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No dia seguinte, acordei sozinha, como deveria ser. A casa estava vazia e silenciosa, exatamente como eu achava que deveria ser, como eu tentava convencer a mim mesma que não me importava que fosse. Levantei-me, ainda sonolenta, e me dirigi até a mesa, onde a agenda que Thomas e Carl fizeram estava aberta.

18 de março. Dia de começar os preparativos para o casamento.

Um frio na barriga se instalou ao ler aquelas palavras. O que deveria ser um momento de celebração agora parecia mais um fardo do que qualquer outra coisa. Enquanto olhava para a lista de tarefas, uma onda de ansiedade tomou conta de mim. Planejar um casamento com alguém que eu mal conhecia e, pior ainda, com quem eu tinha um relacionamento tão tumultuado parecia um desafio insuperável.

As expressões confiantes e os sorrisos de Thomas e Carl ecoavam na minha mente, lembrando-me do entusiasmo deles. Eu não compartilhava desse entusiasmo. Na verdade, sentia uma pressão crescente em relação a tudo aquilo, como se estivesse presa em um roteiro que não escrevi, forçada a desempenhar um papel que não queria.

Respirei fundo, tentando afastar a sensação de sufocamento, mas a verdade era que cada tarefa na agenda parecia um lembrete constante da situação em que eu me encontrava. O casamento, o que eu achava que deveria ser um novo começo, se transformou em um emaranhado de emoções conflitantes e desgastantes. A realidade do meu "casamento" começava a se desenrolar, e eu me perguntava como seria possível encontrar algum tipo de felicidade nesse cenário.

O encontro com a organizadora seria aqui, na minha casa. Impressionante como Thomas e Carl conseguiam organizar as coisas com uma eficiência que me fazia questionar se eles não tinham nascido para isso. Cada detalhe estava planejado, cada passo do processo estava cuidadosamente anotado na agenda. Eles eram como uma força invisível movendo todas as engrenagens, enquanto eu... bom, eu só ia na onda.

Suspirei, sabendo que teria que me preparar para o dia. Depois do banho decidi vestir algo mais casual, mas sem parecer desleixada, afinal, mesmo que este casamento fosse uma farsa, havia uma parte de mim que odiava a ideia de parecer desinteressada ou despreparada. Olhando para o espelho, ajeitei o cabelo e me forcei a sorrir, mesmo que de maneira mínima. Não sabia ao certo se estava tentando convencer a mim mesma ou se estava apenas me preparando para mais um dia de encenação.

Quando desci para a sala, notei que tudo estava em ordem da noite passada. A casa impecável, um reflexo do controle e organização de Thomas e Carl. Pelo menos, isso me dava alguma tranquilidade.

— Senhora, bom dia. — A voz suave me chamou a atenção enquanto eu ainda tentava me ajustar ao novo dia.

Me virei para encarar Emily Ferrero, minha funcionária dedicada. Ela estava impecável como sempre, vestida de forma elegante, mas prática, com um semblante de profissionalismo.

— Bom dia, Emily — respondi, tentando parecer mais desperta do que realmente estava.

Ela me deu um pequeno sorriso, inclinando levemente a cabeça, como quem aguardava novas instruções.

— A organizadora de eventos deve chegar em breve. Precisa de algo antes que ela chegue? — Emily perguntou, sempre atenta aos detalhes, o que a tornava indispensável. Eu balancei a cabeça.

— Acho que está tudo certo. Só preciso de café... muito café. — Ela sorriu novamente, compreensiva.

— Vou providenciar imediatamente.

Emily era uma cubana de pele morena, com olhos castanhos calorosos e cabelos cacheados que caíam soltos até os ombros. Aos 40 anos, ela mantinha uma postura firme e segura, mas sempre trazia consigo um sorriso acolhedor. Apesar de nossa diferença de idade — eu sendo consideravelmente mais jovem —, ela insistia em me chamar de "senhora", o que às vezes me fazia sentir um pouco desconfortável.

Sem Querer, Casadas (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora