003_Estranho

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Duas semanas que eu me mudei pra Los Angeles e sinceramente penso se valeu a pena. Aqui eu não conheço ninguém além de Dylan, e pra minha sorte Diana — minha melhor amiga — estará vindo pra cá em dois dias. Me mudar de país pra fugir do meu passado foi a coisa mais idiota que eu fiz.

Porque agora nem a chance de resolver tudo eu tenho, pior do que isso é trabalhar em um lugar que o objetivo principal é aquilo do que eu tenho mais medo.

Pode parecer idiotisse não querer contato algum com a música, mas depois de anos você aprende que é melhor se afastar de algumas coisas, mesmo que isso custe o seu sonho. Eu nunca imaginei que aceitaria trabalhar em uma gravadora, mas enquanto eu não acho um emprego fixo, é o melhor que eu posso fazer.

Ajeito os últimos detalhes na decoração do meu apartamento, pronta para mais um dia de trabalho, assim que eu saio de casa esbarro com alguém.

— De novo? — reconheço a voz e reviro meus olhos.

— Por que tem que ser sempre você!? — bufo e vou em direção ao elevador.

— O que raios você estava fazendo no apartamento ao lado do meu? Achei que você morasse na frente. — Liam pergunta vindo logo atrás de mim.

— O apartamento que eu saí ontem é da minha amiga, só estava conferindo algumas coisas pra elas. — explico.


— Então você mora no do lado ao meu? — eu aperto o botão do térreo.

— Sim. — ele faz uma careta e concorda com a cabeça. — Acabou o interrogatório? Mais alguma pergunta?

— Na verdade eu tenho sim. — reviro os olhos. — Por que você não compõe mais?

— Motivos pessoais. — respondo rapidamente.

— Ok então. — ele da de ombros e seguimos lado a lado enquanto passávamos pelo saguão do prédio.

— LIAM! LIAM! — um grupo de garotas gritou e veio na nossa direção.

— Merda. — ele sussurra e começa a sorrir forçadamente. — Olá meninas.

— Liam você pode dar seu autógrafo? — uma loira pergunta.

Passo direto por eles indo em direção a saída.

— Zoe me espera! — ele grita e eu o encaro. — Desculpas meninas, talvez em outra hora. — ele corre em minha direção.

— Quem é ela? — o grupo volta a se aproximar de nós outra vez.

— Ninguém importante. — digo e sorrio falsamente.

— Liam, você está namorando? — a loira grita chamando a atenção de todo mundo.

— Não. — ele respondo seco. — Vamos. — Coloca sua mão nas minhas costas me guiando até a saída.

— Que merda é essa? — digo quando já estamos do lado de fora.

— É melhor você não interagir de nenhuma forma com elas, isso pode afetar você negativamente.— ele diz com um semblante indecifrável.

— E gritar meu nome pra todas elas saberem foi a melhor idéia que você teve. — digo ironicamente.

— Eu sou uma anta. — ele bate em sua própria testa rindo. — Vamos, eu vou com você para o trabalho hoje.

— Pra que? — pergunto desconfiada.

— Para de ser chata, só vamos. — ele começa a andar e eu o sigo, ambos em silêncio.

Eu não posso negar, LA é uma cidade linda e com certeza eu amaria estar aqui em outras circunstâncias, apesar de ganhar um bom dinheiro com a autoria das músicas, eu ainda não estou fazendo o que eu quero.

Meu sonho é poder viver inteiramente do meu trabalho com a música. Uma pena que eu tive que desistir de tudo isso.

Não me levem a mal, tem momentos que nós aprendemos que nem tudo que sonhamos vai acontecer, ainda mais quando isso é um gatilho para nós.

Desde que minha mãe se foi eu sinto um vazio em mim, isso tem algum tempo já, mas quando meu pai me pediu para parar com o lance da música aquilo só ferrou comigo mais ainda. É o maior clichê, eu sei, mas todo mundo tem algum tipo de relação especial com a música, seja pra se expressar ou para se encontrar ou até uma maneira de transmitir o que sente através de acordes e letras. E bem, minha mãe também era cantora, era bem conhecida na cidade em que morávamos, foi com ela que eu aprendi minha primeiras notas e a como fazer um agudo decente. Tudo o que eu sei eu devo a ela. E depois que ela se foi, o único momento em que eu podia senti-lá perto de mim novamente era quando eu cantava. Todas as músicas que eu compus foi baseadas nos meus mais puros sentimentos, quanto eu tinha raiva eu escrevia, quando eu estava triste, eu escrevia e quando eu a perdi... Eu escrevi também.

Mas de repente meu pai implorou para que eu abandonasse a música, porque ele não aguentaria me perder, assim como aconteceu com a minha mãe. E sinceramente nem para mentir aquele velho serve.

Ele foi ausente em todo o tratamento da minha mãe, a traiu diversas vezes com mulheres mais novas, sabendo do estado dela. Mas mesmo assim ele pediu, e como uma idiota eu concordei, eu realmente achei que ele tinha mudado, mas foi questão de meses para eu perceber que ele ainda era o mesmo homem podre de sempre.
Até hoje eu assemelho a música com a morte da minha mãe, e por enquanto eu quero continuar não tendo nenhum contato, porém nas minhas últimas sessões de terapia (que eu comecei a uns dois anos) a minha psicóloga disse que eu estou quase pronta, e sinceramente eu não sei se posso acreditar nela.

— Eu vou buscar café ali. — Liam aponta para uma loja do Starbucks.

— Eu vou também, não tomei café da manhã. — digo e vou andando ao lado dele.

— Tá tudo bem? — Ele pergunta me olhando de canto de olho.

— Tá sim, por que? — arqueio uma sombrancelha.

— Você está me tratando que nem gente hoje, isso está meio estranho. — zombou segurando a risada.

— Eu posso voltar a te tratar mal se quiser. — digo entrando na loja.

— Não precisa, eu tô gostando assim.

— O que vão querer? — a atendente pergunta e fazemos nosso pedido.

Nos sentando em uma mesa com vista para rua e comemos em silêncio, um silêncio agradável.
LA é uma cidade extremamente movimentada, você vê todo tipo de pessoa pelas ruas, sem contar que de noite a vista é de tirar o fôlego. Quando estávamos saindo eu  quase sou atropelada por uma bicicleta na calçada, só não fui por que Liam me segurou pela cintura e puxou contra seu corpo.

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só pra questão de contexto, sim, o Dylan é  o msm de Memories. - marya

Minha doce melodiaOnde histórias criam vida. Descubra agora