prefere ver a infelicidade da própria filha do que aceitar que ela ama alguém do mesmo sexo... Tal mãe tal filha!

Lauren: Eu não sou igual a minha mãe. Não mesmo, nem de longe eu me pareço com ela! Eu nunca faria e diria essas coisas para minha filha, como minha mãe disse para mim quando eu era jovem. – Eu podia sentir o ódio saindo de suas palavras.

Camila: Não? Olha o que você acabou de dizer para Sophia! Veja como você agiu perante o comentário de que elas se amavam! – Meu tom de voz já era mais alto que o normal. – Você foi quase uma copia perfeita da sua mãe. Eu me lembro como se fosse ontem... E eu vi, eu vi os olhos dela nos seus quando você pegou Sophia pelo braço.

Lauren: Mesmo? – Ela pareceu se render. Abaixou a cabeça e passou a mão em seus próprios cabelos voltando a olhar em meus olhos. – Mas elas não sabem nada do amor... – Ela parecia mais calma e convicta.

Camila: E você? Você sabe alguma coisa? Você ama alguém Lauren? Será que você ama a si mesma pelo menos?

Lauren: Você acredita mesmo que eu sou uma pessoa sem coração né?

Camila: Eu tenho certeza disso! E eu tenho que concordar com sua filha, você que não sabe nada do amor, porque nem aquele seu maridinho corno você ama de verdade.

Lauren: Não coloca o Benedito no meio ta bom? Ele não tem nada haver com isso e eu quero também que você pare de chamá-lo de corno!

Anahí: E eu quero que você pare de ser assim e mostre um pouco a pessoa que é de verdade. Pare de agir como sua mãe e tente ser você mesma! Olhe para seu passado, veja como você era, e olhe para o seu presente e veja no que se tornou. – Eu ainda a olhava com desprezo.

Fiquei calada tentando ler seus olhos que vagavam por talvez lembranças muito antigas... Fiquei mirando-a o tempo inteiro enquanto minha mente começou a vagar também, lembrando de coisas que me davam vontade de chorar por nunca mais ter tido algo parecido... Balancei a cabeça tentando expulsar essas lembranças malditas que me atormentam todos os dias. Voltei a olhar para Lauren que permanecia na mesma posição olhando o nada sem piscar nenhuma vez. Seus olhos estavam lagrimejando de leve quando voltou a mirar os meus, deixando uma lagrima escorrer por sua face. Ela não disse nada, mas meu coração disparou no mesmo instante em que ela veio em minha direção. Pegou em minha mão com tanta delicadeza que quase suspirei ao sentir o contato de nossas peles. Sem pressa me levou até a nossa árvore bem no local onde havíamos escrito C&L. Olhou no fundo dos meus olhos e praticamente me abraçou por trás levando minha mão até as nossas iniciais gravadas no tronco... Lauren me fez alisar nossas letras e depois o coração...

Lauren: Olha para isso... Lembra-se da menina que fez isso junto com você? – Ela disse revezando o olhar entre eu e a árvore. – Essa menina ainda mora aqui dentro. – Ela pegou minha mão levando-a até seu coração que batia tão forte quando o meu. - Mas infelizmente não posso transparecer isso, não posso me deixar levar... – Ela soltou minha mão pela segunda vez. - Ainda sou aquela moleca que você conheceu e se apaixonou a mais de 20 anos, ainda sou capas de amar e muito, ainda tenho sonhos malucos, ainda desenho coisas idiotas quando estou sozinha, ainda escrevo poemas em um caderno... Mas eu não posso Camila, eu não posso deixá-la falar mais alto.

Um passado no presente (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora