Ir à igreja aos domingos era uma rotina para Amália. Todas as vezes, convidou Florência para ir junto, mas ela negava, alegando que missas não a agradavam e que preferiria fazer outra atividade nesse tempo. Entretanto, no quarto domingo que passava em Itulanhim, Florência conseguiu de ser convencida a fazer companhia para Amália com uma condição:
— Eu não vou entrar na igreja e nem participar da missa — anunciou a menina.
Logo de início, Amália garantiu que não havia problema nenhum nisso, principalmente porque essa não era intenção de Florência ao aceitar acompanhar a outra.
Florência só iria até a igreja ao lado de Amália para poder passear na cidadezinha. Queria explorar mais o lugar após ter concluído que não poderia ficar trancada na casinha laranja por quase um mês, mesmo saindo mentalmente através dos livros do Cafofo, já que não era esse o intuito de sua estadia. As observações de respirar ar fresco e ver novos ambientes do médico eram nítidas em sua memória. Precisava sair para testemunhar as ruas de terra e inspirar um pouco de poeira vermelha para mudar a rotina. Fazer uma caminhada de manhã, sem o sol estar forte, até a igreja, seria olhar novos arredores o suficiente por um tempo. Era uma ótima oportunidade para Amália a mostrar alguns pontos de Itulanhim no caminho, embora fosse de se esperar que uma cidadezinha tão pequena não tivesse tantos lugares de lazer ou estabelecimentos abertos de domingo cedo.
Além disso, a outra parte do acordo era levar Renda, a mini cabra de estimação da moça, para passear. O pelo era branco e as extremidades, pretas. Corria bastante (ou o máximo que suas curtas patas deixavam) e berrava feliz com frequência. Era como um cachorrinho que gritasse mais, gostasse de pular bastante e dar muitas cabeçadas nos móveis e nas pernas das pessoas. Era um bichinho energético e alegre. Ademais, Florência notou que, diversas vezes, sorria só de ver a cabrinha contente por nada em específico. Um serzinho agradável de se ter quando se costumava morar sozinha, como no caso de Amália. Iluminava o dia de qualquer um cumprimentar a cabra logo que se acordava.
Desse modo, às 09:30, estavam já de saída Amália, vestida mais modestamente do que de costume, Florência com seu típico colete e colar de pérolas e Renda, saltitante, presa a ela por uma coleira. Amália passou seu braço pelo de Florência para entrelaçá-los e fez a menina notar novamente a diferença de altura. Deixaram a casinha e partiram para seu destino.
Era uma manhã agradável. O sol não torrava o topo da cabeça delas e a temperatura era fresca. Não havia sinal de vento, o que, em certa parte, era bom, pois não levantava a poeira das ruas de terra.
Passaram por algumas casas e Amália ia apresentando os moradores e um breve histórico de suas vidas. Havia casinhas parecidas na arquitetura com a da moça, porém de outras cores, azul bebê, amarelo, cinza, rosa claro, verde musgo, entre outras. A última, agradou excepcionalmente Florência. Era sua cor favorita e, se pudesse, futuramente, pintaria sua casa desse jeito. Também estava feliz que não encontraram ninguém nas ruas do bairro. Não saberia como reagir a um vizinho aproximar e ter que ser apresentada a ele.
"Ah, Florência está morando comigo temporariamente porque é uma menina estressada em seu trabalho" — ela conseguia imaginar Amália dizendo isso por não haver melhores palavras para descrever sua situação.
Contudo, provavelmente, essa apresentação já deve ter acontecido. Amália ia muitas vezes visitar os vizinhos e levá-los comida. Impossível Florência não ter sido assunto uma vez sequer. Ainda mais em cidades pequenas, onde todos se conhecem e a fofoca vai longe...
Para espantar a vergonha que deve ter passado sem saber, Florência resolveu se distrair com a natureza. Havia árvores de copas cheias e algumas frutíferas, como coqueiro, mamoeiro e mangueira perdidos. Algumas flores enfeitavam tanto suas correspondes plantas quanto o chão. Uma parte estava agraciada com um tapete de florezinhas vermelhas e, um outro bloco, com flores brancas. Grande parte do caminho só havia folhas secas que estalavam conforme se andava por elas. Florência notou que Amália pisava de propósito para ouvir o agradável barulho, o que fez a menina sorrir vendo a satisfação da outra. Ela parecia mais uma criança que cresceu demais do que uma moça de quase vinte anos.
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Flor no Bosque
Fiction généraleFlorência Montagne, por recomendações médicas em questão a sua saúde afetada por estresse, muda-se para a cidadezinha (fictícia) de Itulanhim, localizada perto de um bosque. A moça passa, então, a morar com uma simpática jovem costureira, Amália Vog...