Capítulo 4: As Feiras não idas

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Já era início de fevereiro quando Amália se viu na necessidade de ter uma importante conversa com sua hóspede. Ao longo do mês passado, acreditava fielmente que não chegaria a esse ponto, porém, infelizmente, foi provada do contrário, além de ter fatos concretos para realçar o que estava acontecendo.

A questão era que Florência estava, literalmente, hospedada de graça em sua casa. Se fosse uma visita temporária, não haveria nenhum problema em mantê-la, mas a menina ficaria por um ano. Se nos primeiros meses, já estava assim, imagine nos finais?

Na verdade, não havia mais condições de Amália bancar todas as despesas de Florência. Comida, luz, água, roupas, entre outras, que eram simples e necessárias para qualquer pessoa. Estava começando a custar caro hospedá-la. E muito.

Quando Amália concordou com essa ideia, esperava, no mínimo, uma ajuda financeira dos pais da menina. O dinheiro que a própria Amália ganhava na feira vendendo seus produtos, muitas vezes, não era o suficiente nem para ela conseguir viver. Assim, constantemente, recorria ao seu pai para ajudá-la a bancar seus custos. Com mais uma boca para alimentar e, de certa forma, gastar itens essenciais de sua moradia, estava a afetando financeiramente.

Esse era um tópico delicado para se trazer à tona. Amália não podia chegar e falar que Florência estava custando caro. Necessitava de um contexto e um momento apropriado; enfatizar que a menina não era o problema e, sim, a falta dinheiro. Não queria fazê-la a vilã da história quando, realmente, era o capital. Teria que policiar suas palavras para não soar ofensiva. Não suportaria magoá-la assim. Florência era tão educada e comportada. Não seria justo causá-la algum tipo de sentimento negativo quando a culpa nem era dela.

Felizmente, Amália tinha pensado em um plano que necessitava da ajuda da outra. Se ela topasse, grande parte do problema seria facilmente resolvido. Não seria um pedido anormal ou difícil de se fazer. Pessoas na idade delas sabiam realizar esse tipo de tarefa sem preocupações. Florência, provavelmente, também estava inserida nesse meio.

Desse modo, em um almoço no qual era servido pão com vinagrete e salada de chuchu com ovo, Amália viu a oportunidade (e a urgência) de expressar seus pensamentos recentes:

— Flor — a menina a encarou com uma fatia de pão na mão. — Eu precisava conversar com você sobre uma coisinha... Não é nada demais, sério! Está tudo bem, quero dizer, não está tanto assim, já que tenho que falar com você. Mas não é algo grave, entende? Digo, tem como resolver, compreende?

— Amália, desembucha — Florência não tinha tamanha paciência para continuar a ouvir a outra falar em círculos e enrolar o que, de fato, tinha a dizer.

— Claro, desculpa. Estamos sem dinheiro. Bem, na verdade, eu estou. 

— Por minha causa?

— Não! Talvez sim. Mais ou menos! — ela respirou fundo para conter a ansiedade. — Quando assumi o compromisso de te hospedar, imaginava que seus pais, humildemente, te dariam algum pagamento para você se sustentar aqui. Não que eu esperasse ser paga como uma babá, mas que você fosse bancada por eles. Está acompanhando meu raciocínio?

— E como eu não estou sendo bancada, estou usando seu dinheiro — não era uma pergunta para confirmar essa hipótese, era uma afirmação.

Amália agradeceu a Deus que a menina era inteligente o suficiente para tirar essa conclusão correta.

— Exatamente. E ele não está durando muito. Sabe, meu pai me ajuda apagar as contas, porém tudo tem um limite. Não conseguiria pedir que ele pagasse mais do que já faz por mim.

— Então, quer que eu peça aos meus pais para pagarem meus gastos aqui?

Amália não havia pensado nessa ideia. Assim, passou uns três segundos para formular sua próxima fala com sua proposta.

Flor no BosqueOnde histórias criam vida. Descubra agora